Agenda da Amazônia e a gestão dos ativos ambientais brasileiros
Em meio à crise internacional gerada pelo desmatamento e queimadas na Amazônia, Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo ensaiam diálogos com os Estados Unidos e Alemanha.
O tema é complexo e, além da política, envolve soberania e gestão de ativos ambientais. Especialista na área, o empresário Yuri Rugai Marinho, fundador do maior banco de áreas verdes do mundo, destaca algumas informações para a agenda da Amazônia.
Por que as queimadas e desmatamentos na Amazônia tomaram repercussão mundial?
Essa problemática da Amazônia não é novidade e não é restrita ao Brasil. Países com floresta amazônica ou qualquer outro tipo de floresta, tradicionalmente, retiram os recursos madeireiros para exploração ou, simplesmente, queimam a floresta para o uso da área no agronegócio.
Há décadas, os índices de desmatamento no Brasil são altos e alarmantes.
Existe condição para este cenário mudar?
Existe. Em primeiro lugar, precisamos pensar que a manutenção da floresta em pé precisa ser economicamente viável. A ciência mundial já identificou, desde o século XIX, que apenas a fiscalização e o sistema punitivo não são suficientes para frear os movimentos legais e ilegais de desmate.
É preciso reconhecer que a floresta em pé presta um serviço ambiental ao mundo e que esse serviço precisa ser remunerado.
O senhor quer dizer que nós precisamos pagar para a preservação?
Sim. Qualquer serviço tem esse caráter bilateral: uma parte presta e a outra remunera. No caso de florestas, há um proprietário ou posseiro que tem custos (inclusive de oportunidade) para manter aquilo preservado. Esse proprietário, que pode ser até o governo, está oferecendo biodiversidade, disponibilidade hídrica, mitigação do clima, dentre outros serviços. Mas, hoje, ninguém está pagando. Por isso, muitas vezes, se opta pelo desmate, que tem amparo na lei, inclusive.
O pagamento pela preservação é do brasileiro ou do mundo todo?
Essa é uma discussão relevante e, acredito, não tem resposta. Vale ressaltar que os benefícios da Amazônia valem para todo o planeta.
O que Eduardo Bolsonaro deve considerar na condição de representante do Brasil nos Estados Unidos?
Acredito que ele deva reforçar o quanto o Brasil contribui para o planeta, o quanto aprendeu nas últimas décadas e o quanto pode melhorar. Nós falhamos em segurar as queimadas e desmates ilegais, mas precisamos de apoio para isso.
Não se trata de uma questão da gestão atual. É uma questão apartidária e atemporal.
Qual o impacto de Jair Bolsonaro para as discussões ambientais?
O presidente costuma associar as discussões ambientais à esquerda e às atividades oportunistas de algumas ONGs. Mas, não é um tema da esquerda. As questões ambientais são apartidárias.
Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, após diversas discussões no âmbito da Organização das Nações Unidas, publicou um relatório que deu origem ao termo desenvolvimento sustentável. Para os especialistas mundiais, o mundo só poderia seguir se desenvolvendo se atendesse três pilares: ambiental, econômico e social.
Ou seja, o mundo entendeu que o meio ambiente precisa estar lado a lado com os negócios e com a sociedade.
O mundo caminha para a sustentabilidade?
Há inúmeros indícios que sim. Infelizmente, a regra geral é o que se chama de "business as usual". Ou seja, fazer como sempre foi feito. Mas, há países, inclusive o Brasil, em que a preocupação ambiental gerou demanda e oferta de produtos e serviços sustentáveis.
Há muitos avanços a serem feitos, principalmente quanto à tecnologia e à redução de preços, mas entendo que a sustentabilidade é a única opção para que a vida humana no planeta continue viável.