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Filme: As Virgens Suicidas




De: José Ricardo Pinto
Vi "As virgens Suicidas" faz um tempão (na época da Mostra de Cinema do RIO em Outubro/2000) e confesso que foi um filme que não me deixou marcas impressionáveis. Acho que o principal é ver o trabalho de Sophia Coppola que se tornou "conhecida" pela sua polêmica aparição em "O Poderoso Chefão 3" do papai Francis. Nascida e criada no meio cinematográfico, era de esperar que Sophia virasse estrela (logo de cara isso ficou óbvio que não ia dar certo) ou entrasse para o cinema para trás das cameras (o que é BEM mais interessante).

Achei "As Virgens Suicidas" bastante irregular. Como se a diretora estivesse fazendo muito esforço para mostrar seus dotes artísticos, logo em seu primeiro filme. O anti-clímax talvez seja a razão de minha leve decepção, porque ao invés de mostrar o desmoronamento do padrão conservador da família reprimida ao longo da narrativa, já entramos sabendo de tudo, sem surpresas, como o próprio título já diz. Mas também acho que a própria Sophia não estava muito interessada em fazer nenhum thriller, nem aprofundar muito sobre os conflitos sociais gerados pela repressão dos anos 60. Sua principal intenção era fazer uma obra plásticamente poética como uma crõnica singela.

O erro também foi meu em esperar algo como "Heavenly Creatures" (não lembro do título em português) de Peter Jackson onde há um total desfacelamento criado pela relação fortíssima entre duas moças. Mas existem grandes achados em "As Virgens...". e um deles é sem dúvida a Kathleen Turner que mostra sua convicção como ótima atriz, não adotando o visual de 99 por cento das atrizes de sua geração. Gorda , preocupada, e rabugenta (sem cair no estereótipo da megera malvada) ela dá o tom exato para que o suicídio das virgens aconteça. Uma mãe que não sabe a diferença entre colo e sufocamento, uma vilã poética, enfim uma maravilhosa interpretação!

Resumindo: Vejo este filme como uma válida intenção e uma obra muito particular de uma estreante que ainda pode render ótimos filmes se devidamente mais concentrada no impacto da emoção.

De: Gerbase
É, acho que concordamos no essencial: o filme vai perdendo a força com o passar do tempo, e aí o suicídio coletivo não tem a dramaticidade que a gente espera. Claro, não poderíamos exigir um final grandiloqüente, mas, do jeito que ficou, é quase decepcionante. No seu P.S. (que não publiquei a seu pedido), você falou dos filmes brasileiros para o Oscar, e eu esclareço que apenas os filmes lançados até outubro podiam ser inscritos. Obrigado pela força.

De: Ana Paula Penkala
Li tua resposta ao meu comentário sobre "Corpo Fechado". Constatei que tu teve a mesmíssima impressão que eu deixei em minha crítica sobre o mesmo filme (www.pelotasnet.com.br), a respeito do Elijah Price e semelhanças com um Magneto da vida. Outra coisa que notei (leio sempre tuas colunas) é que nosso gosto pelo cinema é o mesmo, embora em direções divergentes. Meus filmes e diretores prediletos divergem dos teus e os alvos de meu asco, desprezo ou até indiferença são amigáveis pra ti. Mas Hitch é um mestre que não se pode negar, mesmo que eu ainda ache que muitos de seus filmes pecam em alguns sentidos... e eu fico sim acordada em todos eles (aliás, aprendi a amar o cinema ficando, com 4 anos de idade, acordada até umas 5 da manhã vendo filmões nos bons tempos dos corujões e afins).

Quanto ao Encouraçado Pato Quentin, sinceramente foi duro de suportar um filme daqueles sem ficar moribunda, apesar de ser a obra que é. As cenas da escadaria de Odessa, essas sim, hilárias, incríveis, históricas e inexplicáveis (aliás, como os habitantes da Odessa daquela época eram horrendos!). Fiquei é com um baita nervoso de ter ido assim tão na contramão do que Gerbase (...) profere. Mas somos pessoas diferentes e ainda acho que é melhor impor uma opinião verdadeira que mudar com a maré, mesmo que em águas de Gerbase. Por falar em maré, visse o Náufrago naufragado de um avião? No mas, colega, um muito obrigada e minha eterna admiração. Vê se faz mais longas que os gaúchos merecem!

De: Gerbase
Já que gostas da escadaria de Odessa, sugiro dar uma olhada na cena da escada em Interlúdio, do Hitch. E obrigado por discordar, argumentar e incentivar.

