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Filme: A Cela





De: Gerbase
Antes de qualquer coisa, um aviso: estou recebendo algumas dezenas de mensagens sobre meu filme Tolerância, recém lançado pela Columbia "do Rio pra baixo". Pretendo responder, se não a todas, pelo menos a uma parcela significativa. Mas não vai ser aqui, no espaço tradicional das cartas, que continuará destinado ao filme que comentei na semana que passou, no caso, A Cela. Assim, continuem mandando suas observações sobre Tolerância: em breve, começaremos nosso diálogo, em espaço especial, em que vai valer tudo, menos xingar a mãe e bater no pai.

De: Ailton Monteiro
Já faz algum tempo que não escrevo pra vc. Agora, por ocasião do filme A Cela vim comentar as suas observações. Realmente vc tem toda razão em comparar A Cela com Amor Além da Vida. Não tinha pensado nisso antes. E também não tinha pensado o quanto era sem sentido a "ajuda" oferecida pela personagem de Jennifer Lopez. Mas cá pra nós, que ela é gostosa, isso é, apesar de não explorar a sensualidade no filme. Por falar em atriz gostosa, meu irmão, a Charlize Theron no filme Celebridades de Woody Allen está um espetáculo. Há tempos não vejo tanto "sex-appeal" numa produçào americana. Acho que fiquei de olho nela desde Regras da Vida, onde ela mostra suas belas curvas para Tobey Maguire.

De: Gerbase
Jennifer Lopez tem uma coisa muito legal, que é fugir bastante do estereótipo WASP da beleza americana, o que não acontece com a Charlize. Mas, no final das contas, o "sex-appeal" de uma determinada atriz num filme específico depende muito mais da narrativa, da maneira como aquela mulher é "construída" pelo diretor na mente do espectador, do que do caráter essencialmente físico que o filme registra mecânicamante. É por isso que Charlize dá um banho na Jennifer Lopez: atrás dela, está Woody Allen, que, graças ao bom Deus, envelhece mantendo sua mente saudavelmente pervertida.

De: André Augusto Lux
Concordo com sua análise do filme A Cela. Não passa de um "pastel de vento luxuoso", pretensioso e banal. (...) A Cela é mais um daqueles filmes metidos a "cabeça", cheios de alegorias, imagens rebuscadas, mas que no fundo são vazios como um pastel de vento. (..) A Cela não é nada mais do que um videoclipe da MTV de duas horas. Ou seja: muita forma e pouco conteúdo embalados em altas doses de pretensão.

A única coisa que não entendo é sua implicância com Amor além da vida, que acredito ser um bom filme. Tudo bem, o final "sonho americano", onde os personagens reercanam como duas crianças loiras e lindas em alguma cidade dos EUA, quase estraga o que, na minha opinião, é um excelente filme, principalmente para quem abraçou a doutrina espírita. Vi esse filme em um momento conturbado da minha vida e me tocou profundamente. Mesmo Robin

Williams está menos chato do que de costume.

De: Gerbase
A comparação com
Amor além de vida foi mais em função da criação de mundos alternativos em computador e à direção de arte luxuriante. Acho que A Cela é pior que Amor além da vida, pois simplesmente não há que criticar, à medida em que não propõe coisa alguma. Pelo menos o outro dá algum pano pra manga. Agora, julgar um filme depois de vê-lo num momento conturbado não vale... Lembro que vi Memórias, do Woody Allen, em situação semelhante, e achei o filme chato. Mais tarde, revendo-o, achei uma obra-prima.

De: Daniel Magérbio
A Cela promete mais do que cumpre. Quando vi o trailer imaginei algum filme revolucionário em termos de história. Alguma nova maravilha psicodélica apesar de pelo trailer ter achado que seria alguma xerox de Matrix. A abertura até que é mais ou menos interessante com a Lopez vestida com aquela roupa retirada de A Lenda, mas pouco a pouco o fogo vai ficando brando. Não sei se você reparou, mas na direção de arte existem alguns fragmentos de A Lenda, do Ridley Scott, e coisas que parecem ter sido retiradas de algum encarte do Pixies (na parte em que é mostrada as bonecas-fetiche da mente do psicopata). O cara que faz o psicopata realmente não atua mal. Concordo com você quanto ao roteiro um pouco previsível. Achei que o que poderia surpreeender seria a Lopez se tornando uma assassina também, depois de entrar na mente do psicopata e ser seduzida por ela. Ou então um encontro da mente do garoto com a mente do maníaco. Apesar daquele visual e efeitos que parecem ter sido retirados de alguma propaganda da Direct TV, o diretor de arte é promissor. Acho que dava pra convocá-lo se algum dia for rodado um filme do Sandman. Que você acha? Qual seria um diretor ideal pra rodar um filme sobre Morpheus?

