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Em 'Ribeirão do Tempo', Zé Dumont ainda busca seu espaço

14 jul 2010 - 19h03
(atualizado às 19h05)
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Manoela Reis

Zé Dumont está em busca de reconhecimento na TV. Depois de ganhar 26 prêmios no cinema nacional e internacional e completar 29 anos desde sua estreia na TV - quando interpretou o retirante Severino em Morte e Vida Severina, na Globo - o ator assinou seu primeiro contrato longo no veículo, com a Record. "Difícil entender uma TV que não reconhece a miscigenação de seu povo. Temos um protótipo a ser seguido", lamentou ele, que nasceu em Belém, sertão da Paraíba. No ar como o bêbado ajuizado Romeu em Ribeirão do Tempo, além de amigo, a consciência de Querêncio, artesão interpretado por Taumaturgo Ferreira, seu personagem é casado com a resolvida Sancha, de Solange Couto. Romeu vive entre tapas e beijos com a mulher, a qual chama carinhosamente de Xanxa, apelido criado por Zé. "É um nome complicado, não é brasileiro, um homem do povo não falaria ele exatamente como é. Além disso, um casal sempre tem uma brincadeira íntima", explicou.

Você é de uma cidade do interior da Paraíba e Ribeirão do Tempo reproduz as figuras típicas de uma pequena cidade. Você resgatou personagens de sua infância para compor esse papel?

Eu sou um garimpeiro de trejeitos, observo muito desde pequeno. Estou repassando, sem dúvida, as minhas memórias. Aprendi com essas figuras, com quem eu trabalhava junto, segurando a enxada, desde menino. É a sabedoria popular que tento mostrar com o Romeu. É a figura do homem simples, importante não só no imaginário, mas na vida dos brasileiros. São figuras quase folclóricas, mas que ao mesmo tempo são próximas de todos.

Além do núcleo popular, a novela retrata diversas figuras políticas. Você acha que o folhetim procura alertar o eleitor em um ano de eleição?

Acredito que a parte das eleições será quase um reality show. Claro que é uma repaginação, mas com uma encadernação vistosa e bem feita. Com o Flores, por exemplo, vivido por Antônio Grassi, a novela simboliza o grande articulador. Além dele, também tem o personagem de André De Biase, o prefeito Ary Jumento, que mostra como os políticos hoje são também grandes marqueteiros. O Marcílio Moraes (autor) ainda incluiu a figura que representa a aristocracia no meio político, que é o personagem do Heitor Martinez, o Nicolau. O povo vive à margem desses bastidores, e a trama pretende mostrar a dissecação emocional dessas figuras que existem no poder.

Sua carreira no cinema correu em paralelo com a da TV, que cresceu menos. Por que você decidiu continuar nesse mercado?

É difícil viver de cinema no Brasil. E eu tenho ciência de uns salários na TV que chegam a me assustar. Preciso sobreviver, pagar as minhas contas. Enquanto na Espanha existem aproximadamente 4000 cinemas, aqui nós temos apenas 2000. Levando em consideração a grandiosidade do nosso cinema, é difícil entender porque ele ainda não é uma indústria. Um ator precisa trabalhar e eu faço todos os papéis com a mesma dedicação. Ainda acredito que o meu empenho e o resultado é que podem me dar mais oportunidades na televisão.

Sua extensa carreira é cheia de personagens variados. Na TV, seus papeis quase sempre foram vinculados ao humor ou ao popular. Por quê?

O nordestino costuma ser retratado como personagens específicos na TV: a figura engraçada, o ignorante, o pobre. Mas é preciso lembrar que também existem engenheiros, médicos e advogados acima do Sudeste. No cinema, consegui conquistar a confiança dos diretores, que arriscam sem medo pois sabem que eu acabo convencendo mesmo é com a minha interpretação. Em Árido Movie, por exemplo, encarnei um índio mesmo com esse traços fortes do Norte.

Então o que atrapalha você na TV é o perfil?

Infelizmente, sim. Não só eu, mas outros ótimos atores que ficam escondidos no teatro e no cinema e não alcançam o grande público com as novelas. No máximo, séries, onde se tem mais espaço. Eu sofri muito com isso porque nem a minha mãe me acha bonito (risos). Brincadeiras à parte, precisou aparecer a Record, uma grande concorrente em teledramaturgia da Globo, para conseguir o reconhecimento vindo do contrato. Claro que espero um dia poder protagonizar também na TV, um veículo tão importante e de tanta influência no Brasil. Não é uma questão de vaidade, mas acredito que é o caminho natural. Quando você se dedica, vê que está desempenhando um bom trabalho, espera seu crescimento. Na televisão ainda aguardo esse momento.

Zé Dumont
Zé Dumont
Foto: TV Press
Fonte: Redação Terra
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