'Compre de uma mãe preta': conheça a plataforma que já movimentou mais de R$ 100 mil em vendas
Empresa divulga negócios e histórias de mulheres, organiza kits com seus produtos e os vende para parceiros
Lidar com o trabalho e a maternidade não é uma tarefa fácil para as mulheres - principalmente quando se é uma mulher negra. Conectadas com essa realidade, as produtoras culturais Rosyane Silwa e Tuanny Miller resolveram criar, em meio à pandemia, uma plataforma que fomenta os negócios de outras mulheres pretas autônomas, invisibilizadas em meio do fluxo do ‘compre do pequeno’. Nesses três anos, elas já movimentaram mais de R$ 100 mil em vendas.
A ideia surgiu de Rosyane, que em 2020 estava fazendo seu mestrado em História enquanto seguia sendo uma ‘fazedora de muitas coisas’. Tudo isso enquanto também cuidava de sua filha pequena. No isolamento, encontrar meios de trabalhar enquanto lidava com os processos de beleza e solidão da maternidade foi marcante.
Até que, por ser uma pessoa que conhece muita gente por conta de suas vivência, amigas começaram a pedir indicações de produtos e serviços que precisavam, mas que fossem fornecidos por mães pretas empreendedoras, para fortalecê-las. E com os contatos em mãos, porque não juntar todas essas mulheres em uma rede que as dê visibilidade e protagonismo? Em parceria com Tuanny, assim surgiu o ‘Compre de uma mãe preta’.
Como funciona?
Ao Terra, Rosyane e Tuanny explicaram que a plataforma tem uma Kitanda Virtual, uma espécie de vitrine onde é possível conhecer a história e os negócios das mulheres que fazem parte da rede.
O espaço não funciona como um marketplace, mas como um meio de divulgação e conexão. Já a forma de fortalecer financeiramente estes empreendimentos, conectando quem quer comprar com propósito a quem quer vender, a ‘Compre de uma mãe preta’ faz curadoria de kits que reúnem os produtos das mulheres cadastradas e os vendem para empresas.
“Assim uma empreendedora que vendia um produto por mês começou a vender em grande escala”, frisa Tuanny. O negócio hoje tem cinco empresas que compram com recorrência. Entre vendas diretas e indiretas há um cenário de cerca de 15 empresas que investem nestes produtos.
Com relação às mulheres, atualmente são 25 cadastradas - mas há uma lista de espera de mais de 150 mães empreendedoras que também querem estar na comunidade. Para atender ao fluxo, a Kitanda está sendo reestruturada.
O que limita o processo é que tudo é feito de forma manual pelas criadoras da plataforma, que seguem na busca de investimentos para automatizar processos e expandir o modelo de negócio.
Vários trabalhos
A dupla se orgulha muito do empreendimento e acredita muito em seu potencial - principalmente por verem o projeto como uma forma de honrar seus ancestrais. Mas, para pagar as contas, não se dedicam exclusivamente ao 'Compre de uma mulher preta' e atuam em diversas outras frentes como empreendedoras e produtoras culturais.
“Eu sou fazedora de coisas, eu nunca vou fazer uma coisa só. A gente é potência, a gente é criatividade.. Uma coisa só eu acho que nem cabe na gente. Mas nosso desejo é conseguir viver do ‘Compre’”, diz Rosyane.
Além disso, para além da dupla, a ideia é que a ampliação de venda que a plataforma gera para as demais mulheres cadastradas possa fazer com que todas saiam do “modo sobrevivência” e consigam viver com conforto e estabilidade, explica Rosyane.
A ‘Compre de uma mulher preta’ atua alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e segue com uma agenda ativa na promoção de serviços e produtos. Mas, pensando no meio empresarial como um todo, as criadoras da iniciativa questionam qual é a diversidade e inclusão que as empresas querem e buscam.
“Só colocar pessoas pretas ali não é o suficiente para a gente. Mas como é possível estruturar financeiramente essas pessoas? A ‘Compre’ é potência e no começo era muito mais social do que [do setor] econômico. Mas a gente não consegue manter o social se a gente não tiver o econômico. Precisamos ganhar dinheiro”, provoca.