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Juros altos e exportações valorizam o real frente ao dólar, que fecha abaixo dos R$ 5 após um ano

Desde maio, as cotações da moeda americana vêm cedendo no Brasil, em um movimento que de certo modo pode ser considerado tardio; exportações de commodities estão aquecidas, na esteira da recuperação econômica de países como China e EUA

22 jun 2021 - 19h10
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BRASÍLIA - Após intervalo de pouco mais de um ano, o dólar voltou a fechar abaixo dos R$ 5 no mercado brasileiro nesta terça-feira, 22. A moeda americana à vista encerrou o dia com queda de 1,13%, cotada aos R$ 4,966. Este é o menor patamar desde 10 de junho do ano passado, quando valia R$ 4,935.

O resultado desta terça veio de uma combinação de fatores internos e externos. Internamente, a sinalização na ata do Copom de que o ritmo de elevação da Selic já poderia ter se intensificado na reunião da semana passada levou instituições - como o Itaú, o Bank of America e o ASA Investments - a aumentarem a aposta de juros mais altos pela frente no Brasil, o que torna o País mais atrativos para o capital externo.

Lá fora, a moeda americana intensificou o ritmo de queda ante moedas fortes e alguns emergentes já na parte da tarde. Em discurso no Congresso, Powell disse que a recuperação da economia dos Estados Unidos "ainda tem um longo caminho pela frente." Nesse cenário, ele comentou que "a crescente desigualdade de renda é um freio para a economia dos Estados Unidos" e descartou uma alta "preventiva" dos juros, mas prometeu agir "se a inflação ficar muito elevada."

Desde maio deste ano, as cotações da moeda americana vêm cedendo no Brasil, em um movimento que de certo modo pode ser considerado tardio. As exportações de commodities (produtos básicos, como minério de ferro e alimentos) estão aquecidas desde o ano passado, na esteira da recuperação econômica pós-pandemia de países como China e Estados Unidos.

Ao vender mais commodities no exterior, o Brasil recebe mais dólares, o que em tese deveria fazer o preço da moeda americana recuar. No entanto, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vinha alertando que os preços das commodities estavam subindo com a maior demanda, mas isso não vinha sendo acompanhado por uma melhora no câmbio de países produtores como o Brasil. O fenômeno também havia sido identificado em outros exportadores de commodities como Chile e Colômbia.

No caso brasileiro, um dos motivos para que a moeda americana permanecesse em níveis próximos de R$ 5,50 era a preocupação do mercado financeiro com a sustentabilidade das contas públicas. A visão era de que, caso o governo não conseguisse organizar seu Orçamento em meio aos gastos extraordinários da pandemia, a moeda americana não recuaria.

"No ano passado, as commodities entraram numa tendência de alta por volta de agosto. Mas tivemos uma dissonância muito grande no mercado de câmbio", explica José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos. "As dúvidas em torno do Orçamento para 2021 e da continuidade do auxílio emergencial mantiveram o dólar em alta, perto de R$ 5,50, em boa parte deste ano."

A aprovação do Orçamento no fim de março reduziu a desconfiança do mercado em torno da área fiscal, pelo menos por enquanto. Isso abriu espaço para o efeito das commodities ser sentido mais diretamente no preço da moeda americana.

Ao mesmo tempo, o Banco Central iniciou, também no mês de março, o processo de alta da Selic (a taxa básica de juros), para segurar a inflação. Desde então, a taxa saltou 2% para 4,25% ao ano.

A mudança nos juros impactou o câmbio, na visão de alguns analistas. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que, com os aumentos recentes da Selic, o juro real (descontada a inflação) no Brasil já está no campo positivo, em 1,92% ao ano. No ano passado, em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, a taxa real se manteve no território negativo por meses. Com juros reais positivos, o Brasil voltou a ser mais atrativo para o capital estrangeiro.

Dados do BC indicam que em 2021, até o dia 11 de junho, entraram no País US$ 616 milhões pela via financeira, que engloba investimentos estrangeiros em ações, títulos de renda fixa e novas empresas, entre outros. A cifra parece pequena, mas no mesmo período do ano passado o Brasil havia perdido US$ 33,8 bilhões por este canal, no auge da pandemia.

Além de vender mais commodities e atrair mais investimentos, o Brasil tem sido favorecido pela abundância de recursos no mercado internacional, vindos de países como os Estados Unidos. Parte deste dinheiro acaba sendo direcionado para investimentos em países emergentes.

Para Faria Júnior, existe a possibilidade de o movimento continuar nos próximos meses e o dólar atingir patamares ainda mais baixos, perto dos R$ 4,50. Segundo ele, isso será possível se as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) continuarem subindo, o que contribui para o aumento da arrecadação e para a diminuição do rombo nas contas públicas. O avanço das reformas no Congresso, em especial a administrativa e a tributária, é outro fator que pode abrir espaço para um dólar mais barato, na visão dos especialistas.

Dólar turismo

Ofertado pelas casas de câmbio para quem vai fazer viagens internacionais, o dólar turismo já está em patamares mais baixos, embora siga acima da moeda americana usada em transações comerciais. No fim da tarde desta terça, o dólar turismo era vendido a R$ 5,25 em algumas casas de câmbio de Brasília e a R$ 5,18 em lojas de São Paulo.

Estadão
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