Polícia combate crimes virtuais contra menores no Discord
Operação nacional expõe riscos digitais e fragilidade de plataformas
Uma operação de alcance nacional tem revelado um cenário perturbador sobre os perigos que rondam os espaços digitais frequentados por crianças e adolescentes no Brasil.
Exibida no último domingo (6/4) pelo programa "Fantástico", a reportagem trouxe à tona a atuação de policiais civis e promotores que se infiltram em comunidades virtuais para coibir crimes graves, como chantagem, incitação ao suicídio, estupro virtual e indução à automutilação — ações que vêm crescendo assustadoramente em plataformas como o Discord.
Criado com foco na interação por voz e texto entre usuários, o Discord tem sido utilizado como ambiente para aliciar menores, sob o disfarce de fóruns inofensivos.
Desde novembro de 2024, um núcleo específico de combate aos crimes digitais atua silenciosamente nas investigações, utilizando monitoramento passivo e observação em tempo real para evitar que tragédias se concretizem.
Discord: Ações preventivas já impediram mais de 90 casos de violência
A delegada Lisandra Salvariego Colabuono, uma das lideranças da operação, relatou um dos episódios mais emblemáticos dessa ação preventiva. Durante o acompanhamento de uma comunidade suspeita, a equipe se deparou com indícios concretos de um possível estupro virtual. "Nós estávamos infiltrados quando identificamos a exposição de uma menina. A partir dali, começamos a monitorar e conseguimos localizar o endereço da família. Eu mesma liguei para a mãe", contou.
Segundo a delegada, a mãe inicialmente desacreditou do alerta.
"Ela disse que estava tudo bem, mas eu insisti: 'vá até o quarto da sua filha, agora'. Felizmente, conseguimos evitar que algo mais grave acontecesse", disse Colabuono, visivelmente emocionada.
A força-tarefa afirma já ter salvado 92 vítimas, que, nas palavras da delegada, "foram agraciadas pela ação do Estado antes que suas histórias tomassem rumos irreversíveis".
A atuação não se limita ao Discord. Outras plataformas também estão sob investigação, com o objetivo de desarticular redes organizadas de criminosos que se aproveitam do anonimato e da estrutura descentralizada dos ambientes online.
No entanto, a colaboração entre autoridades e as empresas responsáveis pelas plataformas ainda enfrenta obstáculos. De acordo com o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, o Discord teria se recusado a derrubar uma transmissão ao vivo que estava sendo utilizada para fins criminosos, alegando que o caso "não possuía gravidade suficiente".
"A polícia agia em tempo real para impedir um crime e a resposta foi a negação de ajuda. É inadmissível. O Estado não pode ser impedido de proteger seus cidadãos, ainda mais os mais vulneráveis", afirmou Derrite.
Em nota enviada à reportagem do "Fantástico", o Discord afirmou que os grupos investigados não têm lugar na plataforma e que mantém equipes especializadas no combate a abusos. Contudo, dados recentes revelam que os relatos de conteúdos ilegais cresceram 27% nos primeiros três meses de 2025, em comparação ao mesmo período de 2024.