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Cinemas de São Paulo reforçam cuidados, mas público não volta

Salas chegam a promover sessões para uma só pessoa, mas dobram a aposta na segurança dos espaços

21 nov 2020 - 05h13
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Desde que os cinemas tiveram permissão da Prefeitura para retomar as atividades, em 10 de outubro, já se passaram 40 dias. Segundo gerentes ouvidos pela reportagem, o movimento é muito baixo e o público ainda não compreendeu as condições de segurança que os espaços prepararam para recebê-lo. Alguns dos cinemas relatam um público correspondente a 7% e 8% comparado ao mesmo período do ano passado - claro, em outras condições, com filmes sendo lançados normalmente e com outro "espírito da época".

Embora nenhuma saída à rua possa ser garantida com definitiva segurança, e mesmo as próprias salas de cinemas e seus representantes não queiram aglomerações, os protocolos requisitados para a reabertura são rígidos. Um software desenvolvido localmente e distribuído para os exibidores automaticamente esvazia poltronas ao redor daquela que o visitante comprou; o uso de máscaras é obrigatório em todos os ambientes; as sessões têm um intervalo mínimo de 30 minutos entre uma e outra, embora em muitas salas ele seja maior; existe a recomendação de comprar ingressos pela internet, para minimizar o contato entre clientes e funcionários, que estão treinados e com as condições de saúde monitoradas dia a dia.

Estudos realizados ao redor do mundo nos últimos meses também apontam para um risco baixo de transmissão nas salas, embora o assunto não seja unânime. Um levantamento do Comitê de Promoção de Filmes da Coreia do Sul não identificou nenhum caso de transmissão nos cinemas do país desde fevereiro - as salas não fecharam em nenhum momento por lá, e 31 milhões de pessoas passaram pelos cinemas até setembro, de acordo com a entidade. Outro levantamento do site americano CelluloidJunkie, que entrou em contato com 100 redes de cinema ao redor do mundo, também não identificou nenhum caso de transmissão. Uma infectologista da faculdade UC Davis, na Califórnia, Natascha Tuznik, reforçou positivamente os protocolos citados para as salas de cinema, recomendou o uso ininterrupto da máscara (melhor evitar a pipoca, portanto) e lembrou: "'Menos risco' não quer dizer 'risco nenhum'",

Em São Paulo, um texto nas redes sociais do produtor e empresário André Sturm - do Petra Belas Artes, na Rua da Consolação - de que o cinema poderia voltar a fechar as portas em dezembro por conta da baixa frequência de público causou repercussão entre fãs e profissionais das salas de cinema da cidade. Para os exibidores ouvidos pelo Estadão - Belas Artes, Espaço Itaú de Cinema, CineSesc, Reserva Cultural e Kinoplex - não há um consenso geral sobre as atividades, mas a maior parte concorda que o cinema ficou de vilão na história da reabertura.

"Em São Paulo, em setembro tudo estava aberto, menos os cinemas. Isso causou a impressão de que o cinema é a porta do inferno", diz Sturm.

"Os restaurantes estão cheios. No bar é todo mundo sem máscara, falando alto, se encostando. Não faz sentido."

Para o proprietário do Reserva Cultural e da distribuidora Imovision, Jean-Thomas Bernardini, a situação está ruim, mas há saídas. "Para nós, e para todo mundo, é um desastre. Não tem público e não tem filme. São dois fatores. O negócio é que realmente todo mundo tem opinião é que o cinema virou um total vilão da pandemia. É perigoso? Pode ser, mas não tanto quanto a maioria das coisas que já estão abertas. Não tem nenhum caso no mundo que foi nomeado como um caso que pegou no cinema. O que houve?"

Bernardini se refere aos freios que o mercado de distribuição impôs aos lançamentos em 2020, adiando os filmes maiores para o ano que vem e soltando os deste ano em ritmo de conta-gotas. "Nós, como Imovision, decidimos que íamos dar força para os cinemas, e lançamos alguns filmes, agora vamos lançar o Babenco, selecionado para o Oscar. Porque se todo mundo segura para ano que vem, não terá salas de cinema para exibir. Os distribuidores recuam, não tem público, acabando tendo pouco espaço na imprensa. Chegou num nível indecente", lamenta.

O exibidor Adhemar de Oliveira, do Espaço Itaú, diz por sua vez que o baixo público era esperado por conta mesmo da desorganização do calendário de estreias. "Os filmes comerciais, muitos documentários, os nacionais mais populares, e mesmo os internacionais foram adiados, isso contribuiu para uma baixa. Por outro lado, é importante falar que a gente não é maluco, não é negacionista, seguramos as pontas no tempo em que ficamos fechados, e quando surgiram os protocolos, atendemos todos", diz. "Mas existe uma irracionalidade em apresentar apenas os perigos das salas de cinema. Os protocolos são rigorosos, estamos cumprindo todos os exigidos e mais alguns, não tem nenhuma notícia de quebra de protocolo dentro dos complexos e das salas. Então, acredito que agora seja uma questão de organizar o calendário, e difundir isso."

A gerente nacional de marketing do Kinoplex, Patricia Cotta, também aguarda mais filmes para reforçar a frequência das salas. "O que precisamos agora é que os estúdios sigam com a liberação dos grandes lançamentos. Estes filmes podem incentivar ainda mais as pessoas a irem aos cinemas, e assim elas poderão comprovar o alto nível de higiene e segurança apresentado e voltar a viver essa experiência única", diz.

No CineSesc da Rua Augusta, algumas sessões chegaram a ter apenas um espectador, mas segundo o gerente geral do espaço, Gilson Packer, as pessoas estão com vontade de ir, mesmo que ainda reticentes quanto à segurança. "No Mix Brasil, com filmes exclusivos do festival, quando colocamos à venda, vendeu tudo em questão de minutos. Apareceram 40 pessoas, metade da intenção na aquisição." Para ele, também não é possível isolar uma atividade externa - ir ao cinema, passear no parque, comer em restaurantes, por exemplo - da outra.

André Sturm vem tentando articular com entidades do setor reuniões com o governo federal, mas ainda não há novidades. Em setembro, a Ancine divulgou o resultado do Programa Especial de Apoio ao Pequeno Exibidor (Peape), que, segundo a agência, beneficiou 185 empresas exibidoras e distribuiu R$ 8,5 milhões como apoio não reembolsável. "Tem muitas entidades no setor, nossa área é muito fragmentada", diz Sturm. "O melhor jeito seria o governo assumir uma posição mais definitiva."

Bernardini concorda, mas não se diz esperançoso com essa possibilidade. "Alguns empréstimos e linhas de créditos que saíram não foram efetivados, não havia interesse dos bancos. Também não adianta emprestar muito, porque vai ser uma dívida a mais no futuro." Ele pretende continuar aberto para seguir atendendo seu público cativo, mesmo que reduzido, e reconhecendo que a situação financeira é difícil. E termina fazendo um apelo: "A gente pede socorro".

Estadão
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