Uma equipe jovem, com menos de quatro anos de vida, é a grande sensação do Campeonato Nacional masculino. O Uberlândia ocupa a vice-liderança, um jogo e dois pontos a menos que o Vasco, e faz uma campanha impressionante: já são 10 vitórias consecutivas, e foi o único time capaz de derrotar o atual líder da competição. Qual o segredo desta força do Triângulo Mineiro?
Time e comissão técnica experientes formam a base do sucesso dos
mineiros. O Uberlândia conta com jogadores como o pivô Vargas, que dispensa comentários, e o ala Márcio, uma das últimas grandes revelações de Franca.
Sem contar, claro, com sua principal arma: o armador Valtinho, o melhor do país na posição desde a fase áurea de Maury. E isso já faz muito tempo...
Para comandar essa turma, o Uberlândia conta com uma espécie de sexto jogador. É assim que pode ser chamado o técnico Marco Antônio Aga. À beira da quadra, só lhe resta vestir a camiseta. Ele, literalmente, joga junto com o time: vibra, esbraveja, canta jogadas, sofre e comemora junto com a torcida. Poucos treinadores no país têm tanta energia no banco de reservas.
Por se tratar de um ex-armador, Aga tem um trunfo importante. Afinal, ele tem em mãos um armador excepcional, que faz a diferença dentro da quadra. O talento de Valtinho e a cabeça de Aga ajudam a explicar boa parte da campanha atual da equipe.
Ainda no staff, o Uberlândia tem um mito, nomeado com o título de
diretor esportivo: Ary Vidal. O veterano treinador, que anos atrás sofreu com problemas médicos, está em Uberlândia desde a criação da equipe, em agosto de 1998, segundo relata o site oficial do patrocinador, a Unit, o Centro Universitário do Triângulo (www.unitmg.com.br).
Ary Vidal, o técnico da histórica conquista do Pan-Americano de
Indianápolis, em 1987, é um defensor do basquete ofensivo. Pode-se dizer que se trata do oposto de Hélio Rubens, este um histórico pregador dos sistemas de defesa no basquete brasileiro. Então, seria fácil encontrar mais uma dica para explicar a fase do Uberlândia: uma máquina de fazer cestas, certo? Errado.
Apesar da vice-liderança no Nacional, o time mineiro está longe de ser o maior pontuador. Entre as equipes que estão com 11 jogos disputados, o Uberlândia é apenas o quinto na lista. Perde até mesmo para o Universo/Ajax, penúltimo colocado na classificação. Ou seja, o ataque não é o grande trunfo.
Num time sob a supervisão de Ary Vidal, aparece a grande surpresa: o
Uberlândia tem a segunda melhor defesa da competição. Com 900 pontos
sofridos em 11 jogos, só perde para o Vasco de Hélio Rubens, com 923 pontos em 12 partidas. Nesse ponto, os méritos são todos para Aga.
Assim, pode-se, a grosso modo, estabelecer que o Uberlândia tem uma
defesa primorosa e um ataque eficiente, apesar de não ser brilhante. Essa definição se encaixa bem na vitória da equipe sobre o líder Vasco: 83 a 78. Os cariocas ficaram 12 pontos abaixo de sua média, de 90,5 por partida.
A única derrota sofrida pelo Uberlândia foi logo na primeira rodada.
Uma grande surpresa, jogando em casa, diante do Fluminense, 84 a 89. Depois, foram só vitórias.
O sucesso do Uberlândia também não é repentino. A equipe disputou os
últimos três Nacionais: em 99, ficou na 9ª posição; em 2000, conseguiu sua melhor colocação, o 3º lugar; e no ano passado também brigou nos playoffs, terminando em 5º. Além de um tricampeonato estadual, de 98 a 2000.
Amparado pelo Uberlândia Tênis Clube, o time é mais um que conta com
o apoio de verbas universitárias, uma tendência que tem surgido no basquete brasileiro há pouco tempo. Muitos treinadores, como José Medalha, acreditam ser este o futuro do esporte no país. O que não é o caso deste Uberlândia, que trouxe os melhores jogadores de fora. Uma situação ainda distante do sonho de formar grandes jogadores na universidade, como acontece nos EUA.
Mas mesmo apenas com o patrocínio acadêmico, o Uberlândia não perde
seu brilho. Pelo contrário: os resultados revelam que o trabalho é digno de um dos principais times do país, e grande candidato ao título da temporada.
Fernando Santos