PUBLICIDADE

Política

Explicações sobre "bate-cabeça" e crítica à Lava Jato: a aproximação de empresários e governo Lula

Geraldo Alckmin e outros nomes da transição reuniram-se com a classe empresarial em hotel no Guarujá

26 nov 2022 - 20h24
(atualizado às 21h10)
Compartilhar
Exibir comentários

Um hotel cinco estrelas na beira da praia do Guarujá foi o cenário para o encontro de diversos nomes da transição do governo eleito, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com a classe empresarial. Durante dois dias, entre pausas regadas a vinho e uísque 18 anos, os aliados de Lula tentaram justificar a cacofonia de vozes divergentes no grupo, enquanto empresários e executivos buscavam mais proximidade com nomes cotados para ocupar cadeiras na Esplanada dos Ministérios.

Aliado fiel de Geraldo Alckmin e um dos coordenadores da equipe de transição, Floriano Pesaro usou termos do mundo empresarial para tentar explicar aos presentes as dificuldades enfrentadas em Brasília: "Estamos trocando o CEO desta empresa chamada Brasil".

Emídio de Souza (PT-SP), deputado estadual eleito e amigo de Lula, emendou: "O Floriano falou que é uma empresa constituída para funcionar 50 dias, o problema é que uma empresa, até funcionar redonda, demora um bocado". Os ruídos entre as diferentes alas da transição de governo, e mesmo dentro do PT, têm atrapalhado a articulação política da PEC da Transição.

A ideia na transição, disse Emídio, é fazer o diagnóstico do governo e traçar o plano para os primeiros cem dias de 2023. "Não é uma babel, é a frente que o Brasil precisa neste momento", afirmou o petista, pouco depois de dizer que nunca tinha imaginado que trabalharia sob a batuta de Alckmin, ex-tucano.

Para evitar o que aconteceu em Nova York, quando ministros do STF foram hostilizados por bolsonaristas, a calçada da frente do hotel Casa Grande foi bloqueada e protegida por grades de metal e seguranças. Do lado de fora, não se via nada. Do lado de dentro, políticos, executivos e ministros conversavam na varanda do local entre baforadas de charuto no coquetel que antecedeu um show privado da banda Titãs.

A escalação dos influentes no novo governo que passaram pelo Guarujá incluiu o economista Gabriel Galípolo, abordado nos corredores por convidados que queriam saber suas apostas para a equipe econômica. Também estavam presentes o médico Roberto Kalil, estrela dos pedidos de selfies, os advogados Marco Aurélio Carvalho, Cristiano Zanin e Pierpaolo Bottini, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), aliado de Lula. Dividiram os corredores com ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e com Gilberto Kassab (PSD).

Geraldo Alckmin reuniu-se com advogado Nelson Williams, Gilberto Kassab e deputado estadual Emídio de Souza durante o encontro no Guarujá.
Geraldo Alckmin reuniu-se com advogado Nelson Williams, Gilberto Kassab e deputado estadual Emídio de Souza durante o encontro no Guarujá.
Foto: Beatriz Bulla/Estadão / Estadão

Organizado pelo Esfera Brasil, think tank fundado pelo empresário João Camargo e atualmente comandado por sua filha, Camila, o evento mostrou a virada no posicionamento de parte da classe empresarial após a vitória de Lula. Considerado mais alinhado com o presidente Jair Bolsonaro (PL), Camargo pediu, no palco, que empresários se juntassem a ele para aplaudir os representantes do governo Lula, quando eles participarem dos eventos do Esfera. "A eleição foi democrática, ganhou honestamente, nós temos de apoiar", disse.

O novo momento da política nacional permitiu a realização de uma conferência na qual as críticas à Operação Lava Jato dominaram o debate e houve discussão sobre a quarentena para juízes que deixam a toga e querem se tornar políticos. Marco Aurélio Carvalho, integrante da transição, falou no palco sobre a possível prisão de Bolsonaro. "Espero que ele responda pelos crimes que cometeu, mas sem nenhum tipo de revanchismo ou vingança", disse.

Coube ao ministro do STF Luís Roberto Barroso levantar um óbice ao tom crítico do painel à operação. Depois de ouvir de Zanin, que defendeu Lula na Lava Jato, que a investigação tornou o sistema jurídico brasileiro instável e imprevisível, o ministro rebateu: "Não há segurança jurídica num quadro de corrupção sistêmica e institucionalizada. Precisamos enfrentar a naturalização das coisas erradas que havia no Brasil".

Outro ministro do STF presente, Ricardo Lewandowski chamou a atenção pelo tom político de seu discurso e por uma longa reunião reservada com Alckmin. No pronunciamento público, o ministro defendeu a pacificação do País e se mostrou afinado com os principais pontos dos discursos de Lula. Antes, passou quase 40 minutos reunido com Alckmin. O vice, o nome mais aguardado do evento, quase faltou. A decisão de não desistir da viagem ao Guarujá atendeu a um apelo de Lula.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade