Buenos Aires - "Vox populi, vox Dei" (a voz do povo, a voz de Deus) diziam os locutores de rádio e TV na manhã desta terça-feira em Buenos Aires para legitimar através do ditado popular de que o "verdadeiro" vitorioso do polêmico prêmio da Fifa havia sido Diego Armando Maradona e exaltavam a democratização da escolha através da Internet, "um meio do futuro".
Falando em povo, o "Diario Popular" sustentou: "o melhor do século, com o apoio das pessoas". Ao contrário do Brasil, onde a consagração de Pelé foi vista como um fato, na Argentina Maradona foi visto como o vencedor. O astro brasileiro era somente encarado como aquele que havia recebido "um prêmio de consolação".
"Pelé também foi premiado" foi o irônico comentário do jornal sensacionalista "Crónica", que disse que ainda teve um "brinde": "Diego, além de tudo, lhe deu de presente um abraço". O "Crónica" chamou a Fifa de "fresca" e Pelé de "esnobe". O jornal, como a maioria dos meios de comunicação argentinos, destacou a predileção da torcida italiana pelo polêmico ex-jogador argentino.
O jornal "Página 12" destacou a dedicatória ao presidente de Cuba, Fidel Castro, e ao revolucionário argentino Ernesto "Che" Guevara", também herói da revolução cubana, e cuja imagem "El Diez" leva tatuada no braço.
"Diego e Pelé estão separados por algo mais que uma votação. Um, o moreno do establishment, consulta com freqüência Henry Kissinger, sócio político de várias Ditaduras. Maradona tem a hospitalidade da Fifa", disse o colunista Gustavo Veiga, que definiu Pelé como "um amigo do poder", e Maradona como um "revolucionário".
No entanto, a manchete do "Página 12" foi conciliadora: "Diego e Pelé, os melhores de sempre". O principal jornal esportivo argentino, o "Olé", destacou a foto do abraço dos dois temperamentais rivais, e colocou uma irônica legenda: "vejam só - aqui achávamos que Diego e Pelé nem podiam olhar um para o outro e aí estão os dois se abraçando". Segundo o "Olé", Maradona "fez uma jogada ao favorecer o brasileiro, apesar de sua clara derrota pela Internet".
O tradicional "La Nación" sustentou que "Maradona e Pelé" dividiram o reinado. Seu colunista, Claudio Mauri, foi categórico: "tanto o argentino como o brasileiro mereciam uma consideração mais sensata e ordenada por parte da multinacional (a Fifa) que tanto lucra com estas figuras nas quais não investiu um só franco suíço em sua formação".