Líder do Helloween se baseia no Brasil para rebater críticas
- David Shalom
- Direto de São Paulo
Indubitavelmente, pertence ao Helloween o título de banda precursora do que hoje é chamado de heavy metal melódico. Fundado em meados da década de 1980 na cidade de Hamburgo (Alemanha), o grupo, que se apresenta em São Paulo nesta sexta-feira (6), foi o primeiro a unir a fórmula vocal agudo, pedais duplos na velocidade da luz e música clássica dentro do estilo, um dos mais seguidos pelos conjuntos que foram surgindo nos anos posteriores no continente europeu.
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E é graças a essa característica que o Helloween é até hoje uma das mais respeitadas bandas em seu meio, além de ser o principal grupo do estilo em sua terra natal, berço de grandes nomes do rock mundial.
Seus seguidores, no entanto, são divididos. A exemplo do que ocorre com o AC/DC - muitos admiradores ignoram por completo todo o trabalho feito com Brian Johnson, substituto do falecido Bon Scott há mais de 30 anos -, uma boa parcela de seus fãs se recusa a aceitar o controverso vocalista Andi Deris no posto que um dia pertenceu ao fenomenal Michael Kiske, mesmo a despeito de a mudança ter ocorrido há quase duas décadas.
Desde então, coube ao guitarrista e um de seus fundadores Michael Weikath o papel de segurar a barra para garantir a manutenção de seu escolhido para o cargo de cantor do quinteto. E, segundo ele, o Brasil é um dos países utilizados como justificativa para mantê-lo na banda. "Nós sempre podemos virar para as pessoas e dizer: 'ei, olhe para as pessoas no Brasil. É um país muito grande e eles nos apoiam e gostam de nós'. Esse é sempre um argumento muito bom por causa dos fãs brasileiros".
Conhecido por ser um sujeito mal-humorado e avesso a opiniões contrárias às suas, Weikath, 48, foi também responsável pelas principais mudanças que ocorreram na formação da banda em seus mais de 25 anos de estrada. As desavenças com companheiros de trabalho levaram às saídas de Kai Hansen, em 1988, de Kiske, em 1993, e às polêmicas demissões em 2001 do baterista Uli Kusch e do guitarrista Roland Grapow - que na época o chamou, dentre outros nomes, de ditador.
Apesar da má fama, em entrevista exclusiva concedida ao Terra a uma semana de mais uma passagem pelo Brasil, Weikath se mostrou um sujeito extremamente simpático, mesmo tendo sido acordado de sua siesta pela reportagem. Dono de uma voz grave e sotaque difícil, ele comentou até assuntos aparentemente embaraçosos, como as expulsões de seus antigos colegas e a possibilidade de um dia voltar a dividir o palco com Kiske, tópicos há alguns anos intocáveis. Longe de demonstrar grande senso de humor - foram praticamente nulas as risadas durante toda a conversa -, o músico deixou a impressão de não haver mais tabus em relação à história da banda que lidera, e só ficou realmente impaciente quando começou a soar um bipe de chamada telefônica, cuja insistência permaneceu ao longo de quase todo o bate-papo.
Confira na íntegra o que Michael disse por telefone direto de Bogotá, onde se apresentaria com o Helloween na noite de 26 de abril.
Olá, Michael. Como vai?
Eu estou bem. Acabei de acordar. Nós tivemos o show na Venezuela cancelado, então passamos alguns dias em Bogotá e acabou sendo muito bom. Hoje fomos a uma churrascaria. Nenhum de nós conhecia nenhuma por aqui, mas todo mundo falava muito sobre uma e fomos. Acabou sendo muito, muito bom. Ela é muito próxima em qualidade às originais do Brasil. Comemos muito, tudo estava muito bom e eu vim ao meu quarto descansar.
Como surgiu a ideia para a turnê com os finlandeses do Stratovarius?
Foi uma ideia dos empresários, porque eles estavam interessados em juntar as duas bandas na estrada. Já ouvi de muitos jornalistas que há uma boa quantidade de fãs que considera o Stratovarius uma banda melhor e outros que dizem, não, o Helloween é uma banda melhor, então parecia existir uma pequena rivalidade entre eles e esse é um ponto muito perigoso a se tocar. Mas os empresários não ligavam e perguntaram ao Stratovarius se eles gostariam de fazer a turnê conosco. Assim, eu só posso dizer que pudemos conhecer pessoas muito legais e divertidas. Sabe, eles são muito interessantes e nós estamos nos divertindo muito juntos. Isso não seria possível se um de nós tivesse ideias egomaníacas, dizendo, "não, não, não queremos vê-los, nós não tocaremos juntos". Se uma das duas bandas tivesse reagido dessa forma, nós teríamos perdido esta grande experiência que estamos tendo juntos.
