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Steven Soderbergh rascunha idéias em "O Estranho"



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Será inevitável. O espectador que já viu Traffic e for assistir a O Estranho, vai considerar este um rascunho para o outro. Ao menos um ensaio com o mesmo tema de fundo que levou o filme de Steven Soderbergh a ser um dos favoritos do Oscar - e assim foi, com os prêmios justos de melhor diretor, roteiro adaptado, edição e ator coajuvante para Benicio Del Toro. E agora a grande revelação: O Estranho também é de Soderbergh. É um filme de 1999, anterior a Erin Brockovich, este antecessor imediato a Traffic.

Desfeito o novelo de uma carreira que por aqui chega atrapalhada, a boa surpresa. É mínima a similaridade entre os dois filmes. Só mesmo o mundo das drogas os une, mas em histórias diferentes. Antes de tudo, os títulos dão a dimensão de um realizador original, que andava em baixa desde um sucesso precoce. Agora, o painel de personagens e situações múltiplas se resume a um (e a uma). Vá e comprove como o ator Terence Stamp dá conta sozinho do que muitos fizeram em Traffic. Se fosse para fazer uma aproximação com obras anteriores de Soderbergh, O Estranho teria a ver mais com Erin Brockovich, na idéia de uma figura intrépida e de resistência que batalha por uma intenção. A do personagem de Julia Roberts era reverter a contaminação da água de toda uma comunidade pela irresponsabilidade de uma indústria. A de Wilson, o personagem de Stamp, é de averiguar a real causa da morte da filha e se vingar do responsável.

Por certo, a originalidade do roteiro não é das mais palpitantes. Wilson, ladrão inglês condenado e encarcerado várias vezes em seu país, desembarca naquela Los Angeles de empresários com negócios escusos, mas fachada limpa, saca da arma e promove um banho de sangue até chegar no produtor de rock cinqüentão (vivido por Peter Fonda) que namorou sua filha aspirante a atriz e dela se livrou quando da descoberta de sua vida de tráfico. Mas, se volte a frisar, Soderbergh é ótimo técnico, e faz da montagem um grande recurso. Não bastasse isso, foi feliz na escolha de um ator mítico.

Não será difícil lembrar de Terence Stamp. Aos mais novos, a referência é a drag queen veterana de Priscila - A Rainha do Deserto. Aos cinéfilos, a inesquecível interpretação é a do perturbado rapaz que coleciona borboletas e que aprisiona a bela Samantha Eggar no clássico O Colecionador, de William Wyler, de 1965. É também o visitante de Teorema, de Pasolini. Soderbergh teria em mente a representatividade do ator na história do cinema. Ele também dá seu empurrão na memória do público. Num dos recursos mais brilhantes de O Estranho, ele busca momentos de Stamp em outra referência de sua carreira.

Insere cenas de Poor Cow, a estréia de Ken Loach no cinema em 1967, um drama dos marginais da classe operária, centrado no relacionamento de uma mulher casada com um ladrão e seu melhor amigo, vivido por Terence Stamp. Quando das lembranças de Wilson, as cenas do antigo filme se mesclam com perfeição na trajetória do personagem. A impressão resulta melhor do que um computador poderia conseguir. O Estranho parece mesmo uma homenagem a "outsiders" da indústria, para onde Soderbergh parece querer levar seu trabalho, ainda que sob o horizonte de Hollywood.

Dos novos, comparecem Lesley Ann Warren e Luiz Guzmán, o parceiro de Del Toro em Traffic. No grupo dos veteranos, Barry Newman e Joe Dalessandro, o mito masculino engendrado por Serge Gainsbourgh em Paixão Selvagem (Je T'Aime Moi non Plus). Mesmo Peter Fonda merece reconhecimento. A face mais apagada dos Fonda estreou como diretor no bom O Ouro de Ulisses e mostra que está bem à vontade quando bem dirigido. O Estranho, nesse sentido, se posiciona como uma obra atípica na carreira irregular de Steven Soderbergh. É um veículo para uma interpretação original, mas não renova de todo os clichês que se conhece nas típicas vendetas no cinema. Pesa mais um certo artifício já tanto explorado por nomes como Quentin Tarantino e seus discípulos. Não chega a ser um obstáculo para se curtir uma obra estruturada num pensamento de reflexão.

O destino da jovem é selado na infância, em hábitos construídos na pouca convivência com o pai e também no fato de vê-lo constantemente encaminhado à prisão. O passado vai e volta na mente de Wilson e fez de sua trajetória uma via-crúcis de mea culpa, numa cidade associada ao inferno na terra, poluído e desumano. Há evidentemente ligações com Traffic, nas questões morais que circundam os protagonistas, mas de diferentes fontes. A profissional que Wilson conhece como amiga da filha serve de consciência última num mundo sem mais referências. O personagem de Del Toro, um policial honesto, fazia o mesmo sem muito sucesso em Traffic. É curioso que o novo velho Soderbergh chegue junto com um crítico feroz da América como é Robert Altman. É cedo para festejar, mas parece que o recente premiado do Oscar é um bom discípulo do mestre. (Orlando Margarido/ Investnews - Gazeta Mercantil)





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O ESTRANHO

Título Original: The Limey
País de Origem: EUA
Ano:
1999
Duração: 90 min

Diretor: Steven Soderbergh
Elenco: Terence Stamp, Ann Warren, Luis Guzmán, Barry Newman, Joe Dallesandro, Nicky Katt, Peter Fonda










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