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Alta Fidelidade

De Stephen Frears






RAPIDINHO

Dizem que o livro do inglês Nick Hornby é o máximo. Pena que não li. Assisti, dois meses atrás, à peça A Vida É Cheia de Som e Fúria (adaptação paranaense) e agora ao filme de Frears (adaptação americana, dirigida por um inglês). Confesso que não gosto muito de nenhuma das tentativas, mas, mesmo sem conhecer o original, arrisco dizer que a adaptação paranaense é mais legal. O filme de Frears é gelado demais, irônico demais, "cool" demais. Em nenhum momento o personagem de John Cusack perde sua pose, em nenhuma cena ele parece realmente sofrer com as separações de suas cinco ex-mulheres. Quando está triste, vai para a chuva, que cai sempre no momento exato. Tenho certeza que, na prosa de Hornby, além das intermináveis listas, havia uma intensidade dramática maior, uma exposição mais honesta e mais emocionada do drama, que Frears trata como simples "divertimento".

AGORA COM MAIS CALMA
Frears é dos grandes. O cara fez, entre outras obras-primas, Minha adorável lavanderia, Terra de paixões (que já comentei aqui no Terra), Os Imorais e Ligações perigosas. Listo tanto suas produções inglesas como as americanas, pois o cara joga bem em casa e fora. Mas, desta vez, trabalhando com uma história inglesa (recontada por roteiristas e atores norte-americanos), a coisa não funcionou tão bem assim. Está lá a competência de Frears, sua habilidade em conduzir o elenco, sua leveza na movimentação da câmara, seu senso de equilíbrio e de ritmo. Alta fidelidade é um filme agradável de ver e de ouvir; contudo, ele cansa olhos e ouvidos depois de um certo tempo.

O culpado, como sempre é o mordomo, quer dizer... é o roteiro. E o erro fundamental é a opção em manter a primeira pessoa explícita do livro, repetitiva. John Cusack está sempre no mesmo tom "cool", olhando para a câmara como se o espectador fosse seu amigo e confessor. Funciona na literatura, funcionou bem na peça. No filme, cansa. Se os roteiristas fossem mais ousados e acabassem com a imensa auto-confiança do personagem central (por mais que ele se deprecie, é óbvio que se acha genial), se narrassem a história com um ponto-de-vista menos engraçadinho e mais existencial, tenho certeza que Alta fidelidade seria um filme bem melhor.

Tenho a impressão que o crédito dado a John Cusack como roteirista explica um pouco essa frieza do filme. Tudo está concentrado demais em Rob, o personagem de Cusak: ele é o protagonista, o narrador e o anti-herói. Apesar do seu grande talento e de seu razoável tempo na tela, Iben Hjejle (que faz a Laura) não consegue ter vida própria, enquanto as outras mulheres da lista, inclusive Catherine Zeta-Jones, não passam de caricaturas. Os companheiros de Rob na loja também não empolgam. Na verdade, não precisariam empolgar, pois são coadjuvantes, mas, com um protagonista esmaecido, eles poderiam ter muito mais brilho sem atrapalhar.

E, finalmente, só pra dar uma de chato, num filme que tenta parecer tão "por dentro" da música (apesar da trilha não ser nada memorável), lembro que, quando o gordo da loja de discos afirma que as influências de sua banda são alemãs, o magrinho rapidamente chuta Kraftwerk, uma outra banda que não lembro e Falco. Acontece que Falco, amigos leitores, nasceu em Wien-Margareten, distrito da cidade de Viena, na Áustria. Bola fora. Lista mal feita. E um filme menor na carreira do grande Frears.

Alta Fidelidade (Reino Unido/ EUA, 2000). De Stephen Frears

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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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