Veganos opinam sobre a carne cultivada em laboratório
O consumo de carne é um tema que envolve ética, paladar, exploração, convívio e destruição ambiental. A carne de laboratório é a solução?
A principal pauta dentro do veganismo é a luta contra a exploração animal. Ser vegano é estar disposto a lutar de diferentes formas pelos direitos dos animais e se opor de maneira prática a toda crueldade destinada aos seres de outras espécies. Nós nos consideramos antiespecistas, ou seja, lutamos para que todas as espécies sejam consideradas como importantes e passíveis de direitos.
Essa luta vem crescendo ano após ano, no mundo todo. Boas alternativas ao consumo animal estão surgindo mundo afora. É neste ponto que a carne de laboratório aparece. Vimos um boom dos hambúrgueres à base de plantas e outros alimentos que imitam carne, em qualquer mercado grande que entrarmos vai ter uma opção de hambúrgueres vegetais.
Mas a carne cultivada vai além de uma mera imitação de proteína vegetal. A carne cultivada é de fato carne, só que ao invés do abate ela é desenvolvida a partir de células-tronco em estufa. Nenhum animal precisa ser morto e a textura e o sabor são os mesmos. Isso é bom ou ruim? A resposta é complexa, indefinida e vai mudar de grupo para grupo.
Atualmente, a carne de laboratório está em processo de pesquisa e desenvolvimento. Todavia, se você estiver em Singapura, já é possível comprar e experimentar uma carne produzida a partir de células-tronco animal. Singapura é o único país que autorizou a comercialização. Os Estados Unidos seguem o mesmo caminho para a regulamentação e comercialização das carnes cultivadas.
Afinal, como são produzidas essas carnes? A carne é produzida por etapas. A primeira parte é a coleta de células-tronco de um animal doador (biópsia do tecido). Essas células têm grande capacidade de multiplicação. Em seguida, ocorre o cultivo e a expansão celular. Nesta fase as células são colocadas em um meio de cultura adequado e são fortalecidas com nutrientes. As células-tronco são mantidas em condições favoráveis ao crescimento, em condições ideais de temperatura e umidade.
A divisão celular é responsável pelo crescimento das células. Na fase seguinte, ocorre a diferenciação celular, as células imaturas são induzidas a se diferenciarem em células maduras. Os próximos passos são a montagem tridimensional, maturação e colheita.
Após a passagem das células-tronco maduras na montagem tridimensional, a maturação ocorre em um biorreator (circulação de ar e nutrientes). É neste processo que a carne vai sendo formada como a carne tradicional de abate. Após esses dois processos, as células-tronco são coletadas e transformadas em produtos como hambúrguer e filés.
De uma perspectiva prática, a carne de laboratório é excelente, pois temos uma população completamente condicionada ao consumo de carne. Então, para um processo de transição e visando a diminuição do sofrimento animal, pode ser uma boa alternativa, sobretudo se for um produto acessível a maior parte da população.
Por outro lado, precisamos questionar a logística, a viabilidade de produção e os impactos ainda não possíveis de medir. Além disso, será que realmente precisamos de carne de laboratório para ter uma alimentação prazerosa? Considerando que temos uma grande diversidade de alimentos vegetais.
É importante estimularmos o consumo de alimentos vegetais, principalmente em países com abundância, como o Brasil. A carne de laboratório no futuro pode ajudar de alguma forma, com certeza, mas precisamos repensar a nossa relação com a comida.
Sem contar que, a carne cultivada pode ser apenas uma alternativa de consumo e não ter uma mudança real no que diz respeito à exploração animal, isso pode gerar lucro para alguns e a morte de animais não diminuir como desejamos.
Por isso, é importante mantermos no horizonte a luta pelos direitos animais, com base na propagação de informação (gerando consciência) e em termos de alternativas ao consumo animal, o ideal é focar em alimentos in natura, em preparos caseiros, temperos naturais, comida de verdade.
Além de tudo isso, a luta por um sistema econômico e modo de produção que não trate o mundo, os animais e as pessoas como mercadoria e recurso é outro fator importante a ser considerado quando tratamos do fim da exploração animal, consumo e alternativas de fato sustentáveis.