PUBLICIDADE

Por que o Instagram está mudando tanto - e por que não vai voltar atrás

Suspensão de mudanças na interface do Instagram é temporária; app continuará com vídeos e sugestões por IA, mesmo sob críticas

3 ago 2022 - 05h00
Compartilhar
Exibir comentários
Instagram tende a ter mais foco nos vídeos com o tempo
Instagram tende a ter mais foco nos vídeos com o tempo
Foto: Instagram / Divulgação / Estadão

O Instagram anda meio "queimado" com parte do seu público desde que a Meta, sua empresa controladora — também dona do Facebook e WhatsApp — implementou uma série de mudanças recentes para tornar a rede social mais competitiva. A empresa afirmou que vai pausar a estratégia, após críticas. Mas dificilmente vai recuar por completo em seu novo direcionamento.

Pelo menos duas grandes mudanças na interface do Instagram têm sido alvo das reclamações: mostrar vídeos em tela cheia, semelhantes aos do rival TikTok; e o maior número de recomendações de posts de terceiros no feed com curadoria de algoritmos. As duas medidas provocaram reclamações não apenas de anônimos, mas também de famosos como Kylie Jenner e Kim Kardashian, que compartilharam posts para que “o Instagram voltasse a ser Instagram de novo”.

A frase de efeito é uma cutucada nos planos da Meta; desde que o recurso chamado Reels estreou na plataforma em 2019, a empresa não consegue esconder que reproduz recursos do TikTok para derrotar o rival da Bytedance — algo que deu certo quando criou os Stories e enfraqueceu o então concorrente Snapchat.

Zuckerberg avisou: mudanças são inevitáveis

Em paralelo, a Meta briga contra seu próprio desempenho: em abril, o Facebook perdeu usuários diários pela primeira vez em seus 18 anos de história. Mas em um post recente, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, deixou claro que tanto os seus vídeos à la TikTok quanto o conteúdo recomendado por inteligência artificial são suas principais armas contra a crise e não os vê como algo temporário.

"Uma das principais transformações em nossos negócios no momento é que os feeds sociais estão deixando de ser impulsionados principalmente pelas pessoas e contas que você segue para cada vez mais também serem impulsionados pela IA, recomendando conteúdo que você achará interessante no Facebook ou Instagram, mesmo que você não segue esses criadores", disse Zuckerberg.  

"O Reels é uma parte dessa tendência que se concentra no crescimento do vídeo de formato curto como formato de conteúdo, mas essa tendência geral de IA é muito mais ampla e abrange todos os tipos de conteúdo, incluindo texto, imagens, links, conteúdo de grupo e muito mais", reiterou o executivo.

Irmãs Kardashian compartilharam post pedindo: "Façam o Instagram ser Instagram de novo"
Irmãs Kardashian compartilharam post pedindo: "Façam o Instagram ser Instagram de novo"
Foto: Instagram

“Isso é só um teste”, mas a mudança será feita aos poucos

Em junho de 2021, o CEO do Instagram, Adam Mosseri, deixou claro: "Não somos mais apenas um aplicativo quadrado de compartilhamento de fotos", antecipando a mudança de paradigma. Com toda a repercussão negativa recente, Mosseri afirmou que os vídeos em tela cheia faziam parte de um teste de experimentações da plataforma.

“Se você estiver vendo uma nova versão de tela cheia e mais imersiva no feed, ou se estiver ouvindo falar dela, saiba que isso é um teste. É um teste disponível apenas para algumas poucas pessoas, e a ideia é que uma experiência em tela cheia, não apenas para vídeos mas também para fotos, pode ser uma experiência mais divertida e envolvente”, explica.

Ainda assim, esse teste foi pausado, e as recomendações do feed também foram diminuídas temporariamente. Ele atentou para o fato de que o Instagram está tentando realizar muitas mudanças, que podem levar tempo para a adaptação do público, como por exemplo o encaminhamento do aplicativo para um modelo mais voltado a vídeos.