O disco 7 Sinners é provavelmente o mais pesado, o mais agressivo, da carreira do Helloween. Vocês estão deixando o power metal melódico para trás ou o resultado final não foi proposital?
Eu não acho. Há tantas melodias neste disco, então acredito que ainda caminhamos pelo que se chama de estilo melódico. Mas, como você disse, ele também é agressivo, que é justamente o ponto que queríamos trazer, a mistura que gostaríamos de atingir, e isso é muito bom. É uma boa continuação do que fizemos em Gambling with the Devil (2007), então acho que esses dois álbuns são muito próximos - particularmente, por causa da manutenção de nossa formação nos último sete, oito anos, o que é ótimo, pois dessa forma você pode escrever muito melhor, pois não tem problemas internos por causa de intrigas com integrantes da banda. É melhor para a banda como um todo também, porque os fãs sabem exatamente para quem eles estão dando dinheiro ao comprar um CD ou mesmo fazer um download pirata, não importa realmente. Isso é algo que vem do coração dos fãs: eles não gostam que a formação da banda fique mudando o tempo todo, sabe? E nós nos sentimos particularmente orgulhosos de alcançar esses oito anos juntos agora, algo que provavelmente continuará por um bom tempo.
Você falou sobre problemas com ex-colegas, obviamente se referindo ao guitarrista Roland Grapow e ao baterista Uli Kusch, demitidos do Helloween em 2001. Ainda fala com eles?
Não, mas por outro lado também não restou muita coisa. Sabe, houve tanto papo antes, durante e depois do processo de saída deles e há coisas melhores na vida do que falar mal um do outro por causa disso ou daquilo. Eles são respeitados no meio, estão fazendo as coisas deles e nós estamos fazendo as nossas. Então, isso deve estar certo, esta é a vida.
A saída de Grapow foi muito polêmica. Ele disse algumas coisas muito pesadas sobre você, chegando a chamá-lo de ditador. O que achou disso?
Sim, foi muito polêmico. Nós já tivemos separações como essa antes e, sabe, eu talvez seja o mestre das polêmicas, então não é algo que verdadeiramente me incomode. Acontece, é humano, sabe? E há tanto papo ruim sobre isso, que eu vejo como algo que talvez seja melhor ser evitado, pois é o tipo de coisa que acontece e ninguém gosta, exceto pessoas interessadas em demonizar a relação entre duas pessoas, que tenham um lance voyeuristico. Isso não é muito bom, tampouco necessário.
Voltando ao novo disco, 7 Sinners. A voz de Andi Deris parece ter melhorado muito nos últimos anos e neste último trabalho está mais agressiva, mais crua. Como você vê essa evolução dele no posto de vocalista do Helloween?
É muito bom, sabe? Não é como se ele tivesse feito isso de propósito, só está usando toda a técnica que possui. E ele se sente muito confortável com o que tem feito, assim como nós. Quero dizer, é o cantor do qual eu fui falado quando procurava algo novo, pois Andi tinha um estilo diferente de outros cantores quando se juntou ao Helloween e por muito tempo usou aquele tipo de técnica. Agora, tem usado esse estilo, o que eu vejo como ótimo (som de bipe contínuo na ligação). Eu acho que há outros entrevistadores tentando me ligar. Mas não se preocupe, eles que liguem mais tarde, pois estou falando com você.
O heavy metal é muito popular na Europa, algo muito diferente daquilo que ocorre em outras partes do mundo. Você vê alguma razão especial para isso?
Claro, porque a influência da música clássica na Europa é muito grande e é parte das coisas com as quais as pessoas cresceram. Em qualquer lugar que você fosse quando criança, acabava ouvindo música clássica no rádio e entrando em contato com influências clássicas. Além disso, há aquilo transmitido por bandas como Rainbow e Deep Purple, que trouxeram essa influência unida ao rock... bandas da Holanda ou qualquer lugar que seja, sempre trouxeram essa influência clássica...(som de bipe incessante) - sabe, este bipe na linha está me deixando louco! Eu não consigo ouvir o que digo. Deus! Enfim, é uma tradição a música clássica. Também, na década de 60 e 70, a qualidade da música pop era muito forte e você acabava ouvindo isso, e é natural ser influenciado por melodias de alta qualidade e por coisas boas.