De: Gerbase
Você tem razão: A Cela é Matrix, mais A Lenda, mais encarte do Pixies, mais propaganda da Direct TV. Ou seja, é uma gororoba das brabas. Mas, para quem tem estômago forte, dá pra chegar na cozinha e falar com o chef (o diretor de arte) e pedir que ele, na próxima vez, seja só um pouquinho mais comedido. Quanto ao Sandman, do admirável Neil Gaiman, eu colocaria minhas fichas em Bryan Singer, diretor de X-Men, que já demonstrou competência no gênero.

De: Luiz Bandeira
Concordo plenamente com a sua opinião, e ainda acrescento: as "belas imagens", a que você se refere, pra mim não passam de pura futilidade... Recursos como esse já foram utilizados em uma dezena de filmes (como no Fim dos Dias, enrolação sem fim) e só funcionavam muito tempo atrás... Jennifer Lopez é tão expressiva como os cadáveres que aparecem durante o filme; não se sabe se está tremendamente feliz no final, quando resolve tudo, ou enquanto passeia pela mente do psicopata... Enfim: um lixo, que, como Fim dos Dias, vai ser esquecido e jogado num canto, junto com todos os outros filmes que falam de serial killers (com raras exceções...)

De: Gerbase
O cinema também é feito de belas imagens fúteis. Imagina se A Cela fosse um filme de imagens ruins: não dava nem pro fumo...

De: Luciana Martins
Filme sem sentido, diria até desnecessário, com uma ou outra cena interessantes, mas esquecíveis, e que, pelo menos pra mim, não valeram o ingresso. Não sei bem pq, mas me lembrou Encaixotando Helena.

De: Gerbase

Pelo menos o Encaixotando Helena (também bem ruinzinho) tinha uma certa sensualidade.

De: Regis Machado Rezende
Concordo com você que o filme A Cela, não passa de uma alusão sobre os sempre mocinhos que sempre salvam o mundo no final. Mas dizer que é um filme mal produzido e fazer referências a outros filmes, comparando-os, realmente está fora do consenso. NÃO há semelhança alguma entre o filme A Cela e os filmes por você citados, visto que Seven é um excelente filme. NÃO tive, pra dizer a verdade nada do contra o filme A Cela, mas também não achei o melhor filme do ano. É um filme razoável, carece de enredo, mas ganha em efeitos e também no aspecto de chamar a atenção do público, mantendo-o ligado no filme o tempo todo. NÃO vi o filme como previsível até o final, onde realmente não haveria sentido que o vilão sobrevivesse.Com relação aos seus outros trabalhos, acho que você, ao invés de ser tão radical com os trabalhos dos outros, deveria ser mais crítico com o seu. E A Cela foi um filme que soube pelo menos escolher uma atriz, que não é realmente um modelo de atriz, pelo menos mostrou que a mídia hollywoodiana sabe promover ainda mais quem está em alta, caso da cantora e atriz americana Jeniffer Lopez, coisa que você nem isto fez. Primeiro porque odiei Fausto, e se o seu novo trabalho for pelo menos parecido tenho certeza que não gostarei também. (...) Fique de olho aberto e tenha uma auto-crítica mais aguçada, tá?

De: Gerbase
Estou com os dois olhos bem abertos, meu amigo, e pronto pra continuar exercendo minha radicalidade sem medo de ser feliz. Acho isso mais interessante que "promover ainda mais quem está em alta". E, cá entre nós, com críticos com você me esperando atrás da esquina, pra que perder tempo com muita auto-crítica? Se você não gostou do Fausto, paciência, mas pode ter certeza que Tolerância tem muito pouco a ver com ele. Dá uma olhada, e depois a gente conversa.

De: José Ricardo Pinto
Toda a semana eu entro no site Terra seção cinema para ver qual é o filme escolhido para uma troca de idéias contigo, mas ultimamente só tenho lido críticas a enormes bobagens que ainda não sei porque você fica perdendo teu precioso tempo em discutir. O filme desta semana, A Cela (que obviamente não vou ver), deve ser de uma babaquice a perder de vista. Filme com Jennifer Lopez ou Madonna é dose!!!Ainda não vi o teu Tolerância; marquei bobeira porque passou na Mostra Rio, mas como sei que o filme entra em circuito comercial em breve, decidi esperar para dar uma sacada com mais calma. Confesso que tô muito curioso, porque já tive o prazer de dar uma sacada em dois curtas teus (Sexo & Beethoven e Aulas muito particulares) e achei bem interessantes em termos de proposta e de ousadia (como já disse num antigo papo contigo quando trocamos ideías sobre o chato Revelação).

Esta semana eu peguei para ver em DVD, um famoso clássico de faroeste, que não faz muito o meu gosto, porque é um gênero histórico muito regionalista e que não me diz muita coisa (algo assim como os filmes de Mazzaropi não devem dizer nada à geração urbana), mas, por conta das inúmeras críticas e apologias feitas a este filme, resolvi abrir mão do meu próprio gosto e assistir. O flme em questão é Rastros de Ódio (The Searchers) do veterano John Ford, com John Wayne no elenco. Não sei se eu estou sendo um retardado em levantar tal questão, mas só mesmo você, um crítico/cineasta para me fazer esclarecer determinados pontos. Me explique porque Rastros de Ódio é considerado um clássico? O que há neste filme, fora as espetaculares tomadas do Grand Canyon e a exuberante fotografia, para tornar esta apologia preconceituosa e ufanista sem nenhuma mensagem otimista em um clássico?

