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'Racismo institucional no voo da Gol', diz jornalista Daniel Nascimento

1 abr 2023 - 18h30
(atualizado em 1/5/2023 às 02h26)
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O que mais se perguntou à Polícia Federal na noite deste sábado, 29, principalmente pela comunidade negra foi: "Onde está Samantha?".

Samantha Vitena Barbosa é uma professora de inglês que foi retirada a força por três policias federais do voo G 1575 que ia de Salvador para São Paulo, da companhia área Gol.  A solicitação partiu do comandante da aeronave, o senhor Sergio Pereira Gomes.

Qual foi o motivo? A mulher havia reclamado que não encontrava um lugar para guardar sua mochila dentro do avião. "se eu despachasse meu laptop, ele ficaria em pedaços. Os comissários não moveram um dedo para me ajudar", disse Samantha.

Foto: Reprodução/ Instagram / The Music Journal

Em vídeo divulgado nas redes sociais pela jornalista Elaine Hazin, é possível ver Samantha conversando com os policiais federais e tentando entender o motivo no qual ela estaria sendo retirada do voo. A professora reclama que não teve a ajuda de nenhum membro da tripulação para que sua bagagem [mochila] fosse guardada e que contou com a boa vontade de passageiros para fazer isso. É possível ouvir ao fundo, outras pessoas do voo gritando a palavra "racismo".

"Os comissários falaram para mim que se a gente pousasse em Guarulhos, a culpa seria minha, porque eu não queria despachar a mochila. Ele teve a coragem de falar isso para mim. A culpa não é porque o voo está mais de 2 horas atrasado. Sendo que faz mais de 1 hora que eu coloquei a mochila aqui e o voo não decolou. Agora, há três homens para me tirar do voo sem me falar o motivo. Eu perguntei e ele disse que não vai falar. E disse que se eu não sair desse voo, ele vai pedir para todo mundo sair, que eu estou desobedecendo e estaria cometendo um crime", dizia Samantha no vídeo.

"Estou lhe tirando da aeronave por determinação do comandante", disse um dos agentes. Outro alegou que ela estava sendo retirada para "segurança do voo". Durante a confusão, Samantha foi retirada à força do voo. como mostrou uma testemunha que compartilhou o vídeo, relatando o atraso na decolagem de mais de uma hora. "Mais uma hora de atraso, nenhuma satisfação da cia área, gente passando mal no Avião e eis que 3 homens da Polícia Federal entram de forma extremamente truculenta no Avião para levar a "ameaça" do voo embora", referindo-se a Samantha.

‘Racismo institucional no voo da Gol’, diz jornalista Daniel Nascimento
‘Racismo institucional no voo da Gol’, diz jornalista Daniel Nascimento
Foto: Felipe Carvalho / The Music Journal

Antes que digam que é "mi mi mi", ou se levantem contra todos que lutam ativamente contra o racismo e se manifestaram contrários à atitude do comandante da aeronave. Vamos analisar os fatos.

Baseado em que se deve a expulsão de uma mulher negra de um voo só por ter reclamado e se negado a despachar a mochila com seu notebook [é notório a falta de cuidado com pertences despachados pelas companhias] no bagageiro do avião? Lembrando que a mesma não tendo a ajuda dos comissários do voo, e mesmo sendo ajudada por passageiros que acomodaram a sua mochila, o comandante não revogou a solicitação inicial e continuou com a ação da Polícia Federal para que ela fosse retirada do Avião.

Em entrevista ao Jornal Nacional da Rede Globo, a jornalista que presenciou e filmou todo o ocorrido, afirmou que uma senhora branca que estava a sua frente, acomodou três bagagens de mão no compartimento e ao ser questionada pelos comissários pedindo para que ela colasse uma das malas em baixo do assento, a mesma se negou a acatar a solicitação.

Se o motivo foi o fato de Samantha se negar a despachar a mochila e possivelmente ter seus pertences danificados, essa senhora que também se negou a colaborar retirando uma das três bagagens de mão do compartimento tirando assim a vaga de outros passageiros, também deveria ser retirada! Não é mesmo excelentíssimo senhor comandante branco Sergio Pereira Gomes?

Mesmo tendo poder de compra, nós negros vivemos um racismo institucional, aonde numa situação como essa, não somos reconhecidos como clientes, mas sim como homens e mulheres negras.  O que a Samantha sofreu foi uma prática de silenciamento e a subtração de seus direitos para que um sistema majoritariamente branco pudesse afirmar quem manda.

Desde a ascensão econômica da classe operaria e o seu poder de consumo, o que mais vemos são casos de abusos e racismo cometido nos aeroportos e em seus voos, não só por parte dos usuários da classe 'A' que não vê com bons olhos a presença deste grupo social no mesmo ambiente, mas também pelos colaboradores das companhias, em sua maioria brancos, que estão habituados a "servir" um público diferenciado, e incomodam-se profundamente com a presença da classe trabalhadora em seus turnos de trabalho, principalmente negros.

Eu mesmo já ouvi de um comissário de bordo que era hilário ver "gente simples", viajando. Questionado por mim o por que da graça, ele disse que como funcionário se sentia como um cobrador de coletivo, pois tais passageiros pareciam estar de mudança levando a casa toda no voo, desde vários filhos a mochilas como bagagem de mão.

Segundo a ANAC em seu relatório do terceiro trimestre de 2021, a Gol Companhias aéreas foi a que mais recebeu reclamações, quase o dobro que a LATAM segunda no ranking, e também foi a Gol que menos solucionou os problemas encaminhados pelos clientes.

É por essas e por outras que afirmo que ouve racismo sim, racismo institucional! Claro que isso acontece não só nos voos no Brasil, mas mundo a fora, é um problema global, isso tem que acabar!

E quanto a Samantha, mais um dia difícil na vida de uma mulher negra, que foi silenciada, teve sua saúde mental abalada, foi envergonhada e tratada como criminosa. Tal episódio marcará para sempre a vida dessa professora, que recorrentemente lembrará ou até mesmo sonhará com o que lhe aconteceu. A dor, a sensação de impotência e impunidade lhe acompanharam por um longo tempo. Só nos resta dar as mãos, prestar nossa solidariedade e continuar lutando para que dias melhores venham e com eles o fim do racismo.

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O que é racismo institucional?

Racismo institucional é a prática de uma organização, seja empresa privada, associação, grupo ou instituição pública, em tratar de forma desigual e não prover um serviço para uma determinada pessoa devido à sua cor, cultura ou origem étnica. Ele também pode se manifestar por meio de normas, práticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho, como resultado de preconceitos.

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