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Homem que viveu nas ruas é aprovado em universidade e sonha atuar com Lázaro Ramos

Tiago dos Santos, de 40 anos, está cursando Teatro na Uneb, depois de fazer um curso pré-vestibular voltado às pessoas em situação de rua

8 abr 2024 - 05h00
(atualizado em 15/4/2024 às 13h57)
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Tiago agora mora na residência estudantil da Uneb, no campus de Senhor do Bonfim
Tiago agora mora na residência estudantil da Uneb, no campus de Senhor do Bonfim
Foto: Arquivo Pessoal

A história de vida de Tiago Juvenal dos Santos é, definitivamente, digna de livro. A sinopse poderia ser assim: um menino órfão cresce entre um lar e outro em pequenas cidades do Espírito Santo, até que, aos 18 anos, tem que tomar seu próprio rumo.

Sem casa ou vínculos familiares, ele passa a viver viajando por diferentes estados brasileiros. Mas, aos 40 anos, Tiago vive uma reviravolta que vai mudar o rumo de sua trajetória: ele é aprovado em uma universidade pública, aceito em uma residência estudantil e se sente acolhido pela primeira vez, depois de muito tempo.

Os capítulos seguintes dessa história ainda estão por vir. A depender de Tiago, serão ainda mais emocionantes. Depois de viver na rua e começar neste ano o curso de Teatro na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), ele sonha ainda mais alto.

"Quero dar um abraço no Lázaro Ramos e falar: 'Quero contracenar com você'. O meu objetivo é televisão. Eu tô aqui estudando para isso", conta, com um sorriso no rosto.

Estudando para ser ator, Tiago Juvenal fez um ensaio fotográfico
Estudando para ser ator, Tiago Juvenal fez um ensaio fotográfico
Foto: Arquivo Pessoal

O começo

Nascido no Rio de Janeiro, Tiago Juvenal se mudou ainda criança para o Espírito Santo. Já no estado, aos 6 anos ele teve que se separar da mãe, que não tinha condições psicológicas nem financeiras para cuidar de uma criança.

Do pai, ele também não tem nenhuma informação, mas se recorda de seus irmãos, que viu pela última vez quando tinha 9 anos. Criados por outro pai, eles viviam em melhor condição do que Tiago, que hoje diz não desejar retomar o contato.

"Como que eu vou sentir falta de uma coisa que eu nunca tive?", reflete.

Sozinho, ganhou o mundo - ou, mais precisamente, o Brasil. Passou por várias cidades do Espírito Santo, depois Rio de Janeiro e morou seis anos em São Paulo, até que decidiu viajar para Salvador há pouco menos de um ano. "Nisso daí eu vim lutando, eu vim sobrevivendo", resume.

Na capital baiana, Tiago passou por dois abrigos para pessoas em situação de rua. Em um deles, soube de um curso pré-vestibular destinado à população desassistida e viu ali a chance da sua vida. Ele foi um dos participantes da primeira edição do programa Universidade Para Todos Pop Rua, e o único a ser aprovado na universidade este ano.

Tiago fez parte da primeira edição do programa Universidade Para Todos voltado para população de rua
Tiago fez parte da primeira edição do programa Universidade Para Todos voltado para população de rua
Foto: Arquivo Pessoal

História para inspirar

Apesar de ter sido o único, Tiago Juvenal não gosta de se ver como uma exceção. Pelo contrário, ele quer ser a regra.

"O meu objetivo é plantar essa semente no coração de cada um, porque não importa a idade, não importa a condição. A idade eu tenho, que eu tô com 40 anos. Não importa a raça, porque eu sou negro. Não importa a orientação sexual, porque eu sou gay. Não importa que você não é uma pessoa de classe alta, porque eu sou pobre. Mas eu estou aqui, aprovado na Uneb, tendo essa oportunidade de fazer um curso superior."

O cursinho pré-vestibular foi como uma chance para Tiago continuar de onde parou, já que ele chegou a concluir o ensino médio no tempo regular, ainda adolescente. Nas aulas do preparatório, o estudante era um dos que mais fazia perguntas e o que nunca faltava.

"Eu batia as matérias de química, biologia, peguei para estudar, levei a sério mesmo", relembra.

Depois que as aulas na universidade começaram, a dedicação permanece a mesma. Afinal de contas, para ele, a universidade tem um significado maior do que para a maioria dos estudantes: estar na instituição de ensino é uma garantia de ter um teto sobre a cabeça, uma cama para dormir, um ventilador no quarto e até mesmo um micro-ondas na cozinha compartilhada com outros estudantes.

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"Hoje, eu estou sendo muito bem cuidado. Já peguei uns quilinhos, porque eu estava bem magrinho. Então, acaba que a minha qualidade de vida hoje melhorou muito", diz.

Se a sua vida fosse um livro, certamente Tiago preencheria as primeiras páginas com dezenas de agradecimentos. Ele frisa a importância dos professores do UPT Pop Rua, das assistentes que o indicaram para ele pré-vestibular, dos integrantes do Movimento Pop Rua de Salvador…

"Histórias importam, palavras importam, e é só a gente querer", acrescenta.

Fonte: Redação Terra
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