Houve uma boa queda na popularidade do heavy metal no Brasil, especialmente no que diz respeito ao estilo mais melódico, justamente aquele tocado pelo Helloween. Como você vê o mercado em lugares fora da Europa, como na América do Sul?
É difícil dizer, porque nós não sabemos o que está tocando na rádio por aí, tampouco o que está na cabeça das pessoas. Eu sei que, por algum tempo, há uns 10 anos, havia um tipo de música pop que tocava o tempo inteiro e que todo mundo odiava naquela época. Não sei como está agora, pois já faz alguns anos desde a última vez em que estivemos aí e não me contaram muito a respeito de como está a música no Brasil. Então, é você que tem de me contar.
Sofreu uma queda considerável. Talvez não tanto com os nomes de fora, mas as bandas nacionais perderam muito público, especialmente as mais melódicas, cuja popularidade chegou ao auge no início da última década. Enfim, apesar de ter dito que o Helloween se manteve no power metal, obviamente ele está um pouco renovado, mais pesado, mais agressivo. Você acha que o estilo melódico estagnou nos últimos anos?
Bem, há pessoas que não gostam de nós de qualquer jeito. Elas dizem: "ah, o Helloween, que sempre faz a mesma coisa velha e entediante e blá, blá, blá". Então, sabe, em vez de tentarmos terminar com esses argumentos, tentamos colocar mais elementos, claro, sem tirar as melodias que são uma característica do Helloween. Mas você acaba ficando cínico e não quer levar esses ataques das pessoas, então começa a mudar algumas coisas. Ainda assim, as pessoas de fora que não gostam de você dizem: "ah, eles só fizeram isso porque não querem mais ser atacados". Sabe, somos seres humanos e estamos fazendo o melhor que podemos. Somos uma banda, você tem que fazer...(som de bipe) - eu gostaria de saber quando essa p.... de bipe vai parar!
São os outros jornalistas insistindo para falar com você.
Que liguem dez minutos mais tarde. Enfim, você é humano, faz o melhor que pode e, bem, nós estamos fazendo isso há 27 anos quase, e, sabe, estamos em uma situação muito boa. Então, eu não ligo para aquilo que as pessoas de fora dizem. Sempre há pessoas que se influenciam por essas críticas, mas eu não. Só faço o melhor que posso e não tenho medo disso, porque, sabe, nós poderíamos até fazer álbuns chatos e felizes do Helloween, e ainda assim seria muito mais interessante do que muitas outras coisas.
Como você avalia a carreira do Helloween após quase 30 anos. Você consegue viver tranquilamente só com a música?
Sim, claro, e isso é graças a todos os fãs que nos apoiam em nossas decisões. Por exemplo, os fãs brasileiros são muito importantes pois apoiaram sempre o Helloween, tivemos uma ótima aceitação deles naquilo que realmente acreditávamos. Mesmo com as saídas de Uli Kusch e Roland Grapow, nós fomos ao País e eles não falaram quase nada sobre o passado ou sobre reuniões ou coisas desse tipo. Certamente que esse (uma reunião) é o sonho de todo fã, que algo assim se torne realidade, mas eles nunca levaram isso muito a sério e, em vez disso, apoiaram nosso line-up atual cada vez mais. Isso nos ajudou muito para continuar com a nossa carreira, para gravar novos discos, sabe, a fazer nossas coisas, porque nós sempre podíamos virar para as pessoas e dizer: "ei, olhe para as pessoas no Brasil. É um país muito grande e eles nos apoiam e gostam de nós. Então o que você pode dizer sobre isso?", sabe? Esse sempre foi um argumento muito bom por causa dos fãs brasileiros.
Você falou em reuniões. Há muitas pessoas que ainda associam o Helloween ao vocalista Michael Kiske - integrante da formação clássica da banda. Há alguma ligação entre o fato de vocês terem voltado a tocar heavy metal após a saída dele no início da década de 1990? Caso houvesse a oportunidade, você dividiria o palco com ele?
