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Filme: Vem Cantar Comigo





De: Gerbase
Antes de qualquer coisa, prometo retornar a coluna ao seu dia tradicional: terça-feira. Eu vou me esforçar, prometo. Não chegaram mensagens sobre Vem cantar comigo, que saiu de cartaz rapidinho. Coitada da Gwyneth Paltrow: só quem caiu no conto da estrela dirigida pelo pai em filme musical moderno foi este ingênuo colunista. Mas, em compensação, chegaram mais algumas coisas sobre Traffic e uma cartinha muito querida de um certo Koblitz. Vamos a elas.

De: Reame
Devido a uma série de contra-tempos (incluindo computador quebrado), não pude mandar minha opinião sobre Traffic a tempo. Entrei no cinema com a expectativa de ver uma grande bomba. Surpresa! Não achei o filme ruim. Pelo contrário, estava gostando bastante dele no início, apesar da fotografia daltônica. Mas depois de algum tempo comecei a me lembrar porque não gosto do diretor... Concordo com algumas coisas escritas na sua coluna, como duvidar o tempo todo do caráter de Del Toro (grande ator) e combinar várias sub-tramas.

Só que Traffic acabou me lembrando da bomba Irresistível Paixão, aonde a historinha é desnecessariamente complicada para além da compreensão humana. O filme não é tão ruim nesse aspecto, mas o ritmo é muito rápido e a montagem complica desnecessariamente a trama, que é interessante. Traffic é uma overdose de personagens, lugares, situações, organizações, etc... Quanto mais o tempo passava, menos conseguia acompanhar tudo. O drama não convence, pois os personagens, além de serem óbvios, são muito superficiais. Como vou sentir algo pela Zeta-Jones, se o filme não informa como era o relacionamento dela com o marido antes da prisão, se o relacionamento com os filhos também não é mostrado, não mostra como era a vida pobre dela, e a atuação apenas correta da atriz não ajuda? O mesmo vale para o amigo "Manolo" de Del Toro e, especialmente, para os outros dois policiais. Um dos quais morre de maneira clichê. Aquele traficante que eles protegem merecia mais cenas, mas também não sabemos de nada, e ele morre da maneira mais previsível possível. Pior mesmo, só a sub-trama da patricinha viciada, que é um clichê completo, e os atores não ajudam. Especialmente Douglas, coitado, que nunca esteve tão ruim.

Por sinal, a conclusão é ridícula. Precisava terminar daquele jeito? Com Douglas e a filha naquela cena politicamente correta? E a mensagem de que "nós, americanos, estamos aqui para resolver os problemas das drogas criados pelos mexicanos (e a solução é criar campos de baseboll...)". Portanto, minha opinião final é esta. Traffic não é ruim, tem seus bons atores e bons momentos, mas não funciona, no final das contas, pois não convence como drama (personagens rasos), não convence como filme policial (é confuso) e pouco diz sobre o tráfico algo que eu já não saiba, pois apenas chove no molhado. E Steven Soderberh vai continuar sendo um picareta para mim, até que ele se esforce bastante para provar o contrário. Até logo, e até mais.

De: Gerbase
Respeito a sua visão de Traffic e até concordo com algumas coisas que você diz, principalmente em relação ao modo como americanos e mexicanos são contrastados. Contudo, creio que você viu tudo menos o essencial: não há sub-tramas. Há uma única trama, que tenta – muito originalmente – dar conta de um problema complicado demais para ser compreendido através de um único ponto-de-vista. Traffic tenta não ter protagonistas e coadjuvantes. Tenta não ser tradicional. Tenta aproximar-se do ensaio e afastar-se do romance. Claro que tudo isso é complicado e não dá 100% certo. Mas o que dá certo (uma visão complexa, mesmo que ainda parcial, do tema) já justifica a tentativa. Traffic não é "desnecessariamente complicado". Você que desejava ver as coisas necessariamente simples.

