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Entre falhas de transmissão, foram poucos os momentos memoráveis do Globo de Ouro

Cerimônia foi uma malsucedida videoconferência, apesar de algumas premiações surpreendentes que podem ter entrado na mira do Oscar

1 mar 2021 - 17h58
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O primeiro prêmio da noite deu uma ideia do que viria a seguir. Daniel Kaluuya falava, mas ninguém ouvia. No desespero, a apresentadora Laura Dern anunciava que o troféu do melhor ator coadjuvante do ano, por Judas e o Messias Negro, ia ser enviado para a Inglaterra, quando Kaluuya disse as frases que bilhões de pessoas já pronunciaram numa conferência por Zoom: "Estão me ouvindo agora?". Que tenha acontecido um ator negro, vencendo por sua interpretação do ativista Fred Hampton, num ano em que a Associação de Jornalistas Estrangeiros de Hollywood (HFPA, na sigla em inglês) foi tão criticada por deixar de fora filmes dirigidos por negros e por não ter negros entre seus membros, foi apenas uma camada a mais no desastre que foi a cerimônia do Globo de Ouro deste ano.

Claro que realizar um show desse porte no meio de uma pandemia não é nada fácil. Mas o Emmy, por exemplo, uma festa bem mais chata normalmente, conseguiu ser relevante e divertido em setembro. Talvez tenha sido a falta de champanhe, que costuma rolar solta no Globo de Ouro e faz da festa um evento menos sério.

Houve quem nem se preocupasse em se vestir para a ocasião, como Jason Sudeikis, melhor ator de série cômica por Ted Lasso, metido num moletom. Como em qualquer reunião por videoconferência, também não faltaram salas e quartos feios (de casa ou de hotel) e estantes bagunçadas. Os pontos positivos foram as crianças e os animais domésticos.

Também pairou no ar a série de reportagens do jornal Los Angeles Times colocando em pauta questões éticas da HFPA e ressaltando a composição do grupo de 87 pessoas, que é 65% europeu, com algumas pessoas não-brancas, mas nenhum negro. Foram poucas as menções às reportagens ao longo da noite. A associação abordou o assunto, jurando saber que precisa ter pessoas negras, sem, no entanto, apresentar nenhum plano para isso. Quase imediatamente, recebeu uma carta do movimento Time's Up. Outra foi endereçada à rede NBC, que detém os direitos milionários da bem-sucedida transmissão, normalmente vista por 18 milhões de americanos. "Os pronunciamentos da HFPA nesta noite e nos dias anteriores indicam uma falta de entendimento da profundidade dos problemas", escreveu a CEO do Time's Up Tina Tchen. "Sua versão declarada de mudança é cosmética: encontrar pessoas negras. Esta não é a solução." Ela continuou dizendo que não ter membros negros é um sintoma de problema, não o problema em si.

Quanto à premiação, é sempre difícil prever quanto impacto o Globo de Ouro pode ter na percepção de certos filmes e atores para o que vem nos próximos dias, começando pelo Critics Choice Awards no domingo, seguido pela divulgação dos indicados das associações de produtores (segunda) e diretores (terça) e depois do Oscar (segunda, dia 15). Ainda mais neste ano, em que os canais normais de divulgação estiveram fechados por conta da pandemia.

É provável que as surpresas da noite vejam suas chances no Oscar aumentarem. No caso, Andra Day como melhor atriz de drama por Estados Unidos vs. Billie Holiday, Rosamund Pike como atriz de comédia ou musical por Eu Me Importo e Jodie Foster como atriz coadjuvante por The Mauritanian. O mesmo, talvez, aconteça com a canção original Io Sì, de Diane Warren, Laura Pausini e Niccolò Agliardi, de Rosa e Momo, que bateu favoritos como Speak Now, de Uma Noite em Miami e Fight For You, de Judas e o Messias Negro. Warren concorreu 11 vezes ao Oscar na categoria, sem jamais ter ganhado. Pode, no entanto, ter sido apenas uma obra dos europeus esquisitos - palavras da apresentadora Tina Fey - que formam o grosso da HFPA.

O Globo de Ouro também pode servir para reforçar algumas tendências, como a força crescente de Daniel Kaluuya sobre o então favorito Leslie Odom Jr. (Uma Noite em Miami) ou a de Nomadland e Chloé Zhao sobre Os 7 de Chicago e Aaron Sorkin ou mesmo Mank e David Fincher. A cerimônia de domingo à noite também firmou Chadwick Boseman como o favorito absoluto na categoria ator por A Voz Suprema do Blues.

O discurso de agradecimento de sua mulher, Taylor Simone, foi um dos poucos momentos memoráveis da noite. Emocionada, ela tentou imaginar quem seu marido agradeceria e o que Boseman, morto aos 43 anos de câncer, falaria. "Ele diria algo bonito, algo inspirador, algo que amplificaria aquela voz interior que lhe diz que você consegue", afirmou Taylor Simone, entre lágrimas.

O outro único grande momento da noite foi a fala de Jane Fonda sobre diversidade e inclusão e pedindo ação para que a indústria seja mais aberta a outras vozes. "Vamos liderar", disse a atriz e ativista, que recebeu o prêmio Cecil B. DeMille pelo conjunto de sua carreira.

Estadão
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