M1L Gr4u: páginas fazem sucesso zoando o cotidiano das periferias
Piadas sobre São Mateus e Mairiporã são exemplos de como o humor cria proximidade entre os moradores nas redes sociais
-1jyitfei0tl4j.jpg "As páginas adaptam memes para o humor bairrista e publicam piadas locais")
Capivara, lanche grego e monotrilho. Para quem vive na Grande São Paulo, essas são palavras comuns, mas para quem mora em São Mateus, na zona leste da capital, ou em Mairiporã, na região metropolitana do estado, são sinônimos de identidade. É com essa aproximação que as páginas São Mateus M1L Gr4u e Mairiporã M1L Gr4u aproveitam para fazer piadas e prestar serviços.
O supervisor de vendas André Abib, 41, é um dos administradores da São Mateus M1L Gr4u e conta que se inspirou na página São Mateus da Depressão para fazer piadas sobre o bairro Jardim Santo André, onde vive. Os conteúdos viralizaram e ele logo viu potencial para crescer, já que moradores de bairros próximos começaram a seguir a página.
“Em 2017, a Jardim Santo André M1L Gr4u já tinha 10 mil seguidores no Facebook. Tivemos a ideia de mudar para ‘São Mateus’, porque a gente continuaria fazendo os memes do bairro e poderia direcionar para outros lugares e fazer conteúdos virais”, relembra Abib.
No caso de Mairiporã não foi muito diferente. O publicitário Vinicius Roberto Dias, 27, recorda que começou a fazer postagens engraçadas sobre a cidade em um perfil pessoal antes de se tornar um dos administradores da Mairiporã M1L Gr4u.
“No começo não tinham muitas ferramentas no Facebook, então fui criando e pegando ideias de outras páginas, procurando no Google, linkando com comédias e programas de televisão, e assim foi indo”, conta.
Hoje a página de São Mateus tem 21 mil seguidores no Instagram e 157 mil no Facebook. Já a Mairiporã M1L Gr4u tem cerca de 3,6 mil seguidores no Instagram e 70 mil no Facebook.
Segundo Dias, o engajamento em Mairiporã é resultado de uma atenção com o que o público quer ver. “Moro no [bairro] Fernão Dias, sei o que as pessoas querem ouvir. A gente posta pequenas coisas, que as outras páginas não veem, então isso aproxima as pessoas porque tem o mesmo olhar que elas têm”, conta.
Para Abib, a maneira como a página de São Mateus brinca é o que conquista o público. “São dois pilares. É uma exaltação exagerada (com o monotrilho, por exemplo) e a gente bota os problemas de forma muito exagerada também, o que é uma maneira de protesto e traz engajamento porque é a realidade da maioria de quem mora aqui”, afirma.
Para criar a identificação com os públicos, as páginas São Mateus M1L Gr4u e Mairiporã M1L Gr4u usam objetos, animais e situações locais. Enquanto a conta de São Mateus fez uma paródia sobre o monotrilho do distrito, inaugurado em 2019, Mairiporã tem uma capivara como mascote.
“A capivara é o básico da cidade, por aqui tem muitas, e as crianças adoram. As capivaras ficam mais no parque linear. Adoro fazer postagens com elas, têm um alcance legal”, afirma Dias.
Além do monotrilho, a São Mateus M1L Gr4u criou o “símbolo nacional” do largo de São Mateus: o lanche grego. “A gente quis criar um símbolo culinário. Como o vendedor do lanche grego é um cara que está há muitos anos ali, faz parte da cultura do bairro, a gente quis exaltar o churrasco grego”, fala Abib.
Além do meme
As duas páginas não ficam restritas a postagens engraçadas. Muitas vezes rolam informações e cobranças ao poder público. Vinicius conta que muitas vezes são os próprios seguidores que encaminham as informações. “Transmito para o público o que eles mesmos me mandam”, afirma o publicitário.
Além da Mairiporã M1L Gr4u, ele também cuida das páginas Mairiporã Regional, Mairiporã em Pauta, TV Mairiporã, Mairiporã Urgente, o site Mairiporã Regional e um canal no YouTube.
Para gerenciar todo esse conteúdo, os administradores Márcio Bertolazzi, Nicolas Aleixo, Gabriel Ravier e Edmar Abreu trabalham de forma voluntária. A página também organiza eventos musicais, artísticos e mutirões de limpeza.
São Mateus M1L Gr4u também compartilha as notícias do bairro e contribui com serviços, como postagens sobre pessoas desaparecidas, documentos esquecidos e cachorros perdidos. “Com sabedoria para não prejudicar ninguém, nem o grupo”, esclarece Abib.
A página também criou o podcast Talkbrada, no YouTube, que teve a primeira temporada no meio deste ano e deve voltar em 2023. Além de André, o programa conta com a participação de Paulo Clayton Novais e Lucas Ferreira, também administradores da página.
Abib explica que o objetivo do podcast, assim como o da página, é exaltar as coisas boas de São Mateus. “O podcast foi criado nesse sentido: trazer a galera relevante e que deu certo em algum segmento para tirar esse estereótipo de coitadismo da periferia”, conclui o supervisor de vendas.
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