De: Lucas Gonzaga
Desculpe meu constante atraso nas respostas. Em parte é o trabalho, também achava que os leitores ressaltariam mais alguns defeitos do filme que não foram lembrados. Fiquei feliz de ver que você, Gerbase, também tem um pouco dos defeitos dos espectadores comuns, que é o de se empolgar com filmes e muitas vezes deixar de ver alguns erros muito graves do roteiro de Traffic, que dificilmente passariam despercebidos de suas análises em geral bastante críticas dos roteiros.

Por partes: a Catherine Zeta-Jones, uma mulher inocente que nunca na vida se preocupou com o trabalho do marido. Imaginem que uma testemunha disse que na empresa não tinha nada de estrutura. Agora eu pergunto para as casadas ou casados: vocês nunca foram uma vez sequer no local de trabalho de seus cônjuges? 10 anos e nenhuma visita? Difícil acreditar né? Pior, em alguns dias ela passa a querer ser controladora de todo o tráfico entre Estados Unidos e México, inclusive acha o traficante mais procurado do México facilmente. Que bela intuição, hein...

E a coragem do diretor. Nas cenas de sexo da guria, uma drogada que dá para qualquer um que tiver um pouquinho de pó na frente, o diretor foge de mostrar qualquer parte do corpo dela. Os planos esquivam-se dela, assim como de picadas, closes. Nada pode ser mostrado, a censura está aí, então o diretor foge e não mostra nada mesmo, que bela coragem hein? Tenta fazer um filme realista, mas foge de mostrar as coisas na dureza, na cara, isso pode prejudicar a carreira do filme. Que coragem do diretor hein? Nestas horas que temos que se curvar a diretores como tu Gerbase. Olha aqui, se tem que mostrar, mostre-se. Ao meu ver era fundamental que se mostrasse ali as drogas e que se mostrasse a degradação física, mas não...

Sobre a fotografia, estou esperando ainda alguém me explicar o que eram aqueles contrastes entre o México e os Estados Unidos. Estou esperando me explicarem a diferença entre o azul e o amarelo. Qual a razão daquilo? Pra que serve? O filme tenta colocar que não há fronteiras para o tráfico e a fotografia desmente tudo colocando uma senhora barreira de cores entre os países, entre personagens parecidos. Mas que raio de bobagem é aquilo? O quanto de realidade está naquilo? Por que separar?

A filha do Michael Douglas, é uma viciada, foge de retiros, foge de grupos de combate às drogas e de repente no final sem mais nem menos está totalmente curada. Briga sem parar com os pais e de repente aparece totalmente recuperada. Que belíssima solução para o roteiro não? Não há a mínima razão para isso. No filme, só aparece que o Michael Douglas voltou para casa, simples, né? De repente ela já consegue falar sobre as drogas, refletir com maturidade, que maravilha hein!!!! É assim mesmo que funciona na vida real, é bem simples se livrar das drogas... Mas era o final do filme, ela tinha que ser curada, como não deu tempo de tentar achar algo minimamente crível, simplesmente não se disse nada. Assim espera-se uma espetacular boa vontade do espectador para poder aceitar tudo assim tão fácil. De viciada em drogas pesadíssimas, rebelde, oferecendo seu corpo por qualquer droga, em alguns dias ela estava ótima. Que belo exemplo de como as coisas funcionam na vida real.

E o Michael Douglas, hein? É o novo justiceiro. Pois é, ele deu uma de Nicholas Marshal e foi fazer justiça com as próprias mãos. Pois é, o chefão do combate às drogas nos Estados Unidos entra dando ordens num gigantesco centro de drogas e ninguém faz nada. Imaginem você o Renan Calheiros ou quem for o ministro da Justiça entrando na Rocinha e resgatando sua filha das mãos dos traficantes. Legal né? Agora imaginem ainda que o rosto dele está todos os dias em jornais e na televisão e mesmo assim ninguém se importou ali no bairro das drogas que ele entrasse dando ordens. Que gracinha né? Acho que se fosse o Van Damme e espancasse umas duzentas pessoas armadas até os dentes talvez eu aceitasse melhor do que o chefão nacional anti-drogas invadir tranqüilamente o bairro de traficantes. É demais pra mim...

O personagem do Danis Quaid, aquele amigo de família que dá em cima da Catherine também é horrível. Extremamente forçado, previsível, acho que já tinha visto o mesmo personagem em uns 400 filmes. O final dele é quase tão interessante como o personagem que interpreta: ridículo.

