Rio - Os deputados da CPI da Câmara, que
investiga supostas irregularidades no futebol brasileiro, estão desconfiados
de que existe um esquema para sonegação de impostos nas negociações
envolvendo jogadores brasileiros com a participação dos clubes uruguaios
Rentistas e Central Espanhol. Os parlamentares não ficaram satisfeitos com o
depoimento do empresário Juan Figer, que esclareceu muito pouco sobre o
assunto.
A Associação de Agentes de Futebol atrapalhou o trabalho dos
deputados, pois conseguiu uma liminar que impediu que perguntas fossem
feitas baseadas nos dados colhidos com a quebra dos sigilos bancário, fiscal
e telefônico do empresário. Segundo a Agência Câmara, a CPI vem trabalhando
no sentido de cassar esta liminar no Superior Tribunal Federal (STF).
Durante o depoimento, Figer negou qualquer envolvimento com a venda
de menores de idade para o futebol do exterior ou com a emissão de
passaportes falsificados.
Mas não é só Figer quem será investigado pela CPI. Os parlamentares
estão desconfiados de que o Atlético Paranaense tem uma ligação com estes
clubes uruguaios. Existem suspeitas de que o clube paranaense compre
jogadores ainda desconhecidos a preços baixos e venda 50% dos direitos
financeiros destes atletas aos clubes uruguaios. Quando o jogador fica
valorizado e é vendido, Atlético e os clubes do Uruguai dividem o dinheiro
arrecadado com a transação. Para efeito de imposto de renda, apenas é
recolhido o valor que fica no Brasil.
Para os deputados, Figer também tem participação neste esquema. Os
parlamentares acreditam que o empresário seja dono desses clubes uruguaios e
que o dinheiro que fica no Uruguai, neste tipo de negociação com o Atlético,
acaba voltando para o Brasil sem ser registrado. Figer entregou à CPI
documentos contendo informações sobre os clubes uruguaios.
A opinião dos deputados sobre o depoimento de Figer é a pior
possível. Para Eduardo Campos (PSB-PE), os clubes uruguaios são usados como
entrepostos para a venda de atletas brasileiros para o futebol europeu. Já
Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da Comissão, Silvio Torres (PSDB-SP),
relator, e Geraldo Magela (PT-DF), acreditam que o depoimento de Figer foi
contraditório e insuficiente. Para Jurandil Juarez (PMDB-AP) existe um
esquema de valorização dos passes de jogadores por intermédio de suas
convocações para a Seleção Brasileira.
Com a entrada em vigor da Lei Pelé, os deputados temem que os casos
de evasão de divisas do país possam aumentar. Luciano Bivar (PSL-PE) lembrou
que se o passe vai acabar no Brasil, será mantido no Uruguai. Para ele, isso
pode fazer com que os clubes brasileiros prefiram fazer negócios via
Uruguai.