Sabe, quero dizer...é assim: um promotor de turnês, Kosta Zafiriou, é baterista do Pink Cream 69 (antiga banda de Andi Deris) e também é integrante do Unisonic (um dos grupos de Kiske), banda que ele criou. Então, se nós tivéssemos tempo para estar no palco (com Kiske), seria por meio dele e teria de haver a aceitação de Michael Kiske para fazê-lo. Para nós, não há nenhum problema em fazer algo desse tipo. É sempre uma questão do quão longe ele consegue aceitar situações como essa ou se está disposto a fazer algo assim. Então, com o Avantasia (projeto de Tobias Sammet, do Ed Guy, com participação de diversos nomes de peso do heavy metal melódico) ele tem viajado pelo mundo e tem tido a oportunidade de ver como era fazer uma turnê, como uma carreira pode ser e como é estar frente a uma verdadeira plateia de metal, fazendo algo que ele não fazia há muito tempo. Então, talvez, seja algo que ele deva voltar a se acostumar a fazer de forma gradual. É sempre uma decisão que você precisa tomar, se quer fazer ou não. Sabe, basicamente, tudo é possível. Logicamente, se ocorresse (o reencontro), seria algo temporário, pois certamente nós teríamos de voltar a fazer as coisas do Helloween, afinal existem razões pelas quais as pessoas saíram ou foram despedidas da banda, há motivos pelos quais o line up do Helloween precisou mudar. Sabe, hoje em dia nós podemos aceitar tantas coisas, fazer tantas coisas, falar sobre tantas coisas que eram tão dificeis no passado. Tudo estava bloqueado por causa de contratos e eram tempos complicados. Então, talvez, esta seja a hora de tentar entreter as coisas.
Então a possibilidade de Michael Kiske dividir o palco com o Helloween existe...
Sim, só depende dele, como sempre. E, se acontecer, vai acabar em um certo ponto, pois ele terá de voltar à carreira dele e nós teremos de voltar à nossa. É assim que é.
Você ainda fala com Kiske?
Não, não falo. Mas o Zafiriou tem a banda com ele e o Kai Hansen (fundador do Helloween, que deixou o grupo em 1988 para formar o Gamma Ray) se juntou a eles. É um projeto de heavy metal chamado Unisonic e vai ser interessante ver o que vai sair deste trabalho.
Durante o show do Motörhead em São Paulo, em meados de abril, o guitarrista Phil Campbell entrou no palco com um cigarro na boca e logo foi obrigado a apagá-lo em virtude das leis anti-tabagistas do Estado. Você também costumava fumar durante seus shows. Qual é a sua opinião sobre a proibição?
Sabe, nós tivemos um progresso com esse negócio de não poder mais fumar em lugares públicos. É uma coisa ótima, porque ainda há crianças nas ruas que não têm dinheiro, que ficam sensibilizadas quando recebem qualquer esmola e há também pessoas morrendo nas ruas. E, ao menos, nós estamos proibindo o fumo, então estamos indo para algum lugar. Nós temos muitas tragédias, muitos problemas com a política, mas conseguimos finalmente atingir o problema do cigarro.
Você ainda fuma?
Sim, mas, sabe, eu não preciso fumar no palco. De fato, isso tirava a minha concentração, tirava o foco do que eu fazia no palco, dos movimentos que eu gostaria de tentar nele. É, provavelmente, melhor que eu não fume nos shows, afinal posso fumar em outros lugares, não há problema. É também importante para que as pessoas que me veem como um ídolo, ou qualquer coisa do tipo, não comecem a fumar só porque eu o faço. Mesmo que as pessoas tenham suas escolhas, tomem suas próprias decisões, eu não vou promover o fumo, ser um mal exemplo. Dizer que isso é algo que você precisa fazer só porque eu faço é errado. Sabe, a tosse que eu tenho todas as manhãs é muito ruim e, muitas vezes, eu acordo e penso, "talvez eu devesse largar". Sabe, é algo que não deve ser promovido. Essa é a minha opinião.
Serviço:
Helloween & Stratovarius
Local: Credicard Hall - Av. das Nações Unidas, 17.981 - Santo Amaro - SP
Apresentação: sexta-feira, 6 de maio de 2011
Horário show: 22h
Duração do show: aproximadamente 1h30
Ingressos: de R$ 50 a R$ 300
Classificação etária: Não será permitida a entrada de menores de 12 anos; 12 anos e 13 anos: permitida a entrada (acompanhados dos pais ou responsáveis legais); 14 anos desacompanhados
Capacidade: 6948 pessoas
Abertura da casa: 1h30 antes do espetáculo
Estacionamento: R$ 30,00
Acesso para deficientes
Ar condicionado