Busca

Pressione "Enter"

Cobertura completa Sites de cinema Grupos de discussão Colunistas Os melhores filmes Notas dos filmes Todos os filmes Roteiro de cinema O que está passando no Brasil


A Cela

De Tarsem Singh






RAPIDINHO

Lembram de Amor além da vida? A Cela é quase igual, com a vantagem da direção de arte ser mais bacana. Mas a idéia de usar massivamente imagens geradas por computador, a tentativa de criar universos baseados na subjetividade dos personagens e a absoluta simplificação do enredos - recheados de clichês e mensagens edificantes – fazem destes dois filmes almas-gêmeas na chatice e na sonolência. A Cela tem alguns bons momentos plásticos e é mais divertido, por investir no "lado negro da força", o que não é suficiente para transformá-lo em bom espetáculo. Faltou dar algum sentido para o personagem de Jennifer Lopez e construir um roteiro que tente, mesmo que minimamente, oferecer algo de estimulante à imaginação do espectador.

AGORA COM MAIS CALMA
O argumento é velho: alguém entra na mente de outro alguém para buscar alguma informação ou consertar algum desvio psicológico. Não vou perder meu tempo pesquisando os títulos dos filmes no IMDB, até porque A Cela poderia ser um ótimo filme recauchutando devidamente esse argumento já meio careca. Bastava que o "alguém" que invade a mente fosse um bom personagem, que o "alguém" invadido acrescentasse alguma coisa à vasta galeria de vilões doentes mentais e que a "informação" a ser buscada fizesse parte de um enredo instigante, ou, pelo menos, surpreendente. Nada disso acontece.

Jennifer Lopez, atriz sem carisma, sem força dramática, perdida num filme em que não consegue nem ao menos demonstrar sua pretensa sensualidade, encarna uma psicóloga que seria (na teoria...) uma grande especialista em distúrbios infantis. Mas o que ela fez em suas incursões na mente alheia? Caminha de um lado para o outro, sempre guiada pelos estímulos que recebe, e diz coisas como "Vim aqui para ajudá-lo" e "Pode confiar em mim". Até Robin Willians em Amor além da morte era mais perspicaz. No final, quando Jennifer leva o gordo maluco para o seu mundo, o seu figurino, a sua expressão beatífica e todo o cenário parecem ter sido copiados do final de O Auto da Compadecida. Se eu fosse a Globo, processava esses americanos. E, cá pra nós, a Fernanda Montenegro se compadece com muito mais realismo, mesmo atuando numa comédia.

Vincent D'Onofrio, no papel do psicopata assassino, é bastante convincente. Sua dor, sua tentativa insana de encontrar a paz, seus fetiches e suas patologias são responsáveis pelos melhores momentos do filme. E o roteiro funciona razoavelmente bem ao explicar a origem dos distúrbios: o choque causado pelo batismo, a mãe ausente, o pai completamente maluco, etc. Nada de novo, mas a armação dramática, como um todo, funciona. O clima de algumas cenas lembra Seven, o que sempre é uma referência interessante. Todos os outros personagens – tanto os médicos da "clínica" em que trabalha Lopez quanto os policiais do FBI – são dispensáveis e totalmente rasos.

O que joga o filme definitivamente pra baixo é a absoluta penúria narrativa: o público sabe o que vai acontecer, e as coisas acontecem do modo mais óbvio possível. O policial do FBI (Vince Vaughn) precisa de um endereço para salvar a pobre moça seqüestrada, que vai se afogar em breve. Conseguirá nosso herói chegar a tempo? A linda psicóloga precisa matar o lado "doentio" do psicopata para que seu lado "saudável" morra em paz. Conseguirá nossa heroína realizar façanha tão difícil? Quando todos os lugares-comuns parecem estar esgotados, ainda temos o encontro final dos personagens, numa espécie de "happy-end" de quinta categoria.

Quando sair em DVD, A Cela poderá ser aproveitado pelo que tem de melhor - belas imagens. E o espectador terá a confortável opção de pular por cima do que há de pior. O diretor Singh é o oposto perfeito de seu colega indiano Shyamalan, que, em O sexto sentido, criou suspense com grande riqueza de detalhes mantendo-se econômico nas imagens. Singh preferiu criar uma hiperinflação visual e acabou destruindo a mais importante e preciosa moeda do cinema: a narrativa.

A Cela (EUA, 2000). De Tarsem Singh



Dê sua opinião ou cale-se para sempre


Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

Índice de colunas.

Copyright© 1996 - 2003 Terra Networks, S.A. Todos os direitos reservados. All rights reserved.