Segundo o CEO, o Instagram não irá deixar de apoiar as fotos, mas afirma: “preciso ser honesto: acredito que cada vez mais o conteúdo no Instagram vai se tornar vídeo ao longo do tempo”. Além disso, em entrevista à newsletter de tecnologia Platformer, Mosseri disse não estar arrependido. "Estou feliz que assumimos um risco – se não estamos falhando de vez em quando, não estamos pensando grande o suficiente ou ousado o suficiente."

Adam Mosseri, CEO do Instagram, disse que as recomendações de conteúdo de terceiros continuará na plataforma
Adam Mosseri, CEO do Instagram, disse que as recomendações de conteúdo de terceiros continuará na plataforma
Foto: Webster2703 / Pixabay

Sobre as recomendações, que também foram ponto de críticas das pessoas, o empresário entende que se o Instagram está recomendando coisas que os usuários não se interessam, o trabalho de classificação para sugerir essas recomendações ainda precisa melhorar.

Você pode escolher não ver uma recomendação: é possivel pausá-las por até um mês ou navegar na opção “Seguindo” para ver conteúdo apenas de páginas que você segue. Mas a intenção do app a longo prazo não é devolver todo o poder de escolha ao público, e sim melhorar as recomendações para, segundo a empresa, ajudar os criadores a alcançar mais pessoas, especialmente os iniciantes.

Ou seja, tudo isso mostra que o aplicativo está se encaminhando para um perfil diferente do passado, mesmo que tenha suspendido as mudanças. Em resumo:

  • Ainda terá fotos, mas terá majoritariamente mais vídeos;
  • Mostrará sugestões a partir do conteúdo que pode te agradar, e não das pessoas que seguimos – exatamente como o Tik Tok faz;
  • Provavelmente ainda virá a fazer outros testes com a tela cheia, ainda que aos poucos, respeitando melhor o tempo de adaptação dos usuários.

Sugestões "furam a bolha" mas são "individualistas": especialistas divergem sobre Instagram

Em um texto no Medium publicado no ano passado, Sammer Singh, professor de ciência da computação da Universidade da California Irvine, já havia previsto a perda de prestígio do "gráfico social", isto é, o conjunto de relacionamentos entre usuários e seus próprios seguidores.

"O algoritmo de feed do Facebook priorizou conteúdo com o que os usuários eram mais propensos a se envolver. Assim, o engajamento começou a mudar para influenciadores, marcas ou páginas — ou seja, usuários mais propensos a criar conteúdo envolvente. Isso era valioso tanto para as emissoras quanto para os seguidores, mas sua consequência natural foi diluir o valor do gráfico social", disse na época, apontando que o mesmo aconteceu no Instagram nos últimos anos.

Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), publicou em sua coluna na Folha de S. Paulo uma visão crítica desta mudança, argumentando que hoje em dia, com instituições coletivas enfraquecidas, as redes sociais são o mais próximo de uma “comunidade”.

“É dessa comunidade que o Facebook e o Instagram estão querendo se livrar. A ideia é que quando você entrar nessas plataformas, o conteúdo que aparece para você não venha mais das pessoas que você decidiu seguir”, defende. Lemos pensa que essas mudanças intensificam o individualismo exacerbado.

Já Alice Lana, coordenadora de cultura e conhecimento do InternetLab, explica que criadores de conteúdo relatam que o algoritmo do TikTok, fundado nessa ideia de “furar a bolha”, consegue “entregar mais” conteúdo para uma base mais diversa do que a do Instagram, pelo menos até agora. Isso pode evitaria posts repetitivos e entediantes, além de agradar mais o próprio usuário, que verá conteúdos que provavelmente irão agradá-lo.

Apesar da discussão, Mosseri garantiu que a plataforma colocará o conteúdo do seu amigo no topo do feed sempre que possível, o que manteria o sentimento de comunidade na rede. No entanto, ele mesmo faz a ressalva: “Mas também vamos precisar evoluir, porque o mundo está mudando rapidamente e nós vamos ter que mudar junto com ele”.

Fonte: Redação Byte
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade