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O que é o método CRISPR e por que ele revolucionou a ciência?

O método de edição genética CRISPR chegou com tudo na última década, barateando e facilitando a manipulação de DNA. Porque é tão eficiente? Há controvérsias?

23 jul 2022 - 19h00
(atualizado em 25/7/2022 às 09h57)
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Nos últimos anos, muitas notícias vêm tratando do CRISPR, método relativamente recente de edição genética tratado como a revolução do século em seu campo científico. A fama, dizem os cientistas, é devida: a técnica pode realmente mudar a humanidade para sempre com os avanços médicos possíveis, mas ficamos nos perguntando: o que é o CRISPR? Como funciona e por que é tão importante?

O que é CRISPR?

Para começar, é bom explicar a sigla: CRISPR vem de Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats — Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas — que, em outras palavras, significa uma maneira de alterar as repetições na cadeia de DNA para direcionar trechos específicos do código genético de forma precisa. Mais importante, o método permite fazer isso em células vivas.

Foto: Mstandret/Envato Elements / Canaltech

O CRISPR pode ser encarado como outro nome para o mecanismo natural encontrado no sistema imune de células bacterianas que combatem vírus invasores. Quando um deles ataca, a célula produz uma enzima conhecida como Case9, que simplesmente corta a sequência de DNA infectada. O que nós, humanos, conseguimos fazer, foi reproduzir essa habilidade para editar os genes de maneira mais conveniente.

Poder programar o DNA para deletar, modificar ou adicionar informações de células vivas é uma conveniência que não pode ser enfatizada o bastante na ciência. Mais de 3.000 doenças genéticas são causadas por letras incorretas (nucleotídeos) no DNA dos pacientes, então eliminar a letra falha e a substituir por uma cópia correta pode estender a expectativa de vida de incontáveis pessoas, como as que tem doença falciforme, fibrose cística, doença de Huntington e hemofilia.

Entre as principais vantagens do CRISPR está a facilidade de edição genética, que diminui muito o tempo e os recursos gastos, barateando muito a engenharia genética. A tecnologia também pode ser guiada por sequências de RNA para mirar exatamente na sequência genética específica que se quer modificar, o que revoluciona o tratamento de retrovírus em especial, como o causador do HIV.

Potencial do CRISPR

Em 2015, cientistas conseguiram cortar o vírus HIV de células vivas, podendo remover até 50% do patógeno de pacientes em laboratório. Para o futuro, há planos de criar versões personalizadas de DNA resistentes ao HIV, limpando o vírus do sistema de pacientes infectados. O CRISPR também tem o potencial de diagnosticar e tratar câncer com muito mais facilidade, modificando células imunes para reconhecer e destruir tumores malignos.

O método também é muito abrangente, e pode ser usado em todos os tipos de célula, desde humanos e animais a plantas e até microorganismos. As possibilidades são inúmeras, podendo nos dar maneiras de crescer órgãos para transplante, modificar plantações para aguentarem climas mais intensos e criar frutas cheias de vitaminas para sustentar populações desnutridas.

Até mesmo espécies extintas podem ser revividas, ou salvas por "regates genéticos" de espécies invasivas, evitando que vírus entrem nas glândulas salivares de mosquitos, por exemplo, o que os impediria de espalhar doenças. Mas nem tudo são flores.

Controvérsias e limitações

O CRISPR ainda é uma tecnologia de primeira geração, então seu potencial e suas limitações ainda não foram totalmente conhecidos. Os cientistas não sabem, por exemplo, quais são as implicações de longo prazo de editar genes dessa maneira e seu impacto em nós. Já se sabe que quaisquer mudanças feitas em um indivíduo não serão passadas para seus filhos, a menos que o método seja utilizado em células reprodutivas e embriões, o que é, no mínimo, bem controverso.

O tema genético em si já é bem discutido em termos de ciência e consciência moral: será que sabemos o suficiente sobre nosso genoma para mudar sequências de DNA de um embrião? Modificá-los por gerações pode causar mudanças irreparáveis no fundo (pool) genético humano difíceis de prever.

Muitos argumentos questionam a moralidade de editar embriões, dizendo que os cientistas estão "brincando de deus". Reviver espécies extintas ou eliminar espécies invasivas também levanta questões da ordem natural do mundo. Além disso, a tentação de criar seres humanos "geneticamente perfeitos" pode ser difícil de resistir, e as implicações até mesmo antropológicas disso são infindáveis.

Apesar de ser uma novidade animadora para a ciência e a medicina, o CRISPR ainda é um método que precisa ser compreendido em sua totalidade, e seu potencial e limitações, descritos com maiores detalhes. Talvez, no futuro, consideremos que a falta de ética estaria em não usar a tecnologia para editar genes falhos e salvar vidas. O tempo dirá.

Fonte: Proclinical

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