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"Tolerância", de Carlos Gerbase, estréia no Festival do Rio BR


(Foto: divulgação)

Sábado à tarde. Carlos Gerbase recebe a reportagem em sua cobertura, que dá vista para o Parque da Redenção, o pulmão da capital gaúcha. O assunto é Tolerância, o longa que Gerbase dirigiu e vai estrear no dia 10, durante a Première Brasil do Festival do Rio BR, que começa quinta-feira. Gerbase é nome importante do cinema gaúcho. Pertence à Casa de Cinema, a produtora da qual fazem parte Jorge Furtado, Giba Assis Brasil e Ana Luiza Azevedo, além de Luciana Tomasi e Nora Goulart, todos nomes de ponta da produção cinematográfica do Rio Grande do Sul. O próprio Gerbase tem a seu crédito filmes de curta e longa-metragem. Dirigiu anteriormente dois longas - Inverno, em super 8, e Verdes Anos, feito em parceria com Giba Assis Brasil e que é um marco das ansiedades da juventude de Porto Alegre nos anos 80. O curta Deus Ex Machina foi premiadíssimo nos Festivais de Gramado e Brasília.

Tolerância começou a surgir em 1995. Passada a fase inicial da retomada, o cinema brasileiro já contava com mecanismos de incentivo - leia-se Lei do Audiovisual. A Casa de Cinema queria produzir um longa. O assunto foi colocado em discussão. Gerbase tinha a idéia. Naquele mesmo ano, escreveu a primeira versão do roteiro. Em três anos, foram captados os recursos necessários, com a utilização da Lei do Audiovisual (Federal) e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

O filme está orçado em cerca de R$ 2 milhões. Os principais investidores são a Copesul, RGE, CRT, Banrisul, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Ferramentas Gerais e o Banco A.J. Renner. A Columbia vai distribuir Tolerância. A data estimada é 2 de novembro e a empresa fala em colocar mais de cem cópias no circuito nacional de exibição. Mas a Columbia, ao mesmo tempo em que está cheia de expectativa com relação a Tolerância, também está apreensiva. O filme tem duas cenas fortes de sexo, outra em que os personagens fumam maconha. Isso poderá dificultar o acesso do público mais jovem, na faixa dos 14 aos 18 anos.

Contexto - Não foi para chocar que Gerbase colocou essas cenas. Elas fazem parte do contexto, ajudam a explicar os personagens. Tolerância conta a história de um casal - ela, Maitê Proença, advogada, ele, Roberto Bontempo, editor de uma revista especializada em mulheres nuas. Foram jovens nos anos 60 a década que mudou tudo. Eram adeptos do amor livre, queriam mudar o mundo. Fizeram um pacto de tudo dizer um para o outro. A crise instala-se quando Maitê conta que dormiu com um cliente. "Já minto no tribunal, em casa quero sinceridade", ela explica ao marido. Bontempo, que tinha um pacto com a mulher prevendo liberdade sexual para ambos - herança do amor livre da geração de 60 -, surta e revela seu lado mais intolerante. Entra em cena uma garota, amiga da filha. Faz um jogo de sedução com o homem casado. Ele faz sexo com ela, numa cena forte, concretizando o que o herói de Beleza Americana, de Sam Mendes, não tinha coragem de fazer.

Gerbase sabe que será cobrado. Vão dizer que está imitando Beleza Americana. Defende-se dizendo que seu roteiro é muito anterior ao filme vencedor do Oscar deste ano. Não poupa elogios a Maitê. Reconhece que é uma canastrona, mas diz que nunca esteve tão boa no cinema. Maitê surgiu de uma exigência da Columbia, que queria um nome forte nacional no elenco. Gerbase não estava convencido de que ela pudesse fazer o papel. Um dia, chegou em casa e viu, ou melhor, ouviu Maitê numa entrevista. Descobriu outra mulher. Achou que tinha potencial. Enviou-lhe o roteiro. Ela disse que tinha de fazer o filme.

O roteiro é do próprio Gerbase com Jorge Furtado, Giba Assis Brasil e Álvaro Teixeira. Furtado, acostumado a escrever para a Globo, tentou persuadir o amigo a mudar o "tu" dos gaúchos, "com todos os nossos erros grosseiros de concordância", como diz Gerbase. Com o computador foi fácil, mas quando releu o roteiro Gerbase não reconheceu filme. Voltou ao "tu". "Tu vai fazer, tu disse." Maitê, treinada para falar desse jeito, sai-se muito bem.

Interessados em saber mais sobre Tolerância podem acessar o site do filme - www.tolerancia.com.br. Entre outras coisas ele traz um diário de filmagem e uma entrevista com Flávio Santos, ex-baixista da banda De Falla. Gerbase queria colocar muito rock gaúcho na trilha. Encontrou em Santos o parceiro ideal. A entrevista ocorre no início da tarde. Tem de terminar às 15 horas para que o repórter e Gerbase possam assistir a um curta por ele realizado. Interlúdio foi exibido no novo horário de curtas que a RBS, a Globo do Sul, criou às pressas para preencher um buraco na programação da rede.

O horário dos curtas gaúchos explodiu. É o único lugar do País em que a Globo vence toda a concorrência no horário. Interlúdio é ótimo. Entre duas grandes paixões, um rapaz vive um romance sem futuro - um interlúdio - com a caixa de um supermercado. Gerbase, que se baseou num conto de sua autoria, discute o amor como consumo. Interlúdio, como Deus Ex Machina, autoriza toda expectativa do mundo para Tolerância. O diretor mostra cerca de 20 minutos do filme em vídeo. O material promete. E Maitê, realmente, surpreende. É ótima, num registro diferente do artificialismo assumido de A Dama do Cine Shangai, de Guilherme de Almeida Prado, que permanece como seu melhor momento no cinema. (Agência Estado)

 

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