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Como o X se tornou campo livre para racismo e misoginia? Especialista responde

Discussão ética em torno do uso do X não é uma exclusividade do Brasil

9 set 2024 - 05h00
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Alexandre de Moraes e Elon Musk diante de celular com símbolo do X na tela
Alexandre de Moraes e Elon Musk diante de celular com símbolo do X na tela
Foto: BBC News Brasil

O Supremo Tribunal Federal (STF) bloqueou o acesso à plataforma X (anteriormente Twitter) no Brasil. O embate entre o ministro Alexandre de Moraes e o dono da plataforma, Elon Musk, resultou na proibição do acesso à rede social para mais de 40  milhões de usuários no país.

A decisão dividiu opiniões; enquanto alguns usuários consideram sensata a decisão do ministro, que alega falta de um representante legal do X no Brasil — para tratar do monitoramento nas postagens — outros apontam que proibir a rede social é uma decisão exagerada.

A discussão ética em torno do uso do X não é uma exclusividade do Brasil. Em reportagem do jornal britânico The Guardian, o reitor do London College of Political Technology, Ed Saperia, comenta que “conteúdo controverso impulsiona o engajamento. Conteúdo extremo impulsiona o engajamento.”

Com isso, o periódico levanta a questão de que criar conteúdo tóxico se tornou um meio de vida viável, e que o X se tornou palco para temas polêmicos.

Joe Mulhall, chefe de pesquisa da Hope Not Hate, comentou que "a plataforma foi inundada por indivíduos que foram previamente desplataformados, variando de contas de nicho extremo a figuras como Tommy Robinson e Andrew Tate".

Segundo o The Guardian, em agosto, descobriu-se que o homem conhecido como o "guerreiro do teclado" Wayne O'Rourke, condenado por incitar ódio racial nas redes sociais, estava ganhando £ 1.400 (cerca de R$ 10.200) por mês com suas atividades no X. 

Em meio a essas acusações, é ético continuar no X?

No Brasil, o ministro Alexandre de Moraes também protagonizou o combate contra a disseminação de notícias falsas na internet, principalmente no período eleitoral, onde alguns usuários da plataforma contestaram a veracidade do resultado das eleições de 2022 e a eficiência das urnas eletrônicas.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o ex-parlamentar Roberto Jefferson e o empresário Luciano Hang são alguns dos bolsonaristas que já tiveram suas contas bloqueadas no antigo Twitter, por denúncias de publicação de fake news. 

Em que momento a rede social se tornou campo aberto para a propagação de conteúdo racista e misógino? Em entrevista ao Byte, o ativista Ian Black, CEO d agência de PR Criativo New Vegas, defende que é mais adequado dizer que o X se tornou uma plataforma que acolhe e amplifica vozes racistas e misóginas.

Ilustração com tela de celular mostrando conta de Elon Musk no X bloqueada após ordem de ministro do STF
Ilustração com tela de celular mostrando conta de Elon Musk no X bloqueada após ordem de ministro do STF
Foto: Jorge Silva / Reuters

"Desde o início, grupos racistas e misóginos encontraram espaços nas redes sociais, embora muitas vezes de forma mais restrita. O que diferencia o X é a forma escandalosa e aberta com que essas manifestações ocorrem, com a anuência e, muitas vezes, o apoio explícito de seu atual proprietário, Elon Musk", disse.

Para o especialista, o X é um dos principais canais abertos de debates políticos, e esses grupos têm sido cooptados pela extrema-direita em oposição aos movimentos progressistas.

"Acaba-se criando essa percepção de exclusividade do X nesse tipo de discurso. Contudo, não devemos nos iludir quanto à extensão desses grupos em outras áreas da web", afirma Black. 

Twitter vai acabar?

Sobre a continuidade do uso desta plataforma, Ian Black comenta que a decisão de continuar usando ou não essa plataforma parece estar mais ligada ao exercício da liberdade individual do que a uma questão ética propriamente dita.

Além disso, destaca que o X tem perdido usuários no Brasil há algum tempo e, entre as plataformas clássicas, é a que apresenta os piores números de engajamento.

"Acredito que o impasse com o STF apenas acelerará esse êxodo de usuários. Atualmente, já existem alternativas como o Threads e o Bluesky, que oferecem serviços semelhantes e atendem à necessidade de uma plataforma de diálogo aberto em tempo real", diz.

Ele cita que, à medida que as pessoas se acostumarem com essas novas opções, o X poderá "perder de vez sua relevância". 

Fonte: Redação Byte
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