PUBLICIDADE

'Torre de Babel': explosão trouxe discussão de homofobia em 1998

Casal formado por Christiane Torloni e Silvia Pfeifer foi vítima de desastre em shopping na novela de Silvio de Abreu, que volta em 2020, no Globoplay

3 ago 2020 - 07h11
Compartilhar
Exibir comentários
Silvia Pfeifer (Rafaela) e Christiane Torloni (Leila) viveram casal lésbico em 'Torre de Babel'  
Silvia Pfeifer (Rafaela) e Christiane Torloni (Leila) viveram casal lésbico em 'Torre de Babel'
Foto: Globo / Divulgação / Estadão

É possível assistir novamente à novela Torre de Babel, lançada pela Globo em 1998. Desta vez, a produção está disponível no Globoplay, serviço de streaming da emissora, a partir desta segunda-feira, 3.

Torre de Babel ficou marcada principalmente pela explosão de um shopping durante a trama, que acabou dando um 'fim' a personagens rejeitados pelo público - como o casal lésbico interpretado pelas atrizes Christiane Torloni e Silvia Pfeifer.

O protagonista, Tony Ramos, era um vilão que começava a história assassinando a esposa. A novela também marcou a carreira de Cacá Carvalho, com o personagem Jamanta, e teve um de seus atores, Danton Mello, o 'Chicletinho', causando comoção nacional ao se envolver em um acidente de helicóptero em Roraima.

Relembre alguns momentos da novela Torre de Babel, do autor Silvio de Abreu, abaixo.

A história de Torre de Babel

A trama abordava temáticas como assassinato e o vício em drogas, incluindo algumas cenas pesadas, como uma em que o personagem de Tony Ramos assassina a esposa.

Logo no início da novela, o marceneiro José Clementino flagra sua mulher (Patrícia Gordo) lhe traindo com dois homens durante a inauguração do Tropical Tower Shopping. Ele mata ela e um dos homens com golpes de pá, e o empresário César Toledo (Tarcísio Meira) testemunha o crime.

"[Foi] terrível [fazer a cena do assassinato]. Eu me concentrei por dois dias, fiz várias sequências e havia efeitos especiais. Tinha a preocupação de não machucar a atriz [...]. Foi de primeira, até porque não havia possibilidade de ficar repetindo"

Clementino passa 20 anos na prisão e jura vingança ao ex-chefe. César, que é casado com Marta (Glória Menezes), sofre com os problemas com drogas de seu filho Guilherme (Marcello Antony).

"O personagem de Tony Ramos é produto do meio, era hostil, não mau, mas sai pior da cadeia. Já o de Marcello Antony é diferente: é mau por natureza, apesar de ter nascido em berço de ouro", explicava o autor Silvio de abreu ao Estadão em 1998.

Questionado se considerava seu personagem um vilão, Tony Ramos analisava: "Essa novela vai subverter esse conceito. Um assassino confesso é um vilão na sua essência. Só que ele é um vilão que chora, emociona-se, pede carinho ao pai e, em troca, recebe impropérios."

"Clementino é vilão, sim. Ele mata duas pessoas. Mas a emoção desse homem vai confundir e mobilizar o telespectador", definia.

Explosão do shopping

A cena mais marcante de Torre de Babel provavelmente foi a explosão do shopping Tropical Tower. O capítulo foi ao ar na mesma semana em que o Brasil foi vice-campeão da Copa do Mundo de 1998, perdendo a final diante da França.

Na sinopse original, estava previsto que a personagem de Torloni morreria e a de Silvia se envolveria com Marta, vivida por Glória Menezes.

Porém, à época, em grupos de discussões com telespectadores, a emissora constatou uma reação negativa à possibilidade de a atriz veterana interpretar uma homossexual. Além da sexualidade, a violência era outra temática que incomodava o público.

"Nunca pude imaginar. Sei lá, uma coisa com essa tem explicação? Tem sim... Só pode ser esse maldito preconceito!", foram as últimas palavras da personagem de Christiane Torloni, que, apesar de fazerem parte da trama, pareciam se encaixar bem à situação. A retirada do casal LGBT na novela gerou diversas críticas na época.