Eu nunca assisti nada mais racista e rudimentar do que as cenas deste filme, onde John Wayne gargalha ao ver uma pobre índia chicana ser chutada por uma ribanceira abaixo, ou então quando ele dizima uma manada de búfalos para que os Cherokees não tenham o que comer... Pra lá de anti-ecológico e revoltante. O que dizer então do ódio do personagem de John Wayne (péssimo ator) a qualquer coisa que lembre uma pela vermelha? Onde andava a discussão de que os invasores matadores e maus eram realmente os brancos americanos e não os pobres e indefesos índios que apenas estavam defendendo seu território?

Ao assitir o filme, veio uma idéia na cabeça... Talvez alguns movimentos racistas do estilo KU KLUX KHAN da década de 60 derivaram-se por conta de filmes deste gênero e porte pois incutiam nas gerações de adolescentes e adultos dos anos 50 ideais de posse e de racismo exacerbado prevalecendo sempre a demagogia americana de que a família é a benção da liberdade e blá, blá, blá... Quer dizer, índio não tem família, índio não tem posse, índio não tem sociedade... e por aí vai. Uma vez eu vi um documentário sobre John Ford e vi que o cara usava um tapa olho e mandava o narrador calar a boca toda vez que este perguntava sobre como eram feitos seus filmes. Ou seja, não havia técnica, nem uma visão muito definida do que estava sendo feito.

Visto hoje em dia, Rastros de Ódio sofre também de uma grande falha em sua edição, pois, ao contar a "saga" de um grupo de rastreadores, não se tem nenhuma impressão de que os anos passam pelos personagens, a não ser pelos tolos diálogos que permeiam todo o filme. Nem as mulheres escapam da ira machista do velhaco John Ford. Em Rastros de Ódio, todas as mulheres americanas são extremamente masculinizadas e decididas, com exceção, é lógico de uma personagem índia (a tal que é chutada numa ribanceira numa cena que se propõe a ser cômica). O que dizer então de um filme onde tem um índio com nome de traficante de lei seca (Scar = cicatriz) Valha-me Deus!!!

Então, meu caro amigo Gerbase, fica aqui minha pergunta: onde é que a palavra clássico se encaixa aqui? Por que todos os críticos babam ao falar deste filme? Ou então, me diga o que eu tenho de errado ao achar que este filme é considerado até perigoso por suas idéias reacionárias, racistas estúpidas e grosseiras? Desculpa se me estendi demais em minha empolgação, mas obviamente este mail não entra em sua coluna "Dê sua opinião ou cale-se para sempre" desta semana, mesmo porque é uma troca meio intima de cinéfilo para cineasta. Espero que na próxima terça você tenha critique algo que eu também tenha visto para mais uma troca de idéias.

De: Gerbase
Resolvi responder aqui mesmo, porque acho a discussão interessante e provocativa. Ou, pelo menos, mais interessante que a provocada por A Cela. Vi Rastros de ódio quando era adolescente e lembro que gostei, por motivos muito simples: tinha ritmo, tinha emoção e tinha um monte índios morrendo. Os adolescentes (até hoje, vide o sucesso desses besteiras de terror) gostam de uma sangreira. Acho que os westerns cumpriam essa função de proporcionar divertimento catártico e quase descerebrado para platéias que não estão nem aí para discussões políticas ou estéticas.É claro que alguns diretores, em momentos específicos, conseguiam transformar esses bang-bangs em obras de exceção. Gosto de alguns trabalhos de John Ford, assim como admiro filmes de Sam Peckinpah e de Sergio Leone (talvez este seja o mais legal deles, apesar de italiano - ou exatamente por ser italiano). Rastros de ódio não me deixou qualquer recordação além do divertimento, ao contrário, por exemplo, de Butch Cassidy (de George Roy Hill) e Meu ódio será sua herança (do próprio Peckinpah), filmes que refletem sobre os temas do heroísmo e da violência, ao invés de simplesmente retratá-los.Mas acho que você está sendo um pouco injusto em relação ao caráter "ideológico" de John Ford. Nesse tipo de julgamento, deve ser sempre considerado o tempo histórico e o meio cultural que cercavam o realizador. Ford não tinha alternativa além de matar algumas centenas de índios e glorificar os mocinhos, sob pena de não filmar mais nada. E acho que, eventualmente, ele até conseguiu transcender essa necessidade, apresentando algumas nuances na história que outros cineastas nunca conseguiram colocar em seus filmes. Vou tirar os Rastros de ódio no vídeoclube e rever. Quem sabe, mais tarde, voltamos ao assunto. E até mais.

A Cela (EUA, 2000). De Tarsem Singh


Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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