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Criticada por presidenciáveis, Globo perde poder na eleição

Canal foi afetado por entrevistas polêmicas de Bolsonaro e Haddad, o escândalo ‘WhatsApp Gate’ e a não realização de debate

28 out 2018 - 11h01
(atualizado às 11h06)
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Chamada pela esquerda de ‘Globo golpista’ nos últimos anos, a emissora da família Marinho tinha o desafio de recuperar a imagem de imparcialidade de seu jornalismo nessa eleição.

No geral, seus telejornais exibiram uma cobertura coerente ao longo da campanha. Mas alguns acontecimentos suscitaram repercussão negativa.

Bolsonaro e Haddad: seja qual for o presidente eleito, a vida da Globo não será fácil
Bolsonaro e Haddad: seja qual for o presidente eleito, a vida da Globo não será fácil
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV (Imagens de divulgação)

As sabatinas com Jair Bolsonaro e Fernando Haddad na bancada do ‘Jornal Nacional’ fizeram os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos serem contestados pelo tom inquisidor.

Na ocasião, os dois presidenciáveis torpedearam a emissora. Bolsonaro usou a diferença salarial entre Bonner e Renata para tentar justificar a razão de muitos homens ganharem mais do que mulheres.

Vociferou contra os “bilhões” que o canal receberia de verba estatal (informação depois contestada pelo Grupo Globo) e voltou a citar o apoio do fundador da emissora, Roberto Marinho (1904-2003), ao regime militar. O candidato do PSL soube usar a Globo contra a Globo.

Ao ficar diante das câmeras do ‘JN’, Haddad soltou uma frase bombástica que ecoou na imprensa e nas redes sociais: “A Globo condena por antecipação”.

Questionado pelos apresentadores a respeito de vários petistas investigados em inquéritos sobre corrupção, ele devolveu: “A Globo também é investigada”. E insistiu: “Vocês não tratariam os problemas da Rede Globo como tratam os problemas do PT”. O candidato se referia a cobranças de impostos feitas ao canal pela Receita Federal.

Outra vez, questões internas da emissora foram usadas em momento de grande visibilidade para contestar sua isenção jornalística e o hipotético prejuízo que teria gerado aos cofres do governo.

Mais grave foi a suspeita de omissão provocada pelo pouco espaço dado nos telejornais para abordar a acusação de uso criminoso de mensagens de WhatsApp por apoiadores de Jair Bolsonaro.

A emissora passou a cobrir o caso com a devida atenção somente dois dias depois, quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reconheceu a gravidade da denúncia e iniciou uma investigação. Críticos de Bolsonaro afirmaram que a Globo poupou o militar.

O grande golpe sofrido pela mais poderosa rede de TV do País foi o cancelamento do debate presidencial do segundo turno, considerado o mais importante evento televisivo da campanha.

O ‘duelo’ entre os dois presidenciáveis na Globo, às vésperas da abertura das urnas, sempre rendeu prestígio à emissora. Construiu-se a ideia de que esse debate seria capaz de influenciar milhões de eleitores e interferir no resultado eleitoral.

O vácuo aberto pela ausência do programa, uma tradição na televisão brasileira desde a disputa eleitoral de 1989 entre Collor e Lula, fez a Globo perder relevante poder de influência e ser ofuscada pela força imensurável das redes sociais e do WhatsApp.

Líder absolto em audiência, o canal é desprezado tanto por petistas-lulistas-haddadistas como pelos bolsonaristas. Seja qual for o presidente eleito, a relação poderá ser tensa.

Bolsonaro, que se declara perseguido pela TV, foi explícito. Disse mais de uma vez que pretende reduzir o investimento de publicidade do governo federal nos intervalos da emissora (atualmente, são cerca de 500 milhões por ano). A empresa dos Marinhos minimiza o impacto de tal medida. Argumenta que a propaganda oficial corresponde a menos de 4% de suas receitas publicitárias.

O PT de Haddad defende a regulação da mídia para evitar, entre outras coisas, que uma empresa de comunicação seja dona de vários veículos de diferentes plataformas. É o caso do Grupo Globo, proprietário da TV Globo, jornais, revistas, rádios, gravadora e portais de notícias.

Com Bolsonaro ou Haddad na presidência da República, a Globo terá desafios a enfrentar – e provavelmente vai continuar sob ataque de quem se sente injustiçado por seu jornalismo.

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Direto ao Ponto semanal: Mano Brown, a voz mais lúcida dessa campanha:
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