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Obrigar a Globo a escalar negros será um tiro pela culatra

De nada adiantará ter pretos e pardos em papéis secundários apenas para cumprir a ‘cota’

14 mai 2018 - 10h15
(atualizado às 10h16)
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Os protestos contra a pequena participação de atores negros no elenco de ‘Segundo Sol’, nova novela das 21h ambientada na Bahia, estado com maior população afrodescendente do País, geraram um problema relevante à Globo.

O Ministério Público do Trabalho determinou medidas para a promoção de profissionais negros na teledramaturgia e no jornalismo da emissora.

O canal tem dez dias, a partir da notificação, para provar as mudanças no roteiro da novela e 45 dias para apresentar um cronograma de implementação de outras recomendações feitas pelo MPT.

Danilo Ferreira, Claudia di Moura e Fabrício Boliveira estão entre os poucos atores negros de ‘Segundo Sol’, novela enquadrada pelo Ministério Público do Trabalho
Danilo Ferreira, Claudia di Moura e Fabrício Boliveira estão entre os poucos atores negros de ‘Segundo Sol’, novela enquadrada pelo Ministério Público do Trabalho
Foto: João Cotta/TV Globo / Divulgação

Quem possui o mínimo de conhecimento do complexo processo industrial de uma telenovela sabe que as cenas são escritas, produzidas e gravadas com considerável antecedência, principalmente no começo da trama, quando a direção prepara maior frente de capítulos prontos.

Realizar mudanças abruptas será uma dor de cabeça para a Globo e, especialmente, aos autores da trama. 

Dezenas de scripts terão de ser reescritos. Esse trabalho extra poderá afetar o andamento do folhetim.

E há uma questão crucial: para aumentar a presença de negros em ‘Segundo Sol’ será necessário criar personagens.

Com o enredo principal definido, é pouco provável que possíveis novos atores pretos ou pardos ocupem papéis de destaque.

Prevê-se a entrada de personagens secundários e, talvez, irrelevantes.

Colocados na novela tão somente para cumprir a tal ‘cota’ exigida pelo Ministério Público do Trabalho.

No fim, os negros, ainda que em maior quantidade, estarão no lugar de sempre: fazendo fundo aos protagonistas brancos – e provavelmente ganhando bem menos que os colegas de pele clara.

Essa pressão por ocupação negra no horário nobre da Globo terá outro efeito colateral: o aumento da antipatia à causa.

Boa parte do público certamente vai interpretar a atitude do MPT como intransigente e tomará posição contrária à reivindicação da classe artística por mais espaço de trabalho a atores não-brancos.

A teledramaturgia, que se pretende um espelho da sociedade, deve realmente fazer melhor representação da diversidade brasileira.

Mas que isso seja realizado por imposição – e sem a garantia de bons papéis aos negros – não parece ser a melhor solução para o caso.

A falta de real conscientização e amplo diálogo poderá, mais uma vez, gerar resultados frustrantes no combate à invisibilidade de artistas negros brasileiros na TV.

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