Os ventos de outono sopraram calidamente e, para surpresa de todos,
trouxeram cartões de cores berrantes, vermelhas e amarelas para decidir o
Torneio Rio-São Paulo. Grande besteira! Gesto impensado, cuja
responsabilidade tem que ser dividida entre o todo-poderoso presidente Farah
e os omissos dirigentes de São Paulo, Corinthians, Palmeiras e São Caetano.
Até os jogadores perceberam a incômoda situação. Quando perguntados,
respondem que todos concordaram com o regulamento. Agora, só resta cumpri-lo.
Quando os presidentes tiveram a preciosa chance de mudar tudo, deixaram a
sala da Federação Paulista submissos e obedientes.
Ontem tive a oportunidade de conversar com o David, com Rubens Cardoso, com o Alexandre e com o Jean. Todos sofreram a angústia dos cartões na rodada inicial da fase semifinal.
Para o segundo e decisivo jogo, a situação piora. Mas todos os jogadores
deixaram bem claro que vão fazer as faltas necessárias, e o resto que se
dane. Claro, falar é uma coisa, fazer é outra.
Imagine um jogo empatado, faltando cinco minutos para o final, o atacante dispara, o beque se prepara, toma um drible, faz a falta, recebe o cartão e perde o campeonato. E daí, quem é o responsável? Cartão está valendo mais que pênalti, porque, nesse caso, o goleiro ainda pode defender, mas o cartão é indefensável, é um julgamento definitivo, uma punição monstruosa.
Dirão, alguns, que esse regulamento ajuda a disciplina. Ajudaria, se o critério valesse para todo o Torneio. Todo mundo sabendo claramente as regras. O problema se torna ainda mais doloroso quando se recorda que o cartão amarelo foi criado para solucionar um problema de comunicação nos jogos internacionais. Quando juiz e jogador falavam idiomas diferentes, o cartão era mostrado para que o infrator e todos soubessem que o atleta estava advertido.
Agora que estamos em casa, falando a mesma língua, surge como arma mortal o cartão amarelo. Não seria necessário, a não ser que estejamos todos vivendo nessa imensa torre de babel em que se transformou o futebol brasileiro.