De: Keli Boop
Não assisti "As Virgens..." e, provavelmente, não vá, mas pensando bem, até que gostaria de ver K. Turner, ela é bárbara. Vou dar uma de "pleigue" (uma expressão que um cara que conheci em SP, o Fernando Naporano, costumava dizer sobre o comportamento de determinadas pessoas) você me permite uma observação a respeito de uma frase sua em Opinião que li agora? Fulano de tal é "introduzido para fazer o serviço". O que exatamente vc quer dizer com isso?! Tá, tudo bem é aquilo, sim entendi, mas me parece, colocado dessa forma, que a virgindade/sexualidade feminina é um peso que a mulher carrega (e muitas vezes é) e o homem tem que ir lá e, caridosamente, "fazer o serviço", como se fosse uma obrigação a mulher deixar de ser virgem, como se fosse uma obrigação a mulher trepar pra justificar a sua condição de fêmea e o homem, por sua vez, prá justificar a sua condição de macho, comê-la.

Não que isso não seja necessário em alguns momentos nas relações afetivas/sexuais, a questão está na forma gratuita como isso tem sido colocado pras pessoas. "Fazer o serviço", na melhor das hipóteses, é cumprir uma obrigação com rapidez e eficiência. OK, não assisti ao filme, até pode ser intencional o papel do garoto que foi lá "introduzido pra fazer o serviço", mas se isso ocorre, há uma outra leitura nessa tal história, muito mais profunda, digamos assim, que deveria/poderia ser comentada. Estou escrevendo isso porque tem aí alguma coisa que me incomoda, porque eu sou chatíssima e neurótica (como diria a Madonna, "nobody´s perfect") e também porque admiro bastante a forma como você "administra" o seu espaço, não necessariamente nessa ordem. Ainda tem uma outra hipótese: porque eu não entendi nada. Talvez eu tenha que ler Camile Paglia (juro, até que tentei, vendi o livro na falta de grana, certa vez...), mas é que estou mais pra Beauvoir do que "la palha".

De: Gerbase
O "introduzido", pode ter certeza, foi fruto de ato-falho inconsciente, levemente machista, mas até que é divertido. O "fazer o serviço", por sua vez, é apenas grosseria. Os homens não se livram muito facilmente de mais de dois mil anos de discursos patriarcais e fálicos. Minhas sinceras desculpas às mulheres, que, espero, continuarão sua saudável cruzada em direção ao poder. Só posso advogar, em minha defesa, que gostei de As virgens suicidas, APESAR de ser dirigido por uma mulher (AGORA foi uma ironia). E também já peço desculpas por publicar parcialmente sua mensagem. Quem manda confiar nos homens?

De: Reame
Com relação a obra "As Virgens Suicidas", não pude ver, o que lamento muito, mas, meus amigos que viram, gostaram, lembrando que Sofia dirige melhor do que interpreta... Quando sair em vídeo eu vejo para conferir. Uma passagem de seu texto me chamou a atenção, mencionava o "feminismo rancoroso". Isso involuntariamente me fez lembrar de "Thelma & Louise", de Ridley "só-fiz-três-filmes-bons" Scott. Qual sua opinião sobre o filme que divide-se entre aqueles que amam e odeiam (confesso que fico no meio do caminho)?

De qualquer maneira, mando esse e-mail devido a quantidade de pessoas, que discordaram de vc, descarregando ódio e até atacando o seu Tolerância (outro que não vi, peço desculpas). Tudo bem, nem sempre gostamos de ouvir opiniões contrárias, mas por isso que essa coluna é importante! Para cada um expor o que pensa, claro. Uma frase que deveria ser o lema de cada um: "Gosto se discute, mas, antes de mais nada, se respeita". Obrigado, Gerbase. Até logo e até mais.

OBS: Muita gente já mencionou isso, mas a seção "Favoritos" não tem novidades faz meses. Se tiver tempo, Francis Coppola é uma grande pedida, mas Kurosawa e Buñuel tão implorando para entrar.

De: Gerbase
Acho Thelma e Louise meio chato, mas não creio ser um caso de feminismo rancoroso, e sim do velho feminismo romântico de Hollywood, na medida para agradar às famílias de classe-média. Quanto aos Favoritos, pretendo um dia retomar a tarefa, mas isso não depende só de mim.