Na explosão do shopping ainda foram afetados os personagens Agenor (Juca de Oliveira), Eglantine (Wanda Lacerda) e Guilherme (Marcelo Antony).

'Jamanta não morreu!'

A frase mais lembrada de Torre de Babel com certeza é o bordão do personagem de Cacá Carvalho, Jamanta, que trabalhava em um ferro-velho junto a Boneca (Ernani Moraes) e Gustinho (Oscar Magrini).

À época com carreira no teatro, mas um "analfabeto na TV", segundo suas próprias palavras, Cacá aprovava a recepção do público: "Tenho a sensação de que ganhei um monte de amigos". O ator curtia inclusive as frequentes piadas do Casseta e Planeta com seu personagem: "É uma homenagem que me prestam. Não perco um programa"

"Jamanta não tem um comportamento normal, mas não é um débil mental", dizia Cacá, sobre o personagem se irritava com os destratos de Sandrinha (Adriana Esteves) e paquerava a empregada Luzineide (Eliane Costa).

O personagem de Oscar Magrini chegou a se lançar cantor sertanejo bancado pela recém-enriquecida Bina (Claudia Jimenez), personagem que costumava evocar "santa Izildinha". "Fiz aulas de violão e canto, mas estou muito longe de ser um Zezé Di Camargo e Luciano", brincava.

O personagem Jamanta voltou anos depois, na novela Belíssima, também de Silvio de Abreu, em 2005. Desta vez, em vez do trio, seu personagem contracenava com o mecânico Pascoal, vivido por Reynaldo Gianecchini.

Acidente de helicóptero com Danton Mello

Danton Mello e Karina Barum em gravação de 'Torre de Babel'  
Danton Mello e Karina Barum em gravação de 'Torre de Babel'
Foto: Globo / Divulgação / Estadão

Um acidente de helicóptero envolvendo Danton Mello, que dava vida ao personagem Adriano, o 'Chicletinho', par romântico de Shirley 'Manca' (Karina Barum).

Seu irmão, Selton Mello, chegou a deixar um set de filmagens em Minas Gerais para se juntar aos familiares após Danton ter desaparecido por cerca de sete horas, e depois retornado com a saúde debilitada, em 15 de setembro.

A equipe do Globo Ecologia, então apresentado por Danton, viajava pelo Estado de Roraima, onde gravavam, desde o dia 5 de setembro de 1998, reportagens sobre o Monte Caboré e o Monte Roraima.

No helicóptero que caiu, estavam Luiz Fernando Parracho (repórter), Danton, Cláudio Savaget (diretor), Sérgio Vertis (cinegrafista), Almir Bezerra (piloto) e Ricardo Cardoso, operador de áudio que morreu no acidente.

Ao Estadão, logo após o acidente, Parracho contou que o grupo "sentia muita dor" e o "pânico era total", diante de uma forte tempestade e sobre um frio de quase zero grau. O piloto ainda conseguiu desmontar a carrenagem do helicóptero, que serviu como abrigo ao grupo.

As cenas envolvendo o personagem Adriano, que havia surgido no decorrer da trama, precisaram ser reescritas. Em seu retorno, Danton Mello fez as cenas em uma cadeira de rodas.

Anos depois, Danton Mello relembrou o acidente: Eu estava na janela do lado direito e me lembro de sentir, olhar o chão se aproximando e a pancada. Ficamos lá quase 30 horas esperando o resgate".

Em 2018, 20 anos após a novela, Danton Mello e Karina Barum se reencontraram durante uma edição do Vídeo Show. para relembrar o momento.

Desentendimento nos bastidores de Torre de Babel

O clima durante as gravações da novela não foram sempre em tom harmonioso, conforme a coluna Persona, publicada pelo Estadão em 12 de novembro de 1998:

"Na semana passada, Claudia Raia fez um escândalo com Letícia Sabatella na sala de maquiagem da Globo por ciúmes das tórridas cenas dela com seu marido, Edson Celulari. Tanto que Denise Saraceni, a diretora, deu uma bronca em Claudia, pelo alto-falante do estúdio.

Claudia caiu em si. No dia seguinte levou um brinco de ouro para Letícia e pediu desculpas".

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade