Pesquisador diz que lição de casa não cumpre função no aprendizado
Para o pesquisador da Universidade de Indiana, é preciso repensar a forma como os professores usam a tarefa
As atividades tradicionalmente repassadas a estudantes como tarefa extraclasse podem estar acabando com a função do dever em casa em si. Pesquisa publicada no final do ano passado pelo professor Adam Maltese, da Universidade de Indiana, que concluiu que o tempo dispensado com deveres de casa não influencia de forma substancial as notas dos alunos em matemática e ciências, chama professores e escolas dos Estados Unidos a repensarem a forma como usam a tarefa, mesmo sem apresentar conclusões definitivas.
O fato de a pesquisa baseada na análise de dados e entrevistas de 18 mil estudantes do ensino médio de todo o país revelar uma relação maior entre o tempo gasto em lição de casa e os resultados dos alunos em testes estandardizados, como o SAT, do que com a nota na escola comprova, segundo Maltese, que a maioria dos estudantes está apenas refazendo cálculos e memorizando conceitos em casa.
"Os professores estão repassando questões parecidas com as dos testes para os alunos fazerem em casa. Por isso, quando chega a hora das avaliações do governo, eles estão mais bem treinados", arrisca o pesquisador, que fez o estudo em conjunto com Robert H. Tai, da Universidade de Virgínia, e Xitao Fan, da Universidade de Macau. "Nossa suposição é que a vantagem obtida pelos estudantes não é de conteúdo aprendido, mas de experiência na resolução de questões."
Baseado na experiência que tem como professor e pesquisador do sistema de ensino público, ele propõe que os professores mudem as tarefas repassadas aos alunos para salvar o propósito do "dever de casa". Em matemática, por exemplo, em vez de repetir problemas que já viram em sala de aula, os alunos deveriam investigar novos tipos de problemas. Em ciências, poderiam escrever sobre novos conceitos e não apenas ler um novo capítulo e responder questões no final. "O tema de casa não pode ser uma repetição da aula. Os alunos devem ser estimulados a aplicar conceitos aprendidos e propor novas dúvidas", diz.
O estudo de Maltese, no entanto, não chegou a verificar a qualidade dos deveres de casa dos alunos investigados, somente o tempo gasto com eles. “Um estudo que investigasse o tempo e a qualidade das tarefas seria muito interessante”, admite. Por enquanto, parte das evidências da própria pesquisa para provocar o debate. Aos que defendem que o tema de casa serve para estimular a memória, diz que o aprendizado deveria ser mais importante.
Para o professor, ir bem num teste não tem muita relação com aprendizado, embora possa significar que os alunos estejam memorizando bem. "As notas que os alunos obtêm na escola se referem a vários fatores, como participação e esforço. São notas que realmente importam, enquanto os resultados de testes não avaliam o que deveriam, são apenas parte de um estudo conduzido pelo governo", diz.
Os dados do estudo foram coletados em 1990 e 2002 e embora já pudessem retratar uma realidade antiga estão sendo encarados como retrato atual. Segundo Maltese, quase nada mudou entre uma década e outra, o que leva à conclusão que as escolas não estão se questionando e mudando práticas. Maltese teme, até, que a ênfase em repetição de questões esteja mais forte nos últimos anos, uma vez que os testes estandardizados estão cada vez mais populares nos Estados Unidos.