Meio homem e meio animal: como é dançar com uma máscara de até 5 kg no São João do Maranhão
Conheça a história do maranhense Gilberto Santos Trindade, que há mais de 35 anos representa o personagem folclórico Cazumbá
Gilberto Trindade, mestre do Boi União da Baixada em São Luís, é Cazumbá há mais de 35 anos, representando com orgulho essa figura central no Bumba Meu Boi maranhense, preservando tradições ribeirinhas e revivendo histórias com devoção e dança.
Há 25 anos, uma batida de tambor ecoou pela primeira vez sob o nome do Boi União da Baixada, carregando na voz rouca do couro e na vibração do maracá a memória viva de um povo. À frente desse som, com os pés firmes e o pescoço sustentando uma máscara de ferro, está mestre e, sobretudo, Cazumbá --uma figura folclórica bastante comum no São João do Maranhão.
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"Estou no São João há mais de 35 anos e sou o fundador do União da Baixada. Todo ano a gente faz o Bumba Boi. Eu faço porque gosto e minha família toda ama", conta Gilberto, com um sorriso que mistura orgulho e simplicidade. Ele viu o boi nascer, crescer e tornar-se referência no sotaque da Baixada, um dos cinco estilos tradicionais do Bumba Meu Boi do Estado.
Seu grupo, sediado em São Luís, preserva a herança das comunidades ribeirinhas da região de Pindaré e Viana, no interior do Maranhão, onde o som do tambor é mais lento, profundo e cadenciado.
Cazumbá com orgulho
Dançando com um macacão colorido e uma grande máscara, Gilberto chama a atenção do público do São João de São Luís. Quem não conhece o Cazumbá pode estranhar, mas representar o personagem é uma honraria dentro do conto da mãe Catirina e do pai Francisco, no qual toda a ‘brincadeira de boi’ é centralizada.
Na história, o pai Francisco é um vaqueiro que trabalha para um fazendeiro dono de um boi valioso. Mãe Catirina, sua esposa, grávida, tem o desejo de comer a língua do boi. Francisco mata o animal e arranca a língua, desencadeando a fúria do patrão e uma confusão generalizada. É aí que entram o Cazumbá e outros personagens, que revivem o boi e tudo termina em festa.
"Pra mim é gratificante representar o personagem Cazumbá porque somos nós que limpamos o terreiro para o boi brincar", diz Gilberto.
No conto, o Cazumbá é aquele que chega antes, prepara o espaço, marca presença e abre caminho --com seus passos largos, giros e estalos de chocalho-- para que o boi se manifeste. Nos bois de sotaque da Baixada, as máscaras dos cazumbás podem carregar canutilhos, luzes de led, e até objetos. Apenas quem já usa há muito tempo consegue dançar tranquilamente, mas o começo é difícil.
"A máscara do Cazumbá pesa um pouquinho porque tem ferro, mas a gente já está acostumado. Essa aqui pesa uns dois quilos e meio, porque tem pouco ferro, mas alguns pesam quase cinco quilos", explica Gilberto.
Para o maranhense, ser Cazumbá é muito mais do que manter viva uma tradição. É também fortalecer o papel central que seu grupo ocupa entre os bois da Baixada. A religiosidade presente entre os brincantes também está presente, tornando o peso da máscara um fardo leve.
"No começo, quando o pescoço tá mole, é mais difícil [carregar a máscara], mas, agora, São João ajuda", diz ele, brincando com a resistência adquirida ao longo dos anos.
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