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Política

Ronnie Lessa diz à PF que ia lucrar R$ 100 milhões com a morte de Marielle: 'Era muito dinheiro'

Execução de Marielle Franco renderia ao ex-PM um terreno irregular na zona oeste do Rio; empreitada estava avaliada em 'mais de US$ 20 milhões', mas vereadora era 'pedra no caminho', conforme depoimento de Ronnie Lessa

26 mai 2024 - 23h47
(atualizado em 27/5/2024 às 15h41)
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BRASÍLIA - O ex-policial militar Ronnie Lessa disse em delação à Polícia Federal (PF) que a execução da vereadora Marielle Franco renderia a ele um loteamento irregular na zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo Lessa, a exploração de atividades criminosas no local, como "gatonet" e transporte clandestino, poderia render mais de US$ 20 milhões (R$ 100 milhões). "Era muito dinheiro envolvido", afirmou o ex-policial. "R$ 100 milhões seria o lucro do loteamento. São 500 lotes de cada lado. Na época, daria mais de US$ 20 milhões", afirmou.

Trechos da gravação da delação premiada de Lessa foram exibidos neste domingo, 26, pelo Fantástico, da TV Globo. No vídeo, o ex-policial afirma que o valor oferecido modificou o patamar do crime. "Eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade", afirmou o executor confesso da vereadora.

Ronnie Lessa atribuiu aos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão a ordem para executar Marielle Franco. Segundo o ex-policial militar, os irmãos Brazão colocaram Marielle Franco como uma "pedra no caminho" à expansão de negócios dos milicianos.

"A Marielle foi colocada como uma pedra no caminho. Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia", afirmou Lessa. "Então, foi isso que o Domingos (Brazão) passou para a gente, assim, de uma forma rápida: 'A Marielle vai atrapalhar e nós vamos seguir isso aí, para isso ela tem que sair do caminho'."

O ex-PM está preso desde março de 2019, sob a acusação de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, executados em março de 2018. Em delação, homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Lessa afirmou que o mandante do assassinato buscava a regularização de um condomínio na região de Jacarepaguá sem respeitar o critério de área de interesse social. O objetivo seria obter o título de propriedade para especulação imobiliária.

Segundo Lessa, as atividades criminosas no loteamento irregular poderiam render, além dos lucros, dividendos políticos. "Ali teria a exploração de gatonet, de kombis, de venda de gás. A questão valiosa é depois, a manutenção da milícia, porque a manutenção da milícia vai trazer votos", disse o ex-PM no vídeo.

Reuniões com os irmãos Brazão

Ronnie Lessa contou também que teve três reuniões com Chiquinho e Domingos Brazão para planejar o assassinato de Marielle Franco. A Polícia Federal não conseguiu confirmar os encontros, que teriam ocorrido em 2018.

Chiquinho Brazão é deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro, e Domingos Brazão é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Eles foram presos em março deste ano na Operação Murder Inc., da PF. Já no último dia 10 de maio a Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia contra os irmãos Brazão pelos crimes de homicídio e organização criminosa. "O Domingos fala mais, e o Chiquinho concorda", disse o ex-policial militar aos investigadores. Os dois negam envolvimento com o crime.

No último dia 16, o procurador-geral Paulo Gonet enviou ao STF um adendo à denúncia sobre o assassinato. Na petição, o chefe do Ministério Público Federal pede que a Justiça defina um valor de indenização para os familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Veja quem foi denunciado

  • Chiquinho e Domingos Brazão: apontados como mandantes do crime e denunciados por organização criminosa, pelo homicídio de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes e pela tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves;
  • Rivaldo Barbosa: acusado de usar o cargo para obstruir as investigações, o delegado de Polícia Civil foi denunciado por homicídio e tentativa de homicídio;
  • Ronald Paulo de Alves Pereira: o policial militar ajudou a monitorar a vereadora antes da execução e também foi denunciado por homicídio e tentativa de homicídio;
  • Robson Calixto da Fonseca: organização criminosa.
Estadão
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