De: Andre Augusto Lux
Acabei de ler sua resposta ao meu comentário sobre sua critica ao CORPO FECHADO. Mais uma vez reafirmo que o filme foi coerente no que diz respeito ao Willis desconhecer seus super-poderes. Ele só foi se dar conta disso depois do acidente e da aparição do Samuel Jackson. Como disse, seria absurdo o cara sair clamando ter super-poderes só porque nunca pegou um resfriado. Tudo bem. Tem a cena do acidente, onde ele praticamente arranca a porta do carro. Mas e dai? Acha que isso é suficiente para o cara achar que é o super-homem? Uma vez meu sobrinho sofreu um acidente - estava perto de um teleférico que desabou, sendo que uma das árvores onde estava amarrado caiu sobre ele. Minha mãe (que tinha 58 anos na época) correu até o local e, sozinha, tirou a árvore de cima do garoto e a jogou longe. Passado o susto, ela tentou fazer o mesmo de novo. Não conseguiu nem mexer a arvore! E agora? Será que a minha mãe é a Mulher-Maravilha, mas está escondendo o jogo???

É de conhecimento geral que em momentos de grande estresse o ser humano pode até ganhar forças sobre-humanas. Vai ver o Willis achou que fosse esse o caso, ou então, estava tão entretido em salvar a vida da sua mulher que nem se ligou que tinha arrancado a porta... Bem, pelo menos foi isso que o filme claramente me passou. Mas cada um tem o direito de tirar a conclusão que quiser. Quanto ao seu TOLERÂNCIA, é... vai ver não entendi direito mesmo. Achei que tinha escutado a ninfeta dizendo que se aproximou da filha do Júlio pois tinha se apaixonado por ele, depois que teclaram naquele chat. Só achei absurdo, pois o filme não dá nenhuma pista de COMO ela sabia quem ele era na vida real, ainda mais quem era a filha dele! E vc também não se preocupou muito em me explicar... por isso acho que foi um furo mesmo. Bem grande, por sinal. Daqueles que fazem o filme perder toda a lógica, já que essa é uma das "molas" propulsoras dos conflitos que finalizam o filme. E olha que eu estava extremamente bem-humorado naquele dia!!!

De: Gerbase
Eu, se fosse você, dava uma olhada no armário da sua mãe, atrás de umas roupas azuis e vermelhas. Se ela disser que é fantasia por carnaval que se aproxima, faça de conta que acredita. Mães têm sempre razão, principalmente as que não estão nas histórias-em-quadrinhos. Quanto ao Tolerância, não vejo qual é o problema: elas eram amigas e teclavam juntas, usando o mesmo pseudônimo - Sabrina; Guida revela para a amiga que o tal Ivanhoé é seu pai (ela descobriu junto com a mãe); Anamaria tecla sozinha, como Sabrina, e se apaixona (ou ao menos fica interessada) por Júlio; Anamaria conhece Júlio pessoalmente, levada pela amiga para um fim de semana no sítio. Onde está o furo? Claro que essa cadeia de acontecimentos não está explícita no filme, mas o espectador pode deduzi-la com alguma facilidade.

De: Carlos Zanella
Escrevi um dos enecentos mails sobre sua crítica de "Corpo Fechado", e antes de tudo agradeço por tê-lo publicado. Vamos à resposta à sua resposta:

Não tem nada de contraditório ou confuso na minha mensagem, quando eu coloquei "Quadrinhos e Cinema são praticamente uma linguagem só!" e "Eu achei a tradução de uma linguagem pra outra em "Corpo Fechado" muito boa." no mesmo parágrafo. Repare que eu disse "PRATICAMENTE uma linguagem só". Elas têm mais semelhanças do que diferenças, mas TÊM diferenças (um é desenho em papel, outro é imagem em movimento - fato óbvio, porém necessário de ser observado), e uma tradução é necessária quando se quer passar de um universo pro outro - e uma tradução malfeita pode acontecer, como a aberração chamada "Batman & Robin", por exemplo.

"Corpo Fechado", na minha opinião, é um caso onde essa tradução foi feita magistralmente. O que me levou a fazer esses comentários naquele meu mail foi um esclarecimento a respeito do assunto: muita gente, principalmente críticos, ignora esse casamento entre cinema e HQ, muitas vezes por preconceito ou por não conhecer bem a linguagem das comics, não levá-la a sério como merece. Não sei se esse é o seu caso, mas eu tenho muitos motivos pra discordar de você quando diz "A idéia era criar um contraste violento (...) entre a narrativa tradicional de uma HQ, com muita ação e ritmo frenético, e o que efetivamente está na tela, um lento e sombrio deslocamento dos personagens rumo à sua verdade existencial." e "Cinema não é história em quadrinhos".

Nem toda HQ tem um ritmo frenético, por exemplo - experimenta ler algumas coisas do Moebius. Não sei se vc conhece, mas se não, acho que vai gostar... Quanto aos seus papéis de "cineasta" e "crítico" que eu questionei, é uma coisa sua que me intriga: você detesta quase todos os filmes a que assiste! Dá a impressão que você odeia cinema. Claro que sei que você não odeia, senão você teria uma vida tão atormentada quanto a de uma vaca com alergia a lactose, mas por quê não escreve críticas de filmes que gostou, só pra variar um pouco?

