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Novela sobre Collor gerou confusão e frustrou o público

Há 28 anos, a TV Manchete produziu ‘O Marajá’, sátira que o ex-presidente conseguiu impedir de ser exibida

12 jul 2021 - 11h15
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Em 26 de julho de 1993, milhões de telespectadores sintonizaram a TV Manchete às 21h30 para assistir à estreia de ‘O Marajá’. Estranhamente, o ‘Jornal da Manchete’ continuava no ar além do horário habitual.

Elle e Ella, versões debochadas de Collor e Rosane: a política brasileira é, no fundo, uma grande novela
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Foto: TV Manchete/Divulgação (Fotomontagem: Blog Sala de TV)

O público não tinha ideia da tensão nos bastidores da emissora. Às 18h daquela segunda-feira, o canal havia sido comunicado de uma liminar que proibia a exibição da novela inspirada na turbulenta Presidência de Fernando Collor.

Os advogados da Manchete corriam contra o tempo para tentar derrubar a decisão da Justiça. O próprio ex-presidente, que havia renunciado 209 dias antes na reta final do processo de impeachment, tinha movido a ação para impedir a exibição de ‘O Marajá’.

Sem conseguir reverter a proibição, a emissora carioca colocou no ar, às pressas, ‘A Chave para Rebecca’, filme ambientado na Segunda Guerra que foi apresentado como minissérie.

Houve frustração geral. Havia sido criada enorme expectativa a respeito da trama inspirada no ‘caçador de marajás’, apelido com o qual Collor se popularizou na folclórica campanha eleitoral de 1989.

A produção realizada com pouco dinheiro – a Manchete estava em crise e usou uma única câmera nas gravações – era vista como possível salvação do canal da família Bloch. Havia potencial para gerar boa audiência e atrair anunciantes.

No folhetim satírico, Collor era chamado de ‘Elle’ (interpretado por Hélcio Magalhães, um sósia) e a primeira-dama, Rosane, de ‘Ella’ (papel de Vânia Bellas). Os autores adotaram estilo cômico para deixar a trama política mais popular.

Cena de bruxaria na casa do presidente Elle em ‘O Marajá’: dos capítulos gravados restaram alguns segundos disponíveis no YouTube
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Foto: Reprodução

Personagens inspirados em pessoas reais, como o lobista PC (Walter Francis) e o motorista Egberto (José Dumont), se misturavam a tipos ficcionais, como a protagonista Mariana (Júlia Lemmertz), uma repórter de TV que cobria os bastidores do poder em Brasília.

Sobrou até para Claudia Raia. A atriz, atacada na época por ter sido amiga e apoiadora de Collor, foi ‘homenageada’ com uma personagem identificada como “atriz de coxas grossas”, em referência ao apelido ‘bailarina das coxas grossas’ de Adriana, interpretada por Raia em ‘Rainha da Sucata’, exibida na Globo em 1990.

Após meses de batalha judicial, o departamento jurídico da Manchete conseguiu a liberação de ‘O Marajá’. Mas, para surpresa de todos, a direção do canal preferiu não veicular os capítulos prontos nem retomar as gravações. Tempos depois, as fitas da produção desapareceram.

A teledramaturgia brasileira produziu várias outras novelas com forte contexto político. Entre as melhores, ‘O Bem-Amado’ (1973), com o lendário prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), e ‘O Salvador da Pátria’ (1989), atualmente reprisada no Viva, estrelada pelo boia-fria transformado em candidato Sassá Mutema (Lima Duarte).

Infelizmente, esse subgênero tão interessante se tornou cada vez mais raro. Hoje, a política brasileira poderia ser uma abundante fonte de inspiração. Imagine uma novela sobre Lula ou Bolsonaro. Suscitaria enorme curiosidade e polêmica. Uma dúvida: eles seriam heróis ou vilões da própria história?

Em tempo: a TV Manchete saiu do ar em maio de 1999 por conta das dívidas com funcionários, fornecedores e bancos. A seu modo, a emissora foi vanguardista e ousada. Produziu novelas bem-sucedidas como ‘Dona Beija’, ‘Kananga do Japão’, ‘Pantanal’ e ‘Xica da Silva’.

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