PUBLICIDADE

Casamento gay e outros direitos estão em risco após medida sobre aborto na Suprema Corte dos EUA

Documento proíbe abortos após 15 semanas de gravidez e anularia a decisão de 1973 Roe vs. Wade, que legalizou o procedimento em todo o país

4 mai 2022 - 10h13
(atualizado em 18/5/2022 às 19h05)
Compartilhar
Exibir comentários
Tribunal confirmou a autenticidade do rascunho vazado, mas o chamou de preliminar
Tribunal confirmou a autenticidade do rascunho vazado, mas o chamou de preliminar
Foto: iStock

O rascunho do parecer do juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos Samuel Alito que acabaria com o reconhecimento do direito constitucional ao aborto pode colocar em risco outras liberdades relacionadas ao casamento, sexualidade e vida familiar, incluindo controle de natalidade e casamento entre pessoas do mesmo sexo, segundo especialistas jurídicos.

O documento, divulgado em um vazamento que levou o presidente da corte, John Roberts, a iniciar na terça-feira uma investigação, manteria uma lei do Mississippi que proíbe abortos após 15 semanas de gravidez e anularia a decisão de 1973 Roe vs. Wade que legalizou o procedimento em todo o país.

O raciocínio legal do rascunho, se adotado pelo tribunal quando for emitida sua decisão até o final de junho, pode ameaçar outros direitos que os norte-americanos consideram garantidos em suas vidas pessoais, de acordo com a professora de direito da Universidade do Texas Elizabeth Sepper, especialista em saúde e religião.

"O alvo mais fácil é a contracepção, provavelmente começando com a contracepção de emergência, e o casamento entre pessoas do mesmo sexo também é um alvo fácil, pois foi recentemente reconhecido pela Suprema Corte", disse Sepper.

A maioria conservadora de 6 a 3 da corte, incluindo Alito, tornou-se cada vez mais assertiva em uma série de questões. O tribunal confirmou a autenticidade do rascunho vazado, mas o chamou de preliminar.

A decisão Roe, uma das mais importantes e contenciosas do tribunal no século 20, reconheceu que o direito à privacidade pessoal sob a Constituição dos EUA protege a decisão da mulher de interromper sua gravidez.

"Roe estava flagrantemente errado desde o início. Seu raciocínio foi excepcionalmente frágil, e a decisão teve consequências prejudiciais", escreveu Alito no rascunho, acrescentando que Roe e uma decisão de 1992 que a reafirmou apenas "aprofundaram a divisão" na sociedade.

De acordo com Alito, o direito ao aborto reconhecido em Roe precisa ser derrubado porque não é válido sob o direito ao devido processo legal da 14ª Emenda da Constituição.

O aborto está entre uma série de direitos fundamentais que o tribunal ao longo de muitas décadas reconheceu, pelo menos em parte, como as chamadas liberdades processuais "substantivas", incluindo a contracepção em 1965, o casamento interracial em 1967 e o casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2015.

"PROGRESSO SOCIAL"

Assim como o aborto, outros direitos pessoais, incluindo contracepção e casamento entre pessoas do mesmo sexo, podem ser considerados por juízes conservadores como fora da estrutura envolvendo direitos "profundamente enraizados" na história norte-americana, de acordo com especialistas.

"Isso foi considerado progresso social - estávamos mudando como sociedade e coisas diferentes se tornaram importantes e se tornaram parte do que se prezava", disse Carol Sanger, especialista em direitos reprodutivos da Columbia Law School.

No rascunho, Alito buscou distinguir o aborto de outros direitos porque, ao contrário dos outros, destrói o que a decisão Roe chamou de "vida potencial".

"Nada neste parecer deve ser entendido para lançar dúvidas sobre precedentes que não dizem respeito ao aborto", escreveu Alito.

Sepper disse que Alito "não é particularmente convincente porque ele não faz o trabalho de distinguir esses casos de maneira significativa". Ela acrescentou: "É um parecer realmente abrangente."

Reuters Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.
Compartilhar
Publicidade
Publicidade