Rio - O catastrófico efeito dominó ocorrido no Estádio de São Januário, além de ferir e deixar marcas na memória dos torcedores, põe em transparência a rachadura entre o presidente em exercício do Vasco, Antônio Soares Calçada, e o presidente eleito, Eurico Miranda.
Sem medir palavras ao considerar a tragédia do último sábado como o pior dia de sua vida desportiva, Calçada vai de encontro aos pensamentos de seu sucessor, afirmando que o governador do Estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, acertou ao decretar o fim da final da Copa João Havelange.
“O nosso vice-presidente achou que o jogo deveria ser recomeçado. No momento, os nervos estavam à flor da pele e a decisão estava sendo tomada em conjunto com o chefe da Polícia Militar. Mas o governador acertou ao não dar continuidade à partida”, opinou Calçada, evitando citar o nome de Eurico Miranda.
“Foi a pior coisa que me aconteceu na vida desportiva”.
O choque de opiniões, no entanto, não pára por aí. A inesperada volta olímpica, incentivada pelo vice de futebol, também é uma questão de divergência entre os dirigentes. “Fiquei surpreso quando os jogadores pegaram a taça. Acompanhei tudo como os que estavam no estádio e não sei quem deu essa "grande" idéia”, ironizou o presidente, que em momento algum participou das decisões sobre o socorro aos feridos e a continuidade da partida.
Enquanto Eurico Miranda garante que o Vasco já é campeão da Copa João Havelange, Calçada diz que aceitará a decisão do Clube dos Treze. Apesar disso, o presidente admite que será difícil disputar uma nova partida caso seja essa a determinação dos organizadores do evento: “A decisão cabe ao Clube dos Treze e ao Tribunal de Justiça Desportiva e a acataremos. O problema é que o São Caetano já vendeu parte de seus jogadores, enquanto os do Vasco já estão de férias”.
Presidente e vice concordam apenas num ponto: São Januário tinha condições de receber a partida decisiva entre Vasco e São Caetano. Mas voltam a discordar quando tentam achar um culpado pela queda do alambrado. “Foi uma fatalidade. O estádio tinha segurança. Infelizmente não pudemos realizar a festa, que estava sendo bonita. Mas houve aquele incidente devido a um clarão, causado por uma briga”, lamenta Calçada que, antes de a bola rolar, mostrava todo o seu entusiasmo com o número de pessoas presentes ao estádio. “Eu não podia esperar outra coisa da torcida do Vasco. No Rio, depois do Maracanã, só mesmo São Januário para abrigar essa festa”.
No domingo, dia seguinte à confusão, Calçada esteve no Hospital Souza Aguiar, visitando as vítimas. Ele garante que o clube dará todo o auxílio necessário às pessoas que se feriram na queda do alambrado. “Nós daremos todo o apoio, que infelizmente só pode ser material”, prometeu o dirigente.