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Cientistas investigam se ouvir Mozart ajuda no controle da epilepsia

Existe o mito de que ouvir Mozart ajuda a controlar casos de epilepsia. Segundo novo estudo, não existem evidências sólidas que justifiquem essa relação

9 mar 2023 - 19h25
(atualizado em 10/3/2023 às 09h28)
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Já pensou em dar play em uma música e, com isso, controlar ou reduzir a intensidade de um ataque epilépitico, sem a necessidade de nenhum tipo de medicação? Por mais absurda que a ideia pareça, alguns estudos científicos defendem esta estratégia. O detalhe é que o efeito contra epilepsia não é associado a qualquer som, mas, sim, à Sonata para Dois Pianos em Ré Maior (K. 448), composta pelo austríaco Wolfgang Amadeus Mozart.

Apesar do estudos científicos sobre o tema — o primeiro deles foi publicado em 1998 — e o grande apelo popular da estratégia que envolve apenas ouvir Mozart para controlar a epilepsia, uma dupla de psicólogos da Universidade de Viena, Sandra Oberleiter e Jakob Pietschnig, não estava convencida de que os dados obtidos em experimentos envolvendo pacientes epilépticos eram reais.

Para medir o efeito Mozart em pacientes que podem ter convulsões e outras complicações associadas ao quadro, os cientistas austríacos realizaram uma revisão sistemática e meta-análise — estudo minucioso que se baseia em dados já publicados por outros pesquisadores sobre o mesmo tema — envolvendo o ato de ouvir a sonata e os efeitos na epilepsia. As descobertas foram publicadas na revista Scientific Reports.

Afinal, Mozart é eficaz no controle de ataques epilépticos?

Após analisar oito estudos que relacionam ouvir Mozart com a epilepsia, os cientistas afirmam não existir evidências sólidas de um efeito positivo da melodia na doença. Na verdade, "ouvir música, tampouco um tipo específico de sonata, não parece ter nenhum efeito benéfico sobre a epilepsia", pontuam.

Foto: ZacariasMitzelos/Wikimedia Commons / Canaltech

Só que, analisando o que já foi publicado sobre o tema, os psicólogos afirmam que "alguns autores [no passado] sugeriram que a sonata K. 448 pode ser usada para complementar ou substituir o tratamento medicamentoso quando a medicação ou a cirurgia forem ineficazes ou não forem possíveis". Hoje, sabe-se que a música deve ser escutada apenas como forma de entretenimento.

Sobre a existência da confusão científica envolvendo o músico e a doença, os psicológos explicam que a associação infundada foi baseada, ao longo dos anos, em relatórios seletivos, experimentos envolvendo poucos voluntários — existem "estudos" com apenas 7 participantes — e práticas inadequadas de pesquisa. "Estudos pouco profundos e relatórios não transparentes parecem ser os principais impulsionadores do mito do efeito Mozart", resumem.

Esta é uma descoberta triste. "Um efeito Mozart para a epilepsia seria desejável, porque as drogas antiepilépticas frequentemente causam efeitos colaterais graves e podem ter um impacto negativo nas funções dos órgãos, fertilidade ou hemograma dos pacientes. Para 30% dos acometidos pela epilepsia, as terapias medicamentosas são ineficazes", lembram os autores.

Frisando, não existem evidências reais do impacto da sonata no controle da epilepsia, mas, caso tenha ficado curioso em escutar a composição alvo de tanta polêmica, compartilhamos um trecho a seguir:

Vale apontar que, para além da questão da epilepsia, as composições de Mozart têm uma aura mágica no imaginário popular. Há quem defenda que suas músicas fazem com que as vacas produzam mais leite. Ainda mais longe, existe quem afirme que as bactérias usadas nas estações de esgoto "trabalham" de forma mais eficaz ao som do austríaco. Estas hipóteses também merecem ser revisadas, com o alto grau de rigor científico adotado no estudo recente.

Tratamentos disponíveis para o controle da epilepsia

Para o tratamento efetivo de quadros de epilepsia, existem diferentes medicamentos disponíveis no mercado, como fenitoína, carbamazepina, oxcarbazepina ou gabapentina. Estes remédios serão receitados pelo psiquiatra que acompanha o caso, dependendo dos sintomas e intensidade das crises.

Se as medicações convencionais não gerarem retorno esperado, há também uma gama de terapias alternativas que são cada vez mais estudadas, como o uso do canabidiol (CBD), um dos componentes da cannabis medicinal. Recentemente, o governo de São Paulo sancionou uma lei que visa incorporar remédios do tipo dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), facilitando o tratamento para diferentes pacientes, incluindo aqueles diagnosticados com epilepsia.

Fonte: Scientific Reports e Universidade de Viena  

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