Dave Grohl, o piloto do Foo Fighters, voa com os abutres
Em novembro de 1991,
Nevermind, do Nirvana estava começando a galgar as paradas. O álbum ainda não havia vendido 10 milhões de cópias, ou tampouco derrubado Michael Jackson do primeiro posto na parada de álbuns da
Billboard, e não se havia tornado o momento de definição para o movimento do rock alternativo, ou dado a Kurt Cobain o status de "voz de sua geração" - que por fim o destruiria.
Mas o integrante mais recente da banda, o baterista Dave Grohl, já estava expressando preocupações sobre o impacto que o álbum poderia ter sobre o seu futuro. "Todo mundo sempre pergunta se tenho medo de que a banda faça sucesso demais", disse Grohl, então aos 22 anos, na primeira entrevista do Nirvana à revista Rolling Stone. "Isso realmente não faz diferença. Só não quero ser David Grohl, do Nirvana, pelo resto da vida".
As chances de que Grohl deixasse outro legado que não o de sua passagem pelo Nirvana pareciam desfavoráveis. O trio se tornou o maior grupo de rock do mundo por algum tempo, e depois se desfez de maneira horrivelmente dramática com o suicídio de Cobain em 1994. Grohl, que era conhecido por uma personalidade tão calma quanto seu estilo de bateria era explosivo ("ele é um cara tranquilo, sempre divertido de conviver", afirmou Krist Novoselic, o antigo baixista da banda, em mensagem de e-mail), passou a estar permanentemente ligado a uma das tragédias mais públicas do rock.
No entanto, Grohl conseguiu criar um segundo ato para sua carreira, como vocalista, guitarrista e principal compositor do Foo Fighters. De suas origens humildes como projeto pessoal e tentativa de escapar à sombra do Nirvana, a banda se tornou uma potência em termos comerciais, com uma sequência firme de singles muito vendidos (Learn to Fly, Best of You) que já dura 15 anos.
E agora Grohl decidiu formar ainda outro grupo, Them Crooked Vultures, que o devolve à bateria, em companhia do guitarrista e vocalista Josh Homme, do Queens of the Stone Ages, e de John Paul Jones, ex-baixista do Led Zeppelin. "A percepção das pessoas sobre Dave é a de que ele é o sujeito simpático do rock", diz Homme, "e isso é correto. Ele é generoso, se sente confortável com aquilo que é, mas ainda assim tem ambições. Jamais se satisfaz com aquilo que já realizou".
Este mês nos oferece uma oportunidade de considerar a abrangência da história de Grohl. Em um período de duas semanas, serão lançados a compilação Greatest Hits, do Foo Fighters; um DVD e CD com a maravilhosa apresentação do Nirvana no festival de Reading, em 1992; e o disco de estréia do Them Crooked Vultures, que leva o nome da banda. "Novembro está sendo um momento 'esta é sua vida', para mim", disse Grohl de Los Angeles, em entrevista por telefone. "É muito nostálgico mas ao mesmo tempo tenho uma banda nova, me casei, tenho um filho. Minha vida está completamente descontrolada, agora, mas eu não a trocaria por nada".
Depois do lançamento do disco, o Foo Fighters fará uma pausa e Grohl vai começar o próximo capítulo de sua carreira com o Them Crooked Vultures, que ele formou com dois seus numerosos colaboradores ocasionais. Desde o Nirvana, Grohl criou uma espécie de carreira paralela como homem de contato entre o mundo do rock alternativo e o do rock clássico, tocando com superastros como David Bowie, Tom Petty (que um dia o convidou para ser o baterista permanente do Heartbreakers) e Queen.
"Dave é um ótimo baterista e um grande sujeito", disse Paul McCartney, que convidou Grohl para tocar com ele em um show em Liverpool e no Grammy de fevereiro. "Foi fabuloso trabalhar com ele".
A música do Them Crooked Vultures - sons longos e sinuosos, com múltiplas seções e tempos, repleta de ameaça e de humor negro - é mais complexa que o som do Foo Fighters. Grohl define o grupo como "o mais musical com quem já toquei", e se declarou feliz por voltar à bateria. "Você é o goleiro, a responsabilidade é sua".
Homme diz que considera Grohl um ótimo líder, mas que "quando ele toca bateria, fico de queixo caído, sempre - é isso que o mundo precisa, da parte dele".
A banda vem realizando shows, até mesmo em festivais importantes, já há alguns meses, antes de lançar o álbum, e divulgou trechos de canções e rumores na Web, como se estivesse organizando uma caçada virtual ao tesouro. "As pessoas tinham fortes expectativas, mas não faziam ideia do som da banda", disse Grohl. "Por isso, fazia sentido apanhar todo mundo de surpresa e agir na surdina".
Ele afirmou que passar as últimas semanas se alternando entre o trabalho com o Them Crooked Vultures e a promoção do novo disco do Foo Fighters na verdade serviu mais para ilustrar as semelhanças que as diferenças, nos diversos papeis musicais que ele veio a exercer ao longo de sua carreira. "Isso serve como um exemplo muito bom de todas as lições que vim a aprender", afirmou. "Sei como é ser um baterista, e também sei como é ser o vocalista principal, e sei quando é hora de sentar e calar a boca, e o que é preciso para fazer com que 80 mil pessoas se levantem e cantem com a banda".
