A defesa do território brasileiro contra a investida dos bancos internacionais era vista como um dos principais motivos para o favoritismo de instituições nacionais no leilão de privatização do Banespa. Com a desistência de quatro dos cinco estrangeiros pré-qualificados, a briga entre os nacionais pela liderança do mercado voltou ao centro da disputa pelo Banespa."O que está em jogo neste momento é a posição dos grandes bancos privados brasileiros no País", afirma o analista Bruno Pereira, do UBS Warburg. Para ele, o espanhol Santander, único entre os estrangeiros a ficar na disputa, não deve fazer oferta agressiva no leilão marcado para amanhã.
A concentração de participantes brasileiros aparentemente reduz a possibilidade de ágios surpreendentes, na opinião de analistas, mas não elimina a disputa. Afinal, o Banespa, um dos maiores bancos do País, com ativos totais de pouco mais de R$ 29 bilhões, tem poder de mudar as posições no ranking do sistema bancário.
É o único negócio, num horizonte de pelo menos dois anos, que pode desalojar o Bradesco da liderança do ranking, no caso de uma vitória do Itaú, ou elevar o Unibanco à segunda posição se ficar com o Banespa.
Líderança - Se levar o Banespa, o Bradesco dispara na liderança entre as instituições privadas, acumulando ativos totais de R$ 118,8 bilhões, e se chega perto em tamanho aos dois grandes públicos nacionais, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Se o vitorioso for o Itaú, a instituição administrada pela família Setúbal assume a liderança, mas o total de ativos ficaria pouco acima em comparação ao Bradesco.
O sócio da Austin Asis Erivelto Rodrigues não tem dúvidas de que a disputa vai se concentrar entre os dois maiores bancos privados brasileiros. O Itaú, porque almeja ser o número 1, e o Bradesco, porque não quer perder a liderança. Pereira, do UBS, não vê tanta lógica nesse raciocínio. "Ser o número 1 tem um preço intangível e os bancos têm um limite para os investimentos." Para ele, embora importante, o Banespa não é a única opção de crescimento no mercado.
O Bradesco, por exemplo, conseguiu crescer de forma bastante expressiva ganhando mais clientes, e não só por meio de aquisições. Expandiu em 65% o número de clientes nos últimos dois anos, atingindo a meta de conquistar 10 milhões deles em 2000. Tido como um banco popular, o Bradesco tem atualmente 76% do total de 400 milhões de transações mensais por meio de canais automáticos ou eletrônicos. Isso representa maior capacidade de expansão a baixo custo. Ou seja, o banco deve reduzir substancialmente suas despesas operacionais.
"Se o banco acreditar que pode continuar crescendo nesse ritmo, ao mesmo tempo que mantém uma política de redução de custos e maximização dos negócios, perder o Banespa talvez não tenha tanta importância para o mercado", disse Pereira. Afinal, o Bradesco vai continuar um grande banco. Embora a posição de líder seja estratégica para a instituição liderada por Lázaro de Mello Brandão, executivos do banco comentam, em conversas informais que não se justifica a compra do banco a qualquer preço.
Para o banco administrado pela família Setúbal, a avaliação é um pouco diferente. A estratégia do banco sempre foi privilegiar a eficiência e perseguir ferozmente a rentabilidade, muito mais do que buscar o crescimento a qualquer preço. No balanço dos primeiros nove meses do ano, o banco registrou rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido de 26%, uma das mais elevadas do varejo bancário brasileiro. O Itaú tem fama no mercado de ser um banco de engenheiros, pela eficiência na administração, despertando até a inveja de concorrentes estrangeiros. Suas aquisições são consideradas um bom negócio.
Na avaliação do analista do UBS, se o Itaú ficar com a metade do tamanho do Bradesco, isso não afetaria os fundamentos da instituição. "Portanto, comprar o Banespa realmente seria para atingir a liderança." É importante conseguir rapidamente 6% do market share dos depósitos em poupança em São Paulo, por exemplo. Essa é a base do Banespa. Mas ela tem seu preço e os analistas ponderam que o Itaú ainda está incorporando o recém-adquirido Banestado.
Dos três maiores nacionais, o Banespa é o mais representativo para o Unibanco pelo seu porte. Comprá-lo seria ganhar rapidamente escala no varejo. O terceiro maior banco privado nacional ficou numa situação complicada depois de perder a disputa pelo Banestado. Se não levar o Banespa, ou o banco vai rapidamente às compras para, por meio de novas aquisições, reduzir o custo de captação de recursos, ou tenderá a perder competitividade, observa Rodrigues, da Austin Asis. O problema, destaca ele, é que o número de bancos à venda está diminuindo e, com isso, o preço dos negócios aumenta.
Como o Unibanco também não tem a mesma disponibilidade de caixa do Itaú e do Bradesco para enfrentar uma disputa mais dura - o preço mínimo do Banespa foi fixado em R$ 1,85 bilhão -, comentou-se muito que concorreria associado a um outro banco. Cada um deles tem um motivo razoável para comprar o Banespa, até mesmo o espanhol Santander, que ganhou as manchetes dos jornais desta semana por causa do suspense em torno da sua participação. Talvez seja uma das grandes surpresas do leilão.
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