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Bresson da Ásia volta mais fantasioso em "O Buraco"



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Chove muito em O Buraco. Depois de O Rio, a água, de novo e sempre, reaparece no cinema de Tsai Ming-liang. O filme ganhou o prêmio da crítica no Festival de Cannes de 1998, bisando o prêmio que o próprio Ming-liang havia recebido em Veneza com Vive l'Amour anos antes. É outro filme perturbador de um dos mais importantes autores do cinema atual. Ming-liang costuma ser chamado de "Robert Bresson da Ásia". Compartilha com o mestre francês que morreu em dezembro do ano passado a mesma crença de que a incomunicabilidade é, paradoxalmente, a única forma de comunhão no mundo atual.

É em Taiwan, a poucos dias do ano 2000, que se passa a ação de O Buraco. Chove o tempo todo e uma misteriosa doença ameaça a população. Quase não há outro cenário além de um prédio de apartamentos. Abre-se um buraco na sala do apartamento habitado pelo ator-fetiche do diretor, Lee Kang-sheng. Por meio dele, o rapaz comunica-se com a vizinha do andar de baixo. São dois solitários cujas vidas terminam por encontrar-se - o plano final evoca o célebre afresco de Michelangelo na Capela Sistina. Paralelamente à relação dos dois, o diretor cria cenas de sonho que mostram o rapaz e a moça cantando e dançando em homenagem a uma famosa estrela de Taiwan, Eileen Chang.

Por que a água? O próprio Ming-liang diz que ela pode revelar um desejo de purificação, mas a água de O Rio é suja e há até a frase desconcertante que diz que quanto mais fundo penetramos na água de um rio mais sujos nos tornamos. Isso poderia ser entendido como um elogio à superfície, mas não há nada menos avesso ao espírito do diretor. Com O Rio, ele propôs um radical mergulho naquelas camadas do conhecimento que a maioria das pessoas, senão todas, teimam em ignorar.

O buraco do título tem uma dimensão metafórica e até metafísica, como é comum a esses herdeiros de Bresson. É o comentário do autor sobre o mundo atual. É fácil dizer que, por meio dele, Ming-liang mostra como o mundo atual está indo para o buraco. Ele diz que é isso, claro, e mais. É um chamamento às pessoas para que pensem no mundo em que vivemos, um mundo que criou sofisticadas formas de comunicação, como a internet, mas que as usa para distanciar as pessoas cada vez mais. Continua preocupado com o sexo, mas desta vez ele é menos exasperado e exasperante do que em O Rio, que tratava da repressão de forma muito mais forte.

Além da água, há outra característica de O Rio que permanece em O Buraco - os planos longos e lentos. Ming-liang confessa que seu objetivo é chegar o mais próximo possível de um tempo real. E diz que detesta esses filmes de Hollywood que se assemelham a videoclipes ou que pulverizam a ação por meio de cortes. À reportagem, ele disse, em Cannes: "Pode ser que alguém se aborreça nos meus filmes, mas eu confesso que me aborreço muito mais vendo sempre a mesma coisa em Hollywood."

Ele também explica a abertura para a fantasia. Diz que estamos vivendo o fim de uma era. É pessimista quanto a isso e O Rio é a expressão desse pessimismo. Só que é preciso manter a esperança. A música de O Buraco, as canções de Eileen Chang, permitem-lhe manter acesa, para ele mesmo, a chama da esperança.
(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)



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O BURACO

Título Original: Dong
País de Origem: Taiwan/ França
Ano:
1998

Duração: 95 min
Diretor: Tsai Ming-liang
Elenco: Lin Kun-huei, Kang-sheng Lee, Hui-Chin Lin, Tien Miao, Hsiang-Chu Tong, Kuei-Mei Yang










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