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Lúcio Maia, do Nação Zumbi: "Chico Science está neste disco"

Guitarrista se une a nomes de peso para lançar disco solo instrumental com influências de Carlos Santana e da música caribenha

10 out 2019 - 09h00
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Uma das peças-chave para definir a estética do movimento manguebeat dos anos 90, o guitarrista Lúcio Maia fez seu nome com o grupo Chico Science e Nação Zumbi, gravando os icônicos “Da Lama ao Caos” (1994) e “Afrociberdelia” (1996) antes da morte prematura de seu vocalista. Passados 22 anos, Maia continua no Nação Zumbi, com vocais comandados por Jorge Dü Peixe, e se arrisca em projetos paralelos. Agora está lançando o seu primeiro trabalho solo: auto-intitulado “Lúcio Maia”. 

O músico já colaborou com diversos artistas, como Marisa Monte e Seu Jorge. Mas neste projeto se junta a um time de músicos de alto nível como Maurício Fleury (Bixiga 70), Thiago Silva (Black Rio) e o baixista Dengue (seu parceiro no Nação Zumbi).

Lúcio Maia lança primeiro disco solo com influências da música latina.
Lúcio Maia lança primeiro disco solo com influências da música latina.
Foto: Caio Cestari

O guitarrista explica como tudo começou: “Eu comecei a fazer uma demo junto com o Tom Rocha, baterista da Nação Zumbi e da Academia da Berlinda. A gente começou a trabalhar junto, eu criava os temas e ele ia lá em casa com bateria eletrônica, colocando umas peças, e ficando com cara de demo. Depois, comecei a juntar uma galera que foi o pessoal que gravou o disco e em 2018 gravamos, mas só conseguimos lançar agora.”  

Em conversa com o Terra, Lúcio Maia reflete sobre suas influências, o legado do Nação Zumbi e o processo de gravação de seu primeiro disco solo. 

Como foi a ideia de gravar um álbum voltado para os ritmos latinos?

Isso começou mais ou menos em 2016. Na real, eu sempre fui um fã grande da música latina, sempre tive muitos discos. Lembro claramente que quando o Ry Cooder [produtor musical] e o Wim Wenders [diretor de cinema] fizeram aquele filme, “Buena Vista Social Club”, nos anos 90, aquilo trouxe de volta a cultura da música afro-cubana. Isso também veio de outras circunstâncias ao longo da vida, comprando os discos e conhecendo as coisas. Em 2016, eu decidi montar uma ideia e comecei a fazer uma demo junto com o Tom Rocha, baterista da Nação Zumbi e da Academia da Berlinda. A gente começou a trabalhar junto, eu criava os temas e ele ia lá em casa com bateria eletrônica, colocando umas peças, e ficando com cara de demo. Depois, comecei a juntar uma galera que foi o pessoal que gravou o disco e em 2018 gravamos, mas só conseguimos lançar agora.

E como foi a escolha de fazer um disco instrumental? 

Não foi que eu escolhi… Eu ainda pensei em colocar alguma letra, convidei uma pessoa ou outra para ver se acontecia alguma coisa, mas não aconteceu.  O disco já nasce com a característica que vai tomar pelo resto da vida, então às vezes a gente tenta fugir um pouco daquilo, tentar outra coisa, mas ele vai do jeito que tem que ser. Então, não foi intencionalmente para fazer um disco instrumental, mas de qualquer forma eu acho que a guitarra assumiu o lado do canto, é a voz das músicas. 

E neste trabalho tem um cover de “Lithium”, do Nirvana. Por que vocês escolheram esta música?

Em 2016, eu tinha visto um documentário sobre o Kurt Cobain na Netflix . Aí sabe aquelas coisas? Quando eu era muito moleque, pirava muito nos Ramones, depois que saiu o documentários deles eu voltei a ouvir a banda de novo, 20 anos depois. A mesma coisa aconteceu com o Nirvana. Eu ouvia bastante no comecinho, quando eles apareceram. Depois, parei de ouvir um tempo. Aí, com esse documentário, eu passei novamente a escutar o Nirvana, achei bacana pra caramba e pintou essa ideia de gravar. A gente tava fazendo shows já, e precisávamos aumentar o repertório, porque só com as músicas autorais não dava para manter uma hora e meia de show. Então, colocamos alguns covers, e dentre eles pintou de fazer “Lithium”. Aí ficou tão legal, as pessoas curtem tanto no show que eu resolvi gravá-la.

Você é um cara que já tocou com o Soulfly, toca com o Nação Zumbi, já tocou com o Seu Jorge, agora está com esse trabalho latino. Tem algum ritmo no qual você gostaria de se aventurar e ainda não teve a oportunidade?

Com certeza, só não sei qual. Eu estou pesquisando, acho que minha verve é essa. O que sai de mim, sem nenhum tipo de especulação artística, é isso. Eu faço as coisas de forma natural e espontânea. Então, acho que com certeza vai ter alguma coisa aí no futuro que eu devo me meter a fazer, sempre no intuito de tentar aumentar essa carga artística de minha vida, da minha carreira. Para mim, é muito importante sair da zona de conforto. 

Queria falar um pouco sobre o Nação Zumbi agora. O “Da Lama Ao Caos” completou 25 anos em 2019. Qual você acha que é o legado desse trabalho, tantos anos depois?

Cara, me fala você! (risos). Eu não sei dizer, cara. Para mim, é tido como o primeiro trabalho, nosso primeiro grito, o manifesto inicial de tudo. É um disco que a gente tem um apreço muito grande, boas lembranças, boas recordações, más recordações… Na real, posso falar que foi uma intervenção na vida, não só uma intervenção artística. Foi uma coisa que mudou a vida da gente, sabe? Como artista, como pessoa, como ser humano.

Foi um divisor de águas na sua carreira?

Pra mim, sem dúvida! E acho que pro resto dos caras também. A gente começou a nossa busca artística desde moleque, fazendo banda, começando com aquelas ideias todas… Fomos unindo um monte de ideia, unindo, e chegou uma hora em que fechamos contrato com uma gravadora grande e que nos dava condições de poder colocar tudo aquilo na prática e foi isso que a gente fez. Então ali, o “Da Lama Ao Caos”, tem as ideias da vida inteira que a gente teve, é a síntese dessa esperança de um dia poder colocar aquilo dentro de um disco (...) Foi um disco que quebrou os paradigmas da música pop, daquela questão padronizada da rádio… Uma coisa que imediatamente fez com que a gente recebesse o rótulo de “regional”, que já foi a contrapartida da gente ter sido tão ousado, né! Acho que o mercado não tava preparado para tanta ousadia.  

Neste ano também se completam 22 anos da morte do Chico Science. Ainda faz falta? 

Claro, tanto que você tá me perguntando! Chico tá em todos os momentos de nossa vida, cara. Ele tá neste disco,  nos discos do Nação Zumbi, em tudo que a gente faz, sabe? Quando Marcelo D2 sobe num palco e canta uma música, oferece para ele, faz uma homenagem. Quando Bnegão, Cláudia Leitte, qualquer artista sobe num palco e canta uma música nossa, ele tá ali. Isso é uma coisa super gratificante pra gente, porque apesar da perda ter sido enorme a gente sente que com pouco tempo o Chico conseguiu alcançar um espaço eterno dentro do coração das pessoas. 

O novo trabalho de Lúcio Maia está disponível em diversas plataformas digitais. Você pode conferir o clipe de “A Melhor de Todas” abaixo: 

Fonte: Redação Terra
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