Intérprete de Alexandre Nardoni em série relembra cena do assassinato: 'Me dilacerou'
Lucas Oradovschi é um dos nomes do elenco de 'Tremembé', produção nacional que estreou no Prime Video
O ator Lucas Oradovschi é descrito como um "cara doce" por colegas de elenco da série Tremembé, que estreou no Prime Video na última sexta-feira, 31, mas teve o desafio de reencenar um dos assassinatos que mais chocou o País. Ele interpreta Alexandre Nardoni, preso por matar a própria filha, Isabella Nardoni, na produção que conta como foi a passagem de condenados por crimes de grande repercussão no chamado "presídio dos famosos".
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Em entrevista ao Terra, Lucas diz que ficou instigado pelo papel porque viu a "oportunidade interessante de viver um personagem muito complexo, muito denso, muito dúbio e muito famoso". Desde o momento do teste para participar da série, o ator conta que fez um mergulho profundo para entender como poderia executar um bom trabalho.
"Comecei levantando todo o material. Li, assisti e ouvi todos os materiais que consegui acessar sobre o universo desse crime. A entrevista do Fantástico [em que Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá falam sobre o crime] foi o coração de onde parti, mas também tem muitas fotografias, matérias de jornal e programas jornalísticos da época que consegui encontrar comentando o assunto. Não existe muito material disponível de imagens de vídeo dos dois, mas existe um universo amplo de materiais sobre o assunto. Li os inquéritos, o Ulisses Campbell, o autor dos livros que a série se baseia, forneceu laudos. E conversei com um cara que é egresso de Tremembé e me trouxe visões e opiniões sobre o Alexandre Nardoni, que eu não tinha conseguido acessar", relatou.
Durante as conversas com o ex-presidiário, que conviveu com Alexandre Nardoni no presídio de Tremembé e trabalhou como consultor da série, Lucas soube um pouco de como era a vida do condenado na prisão. "Ele contou que, em muitas noites, sempre que apagavam as luzes da galeria, muitos presos ficavam fazendo vozinha de criança para provocar o Alexandre: 'Papai, não me mate. Socorro, papai'. Ele tinha que lidar com aquilo e ficava atormentado por isso, que era recorrente", conta Lucas.
Com a construção do personagem, o artista conseguiu se colocar um pouco no lugar de Alexandre Nardoni. Porém, o grande desafio foi recriar a cena em que Isabella Nardoni é assassinada --a menina de cinco anos foi jogada do sexto andar do apartamento pelo pai e pela madrastra na Zona Norte de São Paulo.
A gravação aconteceu em um apartamento com a mesma planta do local original do crime e estava toda ambientada com brinquedos de crianças para realmente parecer a casa de uma família. "Na reta final da filmagem, tive que colocar o meu corpo e a minha sensibilidade para reproduzir os gestos feitos durante o acontecimento, de cortar a tela, de pegar uma boneca do tamanho real da criança, com o mesmo peso, colocar para fora da janela e fazer o gesto. Isso me dilacerou. Desabei quando a gente acabou", confessou.
Uma das principais parceiras de Lucas no trabalho foi Bianca Comparato, que interpreta Ana Carolina Jatobá. "Entendemos juntos que eles têm um vínculo muito profundo, um pacto muito enigmático. São as duas únicas pessoas retratadas na série que não admitiram o crime. Pelo contrário, quase 20 anos se passaram, e eles continuam muito leais à própria versão. A gente entendeu que esse era um elemento muito fundamental para a nossa construção."
Nas palavras do artista, "Tremembé mostra como é a vida dessas pessoas dentro do sistema penitenciário e quais são as consequências de se cometer um crime como esse". Ele considera esse um dos diferenciais da série em relação a outras produções de true crime e também analisa essa abordagem como essencial para não retratar crimes tão impactantes de maneira leviana.
"O maior desafio foi fazer esse personagem com o maior número de camadas que eu pudesse e fazer isso também tendo sempre a referência de uma linha ética, de que eu não estou fazendo um personagem qualquer. Não posso ir para um lugar mais óbvio de querer fazer um personagem que seduz a plateia, que o espectador torça por esse personagem. Tem uma linha tênue que precisava o tempo inteiro equilibrar."
"A gente não pode só contar histórias boas. Infelizmente, as histórias duras também precisam ser contadas, isso a humanidade faz isso há milhares e milhares de anos. A humanidade também compreende o horror. As histórias de dores precisam ser contadas. Tem crimes horrorosos, tem situações horrorosas acontecendo hoje no mundo inteiro. Enquanto a humanidade ainda faz isso, a gente precisa fazer esse movimento de colocar luz nessas sombras", conclui Lucas.
