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Alta Frequência

De
Gregory Hoblit





RAPIDINHO
Brincar com o tempo é um dos passatempos preferidos do cinema. Os filmes, graças à montagem, têm a capacidade de alternar presente, passado e futuro com uma velocidade narrativa que outras linguagens não conseguem imitar. Em Alta Freqüência, essa qualidade essencialmente cinematográfica é explorada com o objetivo de construir um drama familiar hollywoodiano (filho que perdeu seu pai ainda criança o reencontra através de ondas de rádio), seguindo todas as regras e buscando sempre emocionar ao espectador. Quem gosta de ficção-científica (como eu), e pretendia ver um filme que falasse do tempo com alguma criatividade, quebrou a cara. Alta Freqüência, apesar de algumas boas intenções e uma produção cuidadosa, já é passado. E espero não reencontrá-lo no futuro.

AGORA COM MAIS CALMA
Num filme como esse – que parte de uma premissa muito inverossímil - há duas alternativas: não explicar coisa alguma, deixando que a "anomalia temporal" simplesmente exista como ponto de partida da história (e O feitiço do tempo é um bom exemplo); ou explicar com alguma competência, usando as ferramentas bem conhecidas dos mestres da ficção-científica. O roteirista de Alta freqüência, contudo, não faz nem uma coisa nem outra. Mostrar a aurora boreal sobre Nova Iorque, pontuando os dois lados da ação (separadas por 30 anos) é um recurso que talvez engane crianças da pré-escola. Seria melhor não explicar nada. Mas, como em toda a história fantástica, vamos dar de barato que a premissa deve ser aceita, e pronto. E vamos torcer para que, a partir daí, as coisas melhorem.

Infelizmente, não melhoram. O filme até que começa bem, com uma cena de bombeiro herói salvando alguém que vai morrer, enquanto rolam os créditos e ficamos conhecendo o personagem de Dennis Quaid. O roteiro faz uma brincadeira com quem, antes da sessão, já leu alguma coisa a respeito da história (ou viu o trailer) e sabe que Quaid está morto no presente da narrativa. Esta cena inicial, portanto, poderia ser a da sua morte. Assim como várias outras a seguir. E é aí que mora o perigo. Quantas vezes um dos personagens principais de uma história pode morrer antes que o espectador perca o fio da meada? Ou, o que é mais provável, perca a paciência?

Em De volta para o futuro, Zemeckis também mexeu com as relações temporais, mas com mais competência e com muito mais humor. Em Alta freqüência, tudo tem um tom solene demais, sério demais, o que acaba fazendo os malabarismos do roteiro (como as alterações do passado que se refletem no presente) parecerem tão inverossímeis como uma cédula de dois reais. Para piorar as coisas, o filho, que está no presente, levanta algumas questões básicas para a trama, que nunca são respondidas. A principal delas é a seguinte: se alguém está mexendo no "meu" passado, mudando coisas importantes da "minha" vida, como essas mudanças se refletem nas "minhas" memórias? Imaginem alguém que, de uma hora para a outra, tem lembranças diferentes? É um caminho sem volta para a loucura. O filho teria que, pelo menos, ficar muito confuso, em vez de encarar tão racionalmente a zorra total de sua mente.

Todas essas questões, é claro, são menores para quem consegue "embarcar" na história e sentir o drama de um cara amargurado pela morte do pai e que tem, em suas mãos, a chance de salvá-lo. A idéia de fazer o salvamento de seu pai colocar em perigo sua mãe é muito engenhosa e, se devidamente explorada, seria, por si só, um ótimo argumento. É uma pena que Hoblit perca um tempo demasiado com diálogos pseudo-nostálgicos sobre beisebol e merchandisings "espertos", como o da Yahoo, (tentando, sem sucesso, imitar o das cuecas Calvin Klein em De volta para o futuro). De qualquer maneira, frente à pobreza quase absoluta de lançamentos norte-americanos, Alta freqüência pode ser um bom programa. Só não esperem dele qualquer reflexão mais profunda. E até mais.

Alta Frequência (EUA, 200). De Gregory Hoblit



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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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