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Terezinha e Sandra   Foto: Acervo Pessoal

Filha única, ela sofreu sozinha com Alzheimer da mãe: ‘Queria que tudo fosse um pesadelo’

No Dia de Conscientização da Doença de Alzheimer, leia um relato exclusivo em Terra Você sobre a causa mais comum de demência no mundo

Imagem: Acervo Pessoal
  • Erem Carla Erem Carla
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21 set 2024 - 05h01
(atualizado em 23/9/2024 às 10h02)

A engenheira civil Sandra Ribeiro, de 40 anos, precisou lidar sozinha com o diagnóstico de Alzheimer da sua mãe, Terezinha Ribeiro, de 81 anos. Em relato a repórter Erem Carla, ela conta sua jornada ao assistir a doença atingir a pessoa que mais ama no mundo. 

"Minha mãe, Terezinha Ribeiro, está prestes a completar 82 anos. A reação inicial ao descobrir que ela estava com Alzheimer foi de desespero. Simplesmente não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Eu tentava de todas as formas fazer com que ela se lembrasse das coisas, que não perdesse as memórias que estava começando a esquecer. Foi extremamente difícil. 

Minha mãe, sempre tão engajada, morava no interior e eu frequentemente a visitava. Ver que ela não estava mais alegre e ativa, fazendo as coisas que gostava, foi muito duro para mim. 

Queria que tudo fosse apenas um pesadelo. 

No entanto, não demorou muito para que eu precisasse aceitar a realidade. Quando minha mãe desenvolveu a doença, os médicos aconselharam que ela não ficasse mais sozinha, dado que as condições em sua cidade no interior eram limitadas em termos de profissionais capacitados e recursos disponíveis para auxiliá-la. Sua única irmã viva, também já idosa, não tinha condições de ajudar. 

Fiz o possível para contratar cuidadoras, que na maioria das vezes eram trabalhadoras domésticas dispostas a oferecer assistência. Inicialmente, a situação era mais gerenciável: ela esquecia algumas coisas, mas ainda conseguia andar e falar.

No início, foi especialmente difícil lidar com a aceitação de que minha mãe não estava mais completamente lúcida e disponível para mim devido à progressão de sua doença. Nos primeiros anos, ainda conseguíamos ter algum tipo de comunicação; nos primeiros três ou quatro anos, ela ainda falava, apesar dos esquecimentos e da impossibilidade de ficar sozinha. 

Nesses momentos, quando eu estava triste e precisava de consolo, ou quando queria desabafar algo, ela ainda respondia. Podia ser que ela esquecesse logo depois ou se confundisse, mas ainda conseguíamos dialogar e ter essa troca significativa.

Com o avanço da doença, essa capacidade de troca foi gradativamente diminuindo e, hoje, infelizmente, não existe mais.

Em dezembro de 2019, durante o Natal, minha mãe sofreu um mal súbito, sendo internada e entubada no CTI, o que acelerou o avanço da doença. Ao retornar do hospital, o quadro dela havia se agravado consideravelmente. Ela estava mais confusa e não conseguia mais realizar atividades básicas, como ir ao banheiro, tomar banho ou se alimentar sem auxílio. 

A pessoa que estava cuidando dela me informou que não tinha mais condições de cuidar da minha mãe no estado em que ela estava. Isso foi desesperador e representou o momento mais difícil para mim, pois precisava encontrar uma solução sem querer recorrer à internação, algo contra o qual eu tinha preconceitos. 

Lidei com momentos de culpa por não poder estar mais presente com ela, por não conseguir vê-la todos os dias devido ao meu trabalho. Havia momentos em que eu realmente desejava estar ao lado dela diariamente, mas minha rotina não permitia. 

Sentindo-me sozinha e sem apoio familiar, busquei conselhos de amigos e explorei opções em Belo Horizonte. Finalmente, tomei a decisão de colocá-la em uma casa especializada, e hoje, refletindo sobre tudo, percebo que meu receio inicial era apenas um preconceito.

Ser filha única nesta situação é bastante complicado. Não tenho com quem dividir a responsabilidade, seja em procedimentos médicos ou internações. Eu faço terapia, o que considero essencial, principalmente nestas circunstâncias, pois realmente ajuda. Também tento manter uma visão positiva sobre tudo.

Filha única, Sandra aprendeu a viver com o diagnóstico da mãe
Filha única, Sandra aprendeu a viver com o diagnóstico da mãe
Foto: Acervo Pessoal

Apesar de estar sozinha, acredito que Deus me ajuda e que as soluções aparecem. Essa positividade é o que me fortalece, permitindo que ajuda chegue de outras formas, mesmo que eu me sinta só.

Eu faço o que posso, tentando ajudar da melhor maneira dentro das minhas condições e limitações atuais. Estou dando o máximo que consigo, e acredito que isso seja o melhor que posso fazer por ela neste momento. Tenho certeza de que, no fundo, ela compreende isso.

O conselho que dou para quem tem familiares enfrentando essa situação é buscar apoio psicológico. Para mim, foi essencial; talvez eu não tivesse conseguido lidar tão bem sem essa ajuda, considerando o fato de eu ser sozinha. Se isso não for possível, crie uma rede de apoio que possa sustentar você tanto emocionalmente quanto em situações de emergência.

O familiar é quem mais sofre, pois o paciente, estando em um estado onde muitas vezes não tem consciência do que está acontecendo, não sente o peso da situação da mesma forma. 

Atualmente, minha mãe não fala e nossa interação se dá mais por meio de olhares e carícias, refletindo o estágio final da doença. Apesar de não haver resposta verbal dela, acredito que, no coração, ela ainda escuta e compreende tudo o que eu digo.

Sou solteira, não tenho marido nem filhos para me respaldar, o que se tornou um fator agravante ao não ter minha própria família durante este processo, impactando profundamente meu estado psicológico. A terapia foi e continua sendo fundamental.

Algo que adotei em minha vida foi a prática do pensamento positivo. Parei de me lamentar ou reclamar excessivamente. Parto do princípio de que, se é algo que não posso mudar — considerando que a condição é progressiva e incurável —, devo encontrar a melhor maneira de conviver com isso.

Continuo com minhas atividades regulares e não me considero uma pessoa triste ou depressiva. Pelo contrário, estou sempre ativa no trabalho e socialmente engajada. Saio para passear, viajar, rir e interagir com amigos. A atividade física também tem sido uma grande aliada para manter meu bem-estar.

Minha mãe é hoje o pilar mais forte que me sustenta. Apesar de não conseguir mais expressar seu amor e apoio em palavras ou estar fisicamente próxima, sinto sua presença constante em minha vida. Ela está comigo nos momentos decisivos, nas tristezas e alegrias, compartilhando cada instante ao seu modo. 

Ela é a única família que tenho hoje, e isso a torna ainda mais fundamental para mim.

Saber que ela está viva me dá muita força para seguir em frente. Ela é minha base e minha sustentação, mesmo sabendo que sua doença é progressiva. Para mim, ela continua sendo uma presença muito viva e essencial."

Fonte: Redação Terra Você
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