Sobre a testemunha, o tal de Eduardo Rodrigues ou o que for. Que gracinha aqueles policiais. Pois é, tinham uns 10 policiais protegendo a testemunha e uma pessoa totalmente desconhecida entra ali sem revista sem nada, entrega o que quer para a testemunha comer e fica tudo por isso mesmo. Acho que até o policial dos Simpsons descobria esta. Pior que os policiais que já tinham demonstrado em outras oportunidades do filme serem muito espertos, acharam totalmente normal, não tinham nem idéia de quem entregava a comida ali. Cada dia era uma pessoa? Há bom, assim sim....

A propósito, o filme tem algumas coisas interessantes. Em alguns momentos cheguei quase a me empolgar, mas estas questões meio grosseiras que citei acima me fizeram ter uma má impressão geral. Mas a melhor coisa do filme responde por Benício del Toro. Um ator que dizem estará no próximo filme de Walter Salles. Tomara, em Traffic sua atuação é espetacular e muito merecida sua premiação no Oscar.

De: Gerbase
O que eu disse para o Reame também serve para as observações do Lucas, que, se consideradas isoladamente, fazem sentido. Mas gostaria de falar um pouco sobre a ausência de nudez nas cenas de sexo da filha do juiz. Sinceramente, não senti falta de uma maior explicitude, nem considero que Soderberh tenha sido covarde. Ficou absolutamente claro que tipo de transa estava acontecendo: um negócio, uma troca de sexo por drogas, tanto que a aplicação de heroína é mostrada com detalhes. Não há erotismo ali (pelo menos para a garota). Então, para que gastar tempo com isso? Para uma relação dramaticamente fria, uma cena fria, com imagens frias. Quando é necessário mostrar, que se mostre, com todo o calor possível, sem censura, como no filme O Império dos sentidos, em que a relação é uma questão de vida ou morte.

De: Fabio Peres Montarroios
Sem dúvida, uma analise que necessitaria coerência. a complexidade, esquecida por todos os fabricadores de filas (vigiadas por carpetes vermelhos estrelados), esteve no filme e na sua argumentação. usar citações é uma forma dupla de fornecer informações aos leitores: conhecemos uma fonte nova (sou paulistano, não sabia do gaúcho Morin) e temos a claridade da intertextualidade, ou seja, seu diálogo com o texto de Morin foi preciso.

sempre que possível leio as críticas, mas às vezes percebemos, ainda, resquícios de gordura no seu teclado, afinal veio correndo do cinema intoxicado de imagens rápidas para vomitar algo aos leitores em seu editor de e-mail. é compreensível. um cineasta tem muitas coisas a dizer sobre um filme e quando esse não cai no gosto de um fabricante (possuidor de uma lógica diferente de quem senta pra ver) deixa transbordar alguns vícios. assisti o filme, mas agora preciso comprar esse livro que fala, aparentemente, tão bem da complexidade. adaptar a nossa visão é fundamental. não adianta falar com determinadas pessoas com o discurso errado, senão a mensagem se perde com o troco em moedas de um centavo. mostrar um americano certinho e um mexicano suspeito seria o meio viável de falar com os americanos. precisaríamos rebolar para dizer o mesmo a eles (com qualquer trilha sonora, menos tom jobim).

parabéns pelo texto! ah, o que fala sobre o super 8 também é ótimo, esclareceu minhas dúvidas sobre essa alternativa, infelizmente, tardiamente percebida. creio que não poderei fazer muito com ela já que se apagou. talvez aquela camerazinha da canon digital seja uma boa. mas digitalmente salgada.

