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Política

O desafio do general Luiz Ramos e a mudança de rumo na Secom

Militar assume Secretaria de Governo no lugar de Santos Cruz, alvo de críticas por limitar verbas para publicidade de ações do governo

15 jun 2019 - 05h10
(atualizado às 15h01)
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BRASÍLIA - A entrada do general Luiz Eduardo Ramos Pereira no comando da Secretaria de Governo pode significar uma mudança de rumo na comunicação da gestão de Jair Bolsonaro. Seu antecessor, Carlos Alberto dos Santos Cruz, caiu, entre outros motivos, por ser contrário à liberação de verbas para publicidade das ações do governo e de um maior contato do presidente com a imprensa. O desafio do general Ramos é justamente não cometer os mesmos "erros". Ao Estado, ele afirmou que não será "um general da ativa no governo."

General Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, novo ministro da Secretaria de Governo
General Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, novo ministro da Secretaria de Governo
Foto: WERTHER SANTANA / Estadão

O general sinaliza que não tem as mesmas resistências de Santos Cruz. Ainda cauteloso, afirmou ao Estado considerar o relacionamento da imprensa com o presidente "fundamental". "Vamos defender o estado democrático e os valores. Eu sou muito do meio", disse. "Se chover muito é ruim, mas se não chover, seca. A natureza é assim. Eu tento seguir a natureza", afirmou, em relação às verbas publicitárias.

As mudanças na comunicação não devem se resumir à troca do ministro. O Estado apurou que o general terá a missão de resolver um impasse na estrutura da área. Atualmente, o relacionamento com a imprensa é feito tanto pela Secretaria de Comunicação (Secom), comandada por Fábio Wajngarten, quanto pelo porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros. Este último responsável por repassar diariamente aos jornalistas as opiniões do presidente. Ambos serão chefiados por Ramos.

A relação entre Rêgo Barros e Wajngarten não é "harmoniosa". O porta-voz, que integra a ala militar do governo, é afinado com o agora ex-ministro Santos Cruz. Ele assumiu várias funções que seriam do chefe da Secom devido a um vácuo que existia antes da chegada de Wajngarten, a ponto de organizar cafés da manhã de jornalistas com o presidente, o que está longe de ser uma função clássica de um porta-voz. Desde que chegou, a equipe de Wajngarten tenta retomar esse papel.

Para evitar a sobreposição de funções, o governo estuda uma nova estrutura que transfere a comunicação para a Secretaria-Geral da Presidência, hoje comandada pelo general Floriano Peixoto, também militar. Se aprovada, a mudança pode prever também a saída do ministro Peixoto do posto. Entre os cotados para substituí-lo estaria o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho.

O estilo de Santos Cruz fez com que Bolsonaro ficasse "enclausurado" no Palácio do Planalto, o que afetou sua popularidade, no entendimento de Wajngarten. No comando da Secom, mesmo contrariando seu então chefe, Santos Cruz, o secretário promoveu a participação do presidente em programas populares no SBT e a entrevista para a revista Veja, a primeira desde que assumiu o mandato.

Também foi Wajngarten quem aconselhou o presidente a voltar a ser o Bolsonaro "intuitivo" para reconquistar popularidade. Os conselhos levaram o presidente a dar "escapadas" recentes, como quando caminhou a pé do Palácio da Alvorada até o Congresso e a pilotar uma moto no Guarujá, no litoral de São Paulo, no feriado de Páscoa.

A briga na comunicação reflete uma disputa que atinge outras áreas do governo. De um lado estão os ideólogos, liderados pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, e o escritor Olavo de Carvalho. Os dois atacaram fortemente Santos Cruz, da ala militar, por "esconder" o presidente. Embora Wajngarten negue ser ligado à ala ideológica, eles concordam neste ponto.

Já Rêgo Barros, antes de assumir o posto foi assessor do ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, um dos poucos militares no Palácio do Planalto a rebater publicamente os ataques de Olavo. Na ocasião, referiu-se ao guru do bolsonarismo como "Trotski de direita".

O presidente já disse em mais de uma oportunidade que deve a Carlos, o filho "02", a vencedora estratégia de comunicação que o levou à Presidência.

Estadão
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