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60 Segundos
De
Dominic Sena





RAPIDINHO
O filme tem 60 segundos de bom cinema, quando Nicolas Cage, a bordo do Mustang, decide pular o engarrafamento da ponte usando a rampa do caminhão à sua frente. É um raríssimo momento em que o herói ultrapassa o obstáculo de forma – se não criativa – pelo menos dramática. Dá pra torcer pelo bom ladrão quando ele está quieto e dirigindo, em vez de falando, pois os diálogo do filme são ruins demais. Resumindo: 60 segundos tem intermináveis minutos de total e absoluta sonolência, pois dá pra saber antecipadamente TUDO o que vai acontecer, e alguns poucos segundos de tensão.

AGORA COM MAIS CALMA
O roteiro de 60 segundos segue cegamente a cartilha do filme de sucesso: herói é retirado de seu universo de tranqüilidade e equilíbrio para uma jornada em terreno desconhecido, onde enfrentará uma grande provação, vencerá e retornará ao seu estado inicial, mas trazendo alguma coisa preciosa consigo, um "elixir", capaz de transformar profundamente seu mundo (exterior ou interior). Esta é trajetória clássica, descrita por Joseph Campbell no livro "A jornada do herói"

Um Nicolas Cage bonzinho trabalha com crianças, no interior, mas tem que voltar à cidade grande para salvar seu irmão, enfrentando um criminoso muuuuuuuito malvado, além da polícia (que é boazinha, claro, mas incompetente). Cage quase morre, mas, além se salvar o irmão, ainda o transforma num cidadão exemplar, usando o elixir obtido no final da jornada. Claro que muitos bons filmes seguem exatamente essa ordem (aliás, às vezes são bons principalmente porque seguem essa ordem), mas há uma diferença oceânica entre seguir uma ordem, acrescentando alguma inovação e criatividade, e tentar fazer um bolo com uma receita que só tem personagens clichês, situações lugares-comuns e segue sua trajetória sempre em linha reta.

Mas não é só no roteiro que estão os clichês. Os atores também são caricatos demais, liderados pelo desastroso Nicolas Cage e seu cabelo neo-loiro. Angelina Jolie, coitada, não consegue nem ser interessante, muito menos sensual, perdida num papel absurdo. Robert Duvall..., chega, aí já é demais, o cara é um grande ator. Como pode estar num filme desses? Mas cinema é mesmo assim. A música de 60 segundos, fora alguns segundos de big-beat clássico, também é um primor de chatice. Fotografia, idem. Cenários, ibidem. Montagem, itridem.

E aí vem o mais interessante: o filme está na quarta semana de exibição e continua enchendo as salas. Acho que temos que aprender alguma coisa com os rapazes de Hollywood. Eles emplacam boas bilheterias até com produtos de segunda categoria, como 60 segundos e Gladiador (se bem que este é um pouco melhor), numa conjugação de bom marketing e produtos que promovem desfiles de obviedades, mas bem feitos tecnicamente, bem lançados, bem promovidos. O cinema americano, como sempre, é o melhor e o pior do planeta, de acordo com o ângulo em que o observarmos.

60 Segundos (EUA, 2000). De Dominic Sena


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Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para a Terra Networks (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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