(Parêntese: também achei "Contos Proibidos" duca) E, relendo meu mail, percebi que fui um pouco rude mesmo, acabei te subestimando e não achando que daria uma resposta legal pra ele. Mas numa coisa eu firmo pé: lamento, mas não gostei de "Tolerância" MESMO. Prefiro ser sincero do que ser tolerante...

De: Gerbase
Concordo, as HQs podem ter um ritmo lento. Mas que tipo de HQ é mostrada no filme e colecionada fervorosamente por Jackson? HQs clássicas de super-heróis americanos, com super-poderes, envolvidos em super-lutas. Marvel, DC Comics, etc. Qual é o ritmo dessas HQs? Frenético. Moebius é francês e, confesso, não está entre os meus preferidos: Allan Moore, Frank Miller, Jim Starlin, Manara, T.K. Ryan (sim, eu tenho a coleção completa de Kid Farofa), Johnny Hart (o mesmo para B.C.)., Dick Browne, Hergé, Uderzo & Gosciny, Feiffer, Quino, Laerte, Angeli, Glauco e Adão Iturrusgarai. Como podem ver, sou eclético, mas só gosto de heróis com problemas, ou que nos façam rir de sua suposta fortazela moral. Hergé é exceção. Mas sempre é bom deixar um restinho do nosso fascismo infantil no fundo da gaveta. Como saber o que é democracia sem alguma consciência histórica?

De: Livia Lima
Li sua crítica sobre "Virgens Suicidas", e já estou louca p/ assistir. Admito que tive um certo receio, afinal, Sophia horaria o nome Coppola? Não tenho mais dúvidas e quero assistir. Mas, assim como em todas as vezes em que te escrevi, tenho uma dúvida. A direção de um filme seria influenciada pelo sexo do diretor? É um pouco difícil responder pois a imensa maioria de diretores faz xixi em pé. Teria a sensibilidade "feminina" de Sophia Coppola dado a "Virgens Suicidas" o clima poético, que vc mesmo cita? O filme teria a mesma qualidade se fosse dirigido por um homem? Ou Sophia é mesmo um caso raro de aprendizado desde cedo, acompanhando o pai nas filmagens? Sem querer fazer uma guerra de sexos, quem dirige melhor: homens ou mulheres? O olhar feminino é o que falta no cinema?

P.S.: desculpe bombardeá-lo com tantas perguntas.

De: Gerbase
A pergunta "A direção de um filme seria influenciada pelo sexo do diretor?" é muito interessante. Na teoria da literatura, há dois movimentos recentes muito importantes, a Crítica Feminista e os Gay and Lesbian Studies, que afirmam mais ou menos o seguinte: toda a literatura mundial está baseada em princípios de dominação machista e heterossexual, pois, além da predominância dos autores masculinos, há – e isso ainda é mais importante! – o pressuposto de que o leitor é um homem heterossexual. Assim, até as escritoras (ou diretoras, fazendo a ponte) escreveriam/filmariam pensando em um público masculino. É uma discussão complexa, que você pode ver apresentada de modo muito agradável em "Teoria da Literatura – Uma introdução", de Jonathan Culler, livrinho recente e que está nas boas livrarias.

Lembro de uma crítica que fiz de Impacto profundo, em que discuti – de forma rasa e, é claro, levemente machista – os problemas que uma mulher enfrenta para fazer um filme. A direção é um trabalho pesado, que exige boa dose de comando e autoridade, teoricamente qualidades de quem faz xixi de pé. Que podem – na verdade, devem - ser exercidos com sensibilidade e leveza, estereótipos da feminilidade sentada. Enfim, não vou tentar ir adiante.

Lembro apenas que uma das maiores obras-primas da literatura infanto-juvenil, "Alice no país das maravilhas", foi escrita por Lewis Carrol, que tinha como hobby fotografar e escrever cartas de amor para criancinhas inocentes. Era um monstro? Não sei. Mas isso em nada prejudica a genialidade de sua obra. Ou, quem sabe, até seja a sua causa. Em certos momentos, separar autor e obra também parece ser saudável. Assim, ninguém precisa se envergonhar de gostar de um excelente filme dirigido por um porco chauvinista. E até mais.

As Virgens Suicidas (EUA, 2000). De Sofia Coppola


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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A Gente Ainda Nem Começou e "Fausto"). Em 2000, lançou seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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