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Por que clima no Brasil está "enlouquecendo" com tantas secas e enchentes

Fenômenos naturais e emissões de gases do efeito estufa podem estar impactando o clima em algumas regiões do país, dizem especialistas

21 dez 2022 - 05h00
(atualizado em 27/12/2022 às 15h53)
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Algumas regiões do Brasil sofreram fortes ondas de calor influenciadas pelo La-Niña
Algumas regiões do Brasil sofreram fortes ondas de calor influenciadas pelo La-Niña
Foto: Mais Goiás

Seja em regiões que fazem frio ou em áreas de calor, os brasileiros perceberam uma coisa em comum: o clima parece desregulado. Alguns estados brasileiros vêm sofrendo com eventos climáticos intensos e inesperados. Exemplos disso foram as enchentes que atingiram os estados de Minas Gerais e da Bahia no começo deste ano ou a seca histórica que durou meses no Rio Grande do Sul. 

Um estudo da Organização Meteorológica Mundial apontou que 2021 foi um dos sete anos mais quentes já registrados no planeta. E o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) confirma esses dados: as temperaturas no Brasil têm ficado acima da média histórica desde os anos 90.  

A última década foi mais quente que a anterior no Brasil e isso reforça as preocupações com o aquecimento global e o aumento da emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera. 

Ricardo de Camargo, professor de meteorologia na Universidade de São Paulo (USP), explica que o país enfrenta fenômenos causadores de variabilidade climática que alteram o comportamento de uma determinada estação do ano. “No caso em questão, estamos sob a influência do El-Niño Oscilação Sul em sua fase negativa, ou seja, La-Niña”, explicou.

O El Niño Oscilação Sul (ENSO) é uma mudança periódica do sistema oceano-atmosfera no Pacífico tropical que impacta o clima em todo o mundo. Já o La Niña é um fenômeno natural que se opõe o El Niño e diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental.

O La Niña causa no Brasil aumento de chuvas sobre o Nordeste e parte do leste da Amazônia, enquanto a Região Sul experimenta períodos anomalamente secos.

Considerando a estação de transição (primavera), a La-Niña e as alterações devidas às mudanças climáticas, os meteorologistas têm ainda mais dificuldade para antecipar o comportamento da atmosfera, explica o professor.

Fortes chuvas alagaram o município de Blumenau (SC)
Fortes chuvas alagaram o município de Blumenau (SC)
Foto: O Município Blumenau

Mudanças envolvendo alterações climáticas 

Se por um lado o país sofre com eventos climáticos naturais, por outro, dizem especialistas, também sofre consequência do aquecimento global

Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, disse a Byte que “ a crise climática está aqui e agora”.

“Os efeitos do aquecimento de 1,1ºC já estão aí: mudanças nos padrões de chuva, na frequência e na intensidade de eventos extremos, e assim por diante. Gosto de enfatizar que sim, tende a piorar a instabilidade, mas a gente tem que tomar vergonha na cara e parar de culpar ‘o clima’”, disse.

Unterstell afirma que é possível reverter os piores impactos, se a sociedade tomar caminhos de descarbonização rápida ainda nesta década. 

Durante a COP27, a Conferência Mundial do Clima que ocorreu no Egito, dados da 10ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG) mostraram que o Brasil emitiu em 2021 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2e. Esta é uma unidade que engloba todos os gases do efeito estufa. O dado representa um aumento de pouco mais de 12% em relação à quantia registrada em 2020.

De acordo com Unterstell, “temos principalmente uma conta irracional de desmatamento de origem ilegal impactando isso”. 

Outro relatório do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Governos Locais para Sustentabilidade (ICLEI), Instituto de manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e o Observatório do Clima, mostrou que  81% das emissões de metano causadas por incêndios florestais estão associadas ao desmatamento. 

Por concentrar grande parte dos estoques de carbono e das derrubadas de árvores, a Amazônia lidera as emissões causadas por queimadas.

Anos de seca prolongada nas regiões Sudeste (na foto, o sistema Cantareira) e Centro-Oeste chegaram a comprometer o abastecimento humano e produção do agronegócio
Anos de seca prolongada nas regiões Sudeste (na foto, o sistema Cantareira) e Centro-Oeste chegaram a comprometer o abastecimento humano e produção do agronegócio
Foto: Sergio Castro / Estadão / Estadão

Importância da Floresta Amazônica para o clima

A Floresta Amazônica — distribuída entre Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela e Brasil — abriga uma imensa biodiversidade e incontáveis benefícios para o planeta. Uuma árvore com copa de 10 metros de diâmetro, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), tem capacidade de bombear mais de 300 litros de água para a atmosfera.

Outro ponto, por exemplo, é a influência da floresta em outras regiões do país. A circulação atmosférica sobre a América do Sul consiste em um fluxo que começa na Amazônia e vai em direção ao Sul/Sudeste, transportando calor e umidade para as regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Este fenômeno é chamado Jato de Baixos Níveis (JBN), explicou Camargo.

“A ocorrência das queimadas na Amazônia injeta quantidades significativas de material particulado que também é transportado pelo JBN. Além disso, as queimadas acabam com a capacidade do ecossistema amazônico em sua importante função de reciclagem de água e sua disponibilização para as chuvas sobre a América do Sul”, disse o professor.

Mas não são só as queimadas. As emissões na área de energia também vêm crescendo, o que requer atenção grande para como nossos meios de transporte e nossa matriz elétrica estão sendo geridos nesse momento 

Unterstell ressalta que os cientistas têm visto movimentos muito perigosos de ampliar subsídios e contratar energia fóssil, “o que nos afasta do objetivo de completar nossa transição energética”, disse. 

E isso não se restringe ao país: o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no início do ano, indicou que as emissões nocivas de carbono de 2010-2019 foram as mais altas na história da humanidade, com aumentos de emissões registrados em todos os principais setores do mundo.

Queimadas na Amazônia podem impactar o clima em todo o Brasil
Queimadas na Amazônia podem impactar o clima em todo o Brasil
Foto: Reprodução/Estadão

Camargo explica que  a influência das mudanças climáticas faz com que os eventos extremos fiquem ainda mais severos. 

“Este comportamento está relacionado à redistribuição de energia na forma de calor, que está sendo acumulado em função do aumento da concentração dos gases de efeito estufa. Aliado a este comportamento, ainda se superpõe o efeito da La-Niña”, disse. 

Segundo os pesquisadores, para limitar o aquecimento global a cerca de 1,5°C, o relatório do IPCC insiste que as emissões globais de gases de efeito estufa teriam que atingir o pico "antes de 2025, o mais tardar, e ser reduzidas em 43% até 2030".

Unterstell diz que para resolver esse problema, há necessidade de usar as pesquisas que já temos, acima de tudo e investir no novo. “E o investimento em ciência, inovação e empreendedorismo é fundamental para que a gente consiga se adaptar a esse mundo mais quente e de clima mais instável. Ainda não vi isso ser feito com seriedade no Brasil. É hora”, finaliza a pesquisadora.

Fonte: Redação Byte
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