Naiá Camargo: 'A periferia é o berço de tudo — da moda, da música, da dança'
Cantora e idealizadora do MBora Fest fala sobre o impacto do festival e o poder criativo das quebradas na construção da nova música brasileira
O MBora Fest chega à sua 8ª edição como um dos principais movimentos culturais independentes de São Paulo, reunindo grandes nomes da música brasileira e novos talentos que emergem diretamente das periferias.
Idealizado pela cantora e produtora cultural Naiá Camargo, o evento vai muito além dos palcos: é um espaço de encontros, trocas e valorização da arte como ferramenta de transformação.
"A periferia é o berço de tudo! Da moda, da música, da dança e assim por diante", afirma Naiá em entrevista ao TMJ Brazil, parceiro Terra. "Não há como não ser, pois a maioria minorada está lá — muitas vezes sem voz, sem luz, sem água. E queiram ou não, essas pessoas existem e ocupam espaço! Muitas vezes essa voz calada sai em um design de roupa, em um poema. A arte é expressão vital para sobreviver do nosso universo particular. É nosso remédio."
A artista destaca que o MBora Fest nasceu justamente com o propósito de reconhecer essa origem criativa. "Já vimos um milhão de vezes a classe média copiando — mesmo sem saber — o swing ou a estética da periferia. O MBoraFest quer premiar realmente a origem do povo, quem cria de verdade a tendência."
Com um público diverso e forte conexão com jovens artistas, o festival se tornou uma plataforma de visibilidade e inspiração: "O MBora Fest tem uma ligação muito forte com quem está começando. Todos os artistas que estarão na 8ª edição têm engajamento social nesse propósito. O Rappin' Hood, por exemplo, é o próprio angariador ambulante — ele pensa em quem precisa se fortalecer e sobreviver. Esses artistas com público consolidado são fontes de inspiração e direção para quem ainda está tentando viver com dignidade da sua arte."
"Está muito difícil trabalhar e sobreviver de música", diz Naiá Camargo
Manter um festival independente por oito edições é, por si só, um ato de resistência. Naiá não esconde as dificuldades: "Está muito difícil trabalhar e sobreviver de música. Hoje não ganhamos dinheiro com nossos fonogramas até que sejam ouvidos por mais de um milhão de pessoas. E, para chegar a esse número, é preciso contatos, dinheiro ou sei lá o quê."
Ainda assim, o MBora Fest segue crescendo com o apoio de uma rede colaborativa: "Tenho a sorte de ter bons amigos me apoiando. Cada um contribuiu com uma parte do festival".
A artista revela que o evento vive um novo momento, com foco em sustentabilidade e expansão. "Finalmente encontrei profissionais para buscar patrocínios. Alguns investidores estarão no Mbora Fest para conhecer de perto, porque já querem estar conosco no ano que vem. A ideia das categorias 'Raiz' e 'Semente' veio deles, e eu amei!"
Mais do que um evento anual, Naiá define o MBora Fest como um movimento contínuo: "O festival não é só o dia do show. O próprio prêmio que teremos no dia já mostra isso — além do valor financeiro, o vencedor ganha a produção de três singles e o lançamento deles pelo selo Mborai, com produtores profissionais, marketing digital, consultoria de carreira e design gráfico. Ou seja, o trabalho não para por aí. Ele vai ser acompanhado por seis meses com toda essa infraestrutura."
Com esse formato inovador, o MBoraFest segue fortalecendo a cultura periférica e pavimentando o futuro da música independente brasileira: "O MBora é sobre premiar quem cria, sobre dar estrutura pra quem faz arte com verdade. É sobre transformar o corre em conquista.", finaliza Naiá.
MBora Fest
Data: 24 de outubro de 2025 (sexta-feira)
Horário: a partir das 20h
Local: Espaço Usine — Rua Barra Funda, 973 — São Paulo/SP
Instagram: @mborafest
The Music Journal Brazil
