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O que fazer quando a liberdade de expressão mata?

A polêmica de Neil Young com o Spotify vai mais fundo do que se imagina.

2 fev 2022 - 06h00
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Foto: Instagram / Reprodução

Descobri cedo que se não aprendesse a separar o artista do cidadão, e julgasse o valor de uma obra pelas atitudes de seu criador, eu iria acabar me privando de um monte de sons legais, filmes legais, livros etc. Desta forma, rola de curtir a obra de um monte de babacas numa boa. De Eric Clapton a Elia Kazan.

Felizmente há exceções. E Neil Young é das maiores. Gosto das músicas, das letras, da postura, dos valores e das atitudes do sujeito. O último album, que gravou aos 76 anos com os amigos do Crazy Horses é um primor de sensibilidade. E foi tudo registrado por sua esposa, a bela Daryl Hannah, no documentário Neil Young & Crazy Horse - A Band A Brotherhood A Barn (Official Documentary). Está lá, inteirinho no YouTube. O mundo digital pode ser muito legal. 

Mas o papo aqui não é sobre a obra do cantor. Vai lá e descobre por você mesmo, acredite, vale a jornada. A questão é que na última semana ele deu um ultimato para o Spotify, a maior plataforma de música do mundo. Ou ele ou Joe Rogan.

Mas quem é Joe Rogan? Bem, é só um aloprado que fez fortuna falando bobagem e superficialidades. Entretanto, ele também é o dono do podcast mais famoso do mundo. Ninguém tem o alcance do cara. E rende muita grana. O mundo digital pode ser uma porcaria também. 

A plataforma de streaming fez sua escolha. Ficou com a grana. Dá para culpá-los? Young cumpriu a promessa e retirou todo seu catálogo de músicas do ar. Olhando para linha do lucro faz pouca diferença para o Spotify. 

Mas o mundo hoje é outro.

O problema não é que é Rogan seja um aloprado. A priori, todo aloprado tem o direito de falar bizarrices. O problema é que o homem é também antivax, e divulga informações falsas sobre a vacinação. Somando a desinformação com o alcance que ele tem, temos um coquetel maldito. Tem pessoas morrendo por desinformação. A discussão vai para outro patamar.

Não defendo a censura de forma alguma. Somos testados de verdade quando confrontados com opiniões que nos agridem. O exercício de tolerância se dá nesse momento. Mas e quando é uma opinião que faz fortuna para quem a sustenta e pode estar matando gente do outro lado? Eu sigo defendendo o direito do sujeito falar a bobagem que quiser. 

Mas também defendo a atitude de Young de não querer frequentar o mesmo lugar. E defendo que o Spotify seja julgado pelas suas escolhas, por mais lucrativas que sejam. Normalmente, principalmente por essas.

Vários artistas foram instigados a se posicionar. A cantora Joni Mitchell seguiu o exemplo e retirou suas músicas da plataforma. Uma discussão se abriu na imprensa e na rede fazendo com que o CEO do Spotify viesse a público dar satisfação. Falou que a plataforma irá adotar medidas mais rígidas para controlar a desinformação. Manteve Rogan, perdeu Young, e perdeu R$ 12 bilhões de valor de mercado com a polêmica. Foi retirado da confortável zona de isenção.

Ficam duas lições. A primeira é que atitudes produzem mudanças, muito mais do que discursos. Precisou um roqueiro septuagenário para nos lembrar disso. O segundo é que o julgamento popular é inevitável e traz consequências. Inclusive para a linha do lucro.

(*) Rodrigo Guerra é economista e consultor. Atua conectando empreendedores com investidores, e é fundador do site Unbox.

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