O impacto do jornalismo engajado de Aline Midlej e sua importância crescente na Globo
Apresentadora do ‘J10’ conquista liberdade editorial ímpar e tem voz relevante contra o racismo e a misoginia
Em edição recente do ‘Jornal das Dez’, Aline Midlej criticou as declarações de Donald Trump contra imigrantes somalis.
“Reproduz e sustenta estigmas carregados de preconceito, ignorância, racismo mesmo, puramente racismo, declaradamente racismo”, afirmou.
“O que seria do mundo, de países como o próprio Brasil, sem a contribuição dos imigrantes?”
O posicionamento destemido em relação ao presidente dos Estados Unidos exemplifica o jornalismo engajado praticado pela apresentadora desde que assumiu o principal telejornal noturno da GloboNews, em julho de 2021.
Ela, que sofreu racismo relacionado ao cabelo volumoso no início da carreira de repórter, se tornou uma das vozes mais relevantes da mídia no combate à discriminação racial e também contra os vários tipos de violências enfrentados pelas mulheres.
Enquanto muitos condutores de telejornais optam por uma postura estritamente neutra, em parte para evitar desagradar a parcelas do público ou se tornar alvo de ataques na internet, Aline dá a cara a tapa diante das câmeras.
Faz por merecer o título de âncora: a apresentadora não se limita à leitura no teleprompter, atua como formadora de opinião e defensora de valores como a democracia.
Em um cenário de polarização, no qual a mera exposição de fatos muitas vezes já é interpretada como posicionamento ideológico, ela desempenha uma função essencial: contextualizar, interpretar e criticar sem romper com os fundamentos do jornalismo profissional.
A liberdade editorial conquistada pela apresentadora no ‘Jornal das Dez’ parece resultar da credibilidade acumulada, da capacidade de fazer uma leitura responsável das pautas e também da importância de sua representatividade.
Não custa lembrar: as mulheres e os pretos compõem a maioria da população do país. Não por acaso, Aline venceu pelo segundo ano consecutivo o prêmio ‘+Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira’.
Coerente e incisiva, ela possui outra qualidade perceptível: evita deslocar o protagonismo da notícia para si. Não cai na armadilha de se achar celebridade do telejornalismo — comportamento vaidoso que já contribuiu para o desgaste de carreiras antes bem avaliadas.
É provável que esse estilo de âncora combativa incomode os telespectadores mais conservadores. Em 2022, a jornalista foi alvo de fake news: atribuíram a ela uma declaração controversa sobre a vacina contra a covid-19. A Globo desmentiu o ‘print’ enganoso.
Além de comandar o ‘J10’, Aline Midlej integra o rodízio na bancada do ‘Jornal Nacional’.