De: Gerbase
"Gaúcho Morin?" Eu escrevi isso? Mil perdões. Seria uma honra, mas Edgar Morin, na verdade, é francês. Quanto à gordura, claro que ela pode escorrer do meu teclado; contudo, não é devido à ânsia de despejar o que acabo de ver. Por vários motivos, geralmente escrevo a coluna um ou dois dias depois de ver o filme. Outra coisa: não sou um cineasta que tem coisas a dizer sobre filmes. O cineasta diz as coisas com seus filmes. Eu, neste momento, digo as coisas apenas com palavras, e gostaria de ser julgado por elas. Sobre o super-8: a situação é complexa. A bitola está morrendo há tempo, mas há novas alternativas para comprar filme e revelá-lo no Brasil. Sugiro que você entre na lista cine8@grupos.com.br para saber mais sobre o assunto. De minha parte, sou mais a digitalzinha salgada mesmo.

De: Koblitz
Estava eu vendo o Canal Brasil (onde volta e meia aparece um filme qualquer com a Vera Fischer aos 20 anos correndo nua em um iate - ou seja, ideal), quando, de repente, começa um curta da Casa de Cinema de Porto Alegre. Pensei: "tem o dedo do Gerbase, aquele cara que só entende de cinema quando não está fazendo." Logo a seguir, aparece o crédito: "Direção: Carlos Gerbase." A história começa. A história termina. Você é um gênio!!!!!

Através dessa parada do pai comer a amiga da filha você consegue expressar os maiores dramas da humanidade! Até onde vai a tolerância das pessoas? - Pai come a filha da amiga. Trepar é melhor que dar porrada nos outros? - Pai pensa duas vezes ao bater na filha e prefere comer a amiga da filha que apanhava do próprio pai. Genial!!! Será que você não (percebe) que a solução para você fazer um filme bom está na cara? Crítico que esbanja sabedoria cinematográfica em sua coluna semanal mas que na hora de filmar não consegue canalizar seu conhecimento para fazer um filme bom: come a amiga da filha!!!!!!!!!!!!!!!!

De: Gerbase
Pensei em dar uma amenizada no seu texto, tirando as grosserias mais pesadas e, de quebra, essa insuportável inflação de pontos de exclamação (por que, na Internet, as pessoas acham que seus argumentos ficam mais fortes pelo acúmulo de obviedades?), mas resolvi deixar assim mesmo, por motivos que logo serão claros. Peço desculpas antecipadas se algum leitor sentir-se ofendido. Algumas pessoas – não a maioria - se revelam pelo que falam e escrevem. Acho que é o seu caso, Koblitz. Mas eu não tenho medo de palavras. Você tem todo o direito de gostar de filmes com a Vera Fischer correndo nua em iates. Imagino que isso lhe provoque prazer. É uma boa. Vai nessa. É seguro e cumpre perfeitamente o que Reich chamava de "a função do orgasmo". Contudo, pelo que entendi, eu não teria o direito de gostar de fazer um curta-metragem (chamado "O corpo de Flávia") sobre um pai que decide amar uma adolescente (amiga da filha), em vez de bater na própria filha (que, por sua vez, está amando seu namorado). Você, é claro, tem todo o direito de não gostar do filme e dar a sua razão: ele começa e ele termina. Eu continuarei seguindo fielmente aquele conselho do rei do País da Maravilhas para Alice: "Ao contar uma história, comece do começo, vá até o fim, e então pare." Todos os filmes geniais que eu conheço são assim. Ao contrário do seu texto, que deveria terminar com a expressão "come a amiga da filha", de forma seca e definitiva, de modo a potencializar a grosseria, mas cai na tentação de acrescentar aquele monte de pontos de exclamação, que parecem dizer: olhem como eu fui mordaz, irônico e desbocado. Ah, ah, ah.Quanto à sua sugestão de argumento para um filme, confesso que não me interessou muito. Que tal esse? - "Fã de filmes de Vera Fischer (com 20 anos, correndo nua em iates) faz um acordo com o diabo e consegue entrar dentro de um filme das madrugadas do Canal Brasil. Concretiza seus desejos mais íntimos, mas, logo depois, descobre que o iate chama-se Titanic. Vera Fischer transforma-se em Celine Dion e começa a cantar. Apavorado, vai falar com o comandante do iate. Este (o diabo é claro) olha para o pobre rapaz e diz: a nossa viagem começou, e agora, inexoravelmente, irá até o fim." Até (nunca) mais.



Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A Gente Ainda Nem Começou e "Fausto"). Em 2000, lançou